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Líder catalão critica rei e pede mediação, mas mantém planos de independência

O presidente da Catalunha Carles Puigdemont voltou a afirmar nesta quarta-feira (4) que irá declarar independência da região - Reuters
O presidente da Catalunha Carles Puigdemont voltou a afirmar nesta quarta-feira (4) que irá declarar independência da região Imagem: Reuters

Do UOL, em São Paulo

04/10/2017 16h38

O presidente da Catalunha, Carles Puigdemont, voltou a pedir, nesta quarta-feira (4), por uma mediação internacional para a disputa da região com o governo espanhol e afirmou que irá declarar a independência da região nos próximos dias, respeitando o resultado do referendo realizado no último domingo.

"Este momento exige mediação. Recebemos várias ofertas nas últimas horas e receberemos mais. Todos sabem que estou pronto para iniciar um processo de mediação", afirmou o líder catalão, em discurso televisionado.

"Vou repetir tantas vezes quanto for necessário: diálogo e acordo fazem parte da cultura política do nosso povo. No entanto, o Estado não deu nenhuma resposta positiva a essas ofertas."

O governo espanhol, no entanto, rejeitou o pedido de mediação internacional enquanto o presidente da Catalunha, Carles Puigdemont, continuar ameaçando declarar a independência. "Se o senhor Puigdemont quer falar ou negociar, ou quer enviar mediadores, sabe perfeitamente o que deve fazer antes: voltar ao caminho da Lei, que nunca deveria ter abandonado", afirmou um comunicado do governo.

É esperado que Puigdemont declare independência na próxima segunda (9), quando deve comparecer perante o Parlamento catalão para avaliar os resultados do referendo. "Em função do desenvolvimento da reunião, poderia ocorrer a declaração de independência", explicou uma fonte do governo regional.

Puigdemont também criticou o rei Filipe 6°, dizendo que ele decepcionou muitos catalães que esperavam que ele estivesse "aberto ao diálogo e à concórdia". Em pronunciamento televisivo na terça-feira (3), o monarca espanhol acusou o governo da Catalunha de "descumprir" a Constituição e promover uma "fratura" na sociedade catalã. Ignorando a violência policial contra os eleitores do plebiscito, o rei ainda chamou de "irresponsável a proposta separatista das autoridades da Catalunha.

Para o líder catalão, o discurso de Filipe 6° endossou "as políticas do governo de Mariano Rajoy, que têm sido catastróficas com relação à Catalunha". Para Puigdemont, o monarca "ignora deliberadamente milhões de catalães que não pensamos como eles" e que "foram vítimas de uma violência policial que gelou o coração de meio mundo". 

Diálogo

A Eurocâmara pediu "diálogo", nesta quarta-feira (4), diante da crise aberta na Espanha com o referendo de independência na Catalunha, ao mesmo tempo em que a Comissão Europeia justificou o uso da força em alguns momentos para garantir "a supremacia do Direito".

Os eurodeputados dos principais grupos também pediram às autoridades da Catalunha que evitem uma declaração unilateral de independência, cuja adoção, segundo o porta-voz dos social-democratas Gianni Pittella "colocaria mais lenha na fogueira". 

Entenda a crise entre Barcelona e Madri

Se de fato ocorrer, declaração dos separatistas será o ápice de um mês de embate político, judicial e policial entre Barcelona e Madri. Uma cronologia dos dias que levaram a democracia espanhola à maior crise em décadas.

A Espanha enfrenta uma situação inédita com a iminente declaração de independência da Catalunha, tema que será discutido na próxima segunda-feira (9) no Parlamento regional. Se de fato ocorrer, a declaração dos separatistas será o ápice de um mês de um embate político, judicial e policial entre Barcelona e Madri.

6 de setembro: O Parlamento catalão aprova, em sessão tumultuada, a Lei do Referendo, que regulamenta a consulta popular pela independência da região. A oposição abandonou o plenário, acusando diversas irregularidades nos trâmites. Horas mais tarde, Carles Puigdemont e os membros de seu gabinete assinaram a convocatória para o referendo, no dia 1º de outubro.

7 de setembro: O Tribunal Constitucional, atendendo a um pedido do governo espanhol, suspende, por medida cautelar, a convocatória e a lei que regulamenta o referendo.

8 de setembro: A Guarda Civil espanhola denuncia uma gráfica na Catalunha que supostamente preparava material para o referendo. Esta foi a primeira de muitas operações policiais contra a organização e a logística da consulta popular, motivando os primeiros protestos de seus apoiadores nas ruas.

11 de setembro: Centenas de milhares de pessoas marcham pelas ruas de Barcelona em defesa do referendo na ocasião do chamado La Diada, o dia nacional da região, utilizado nos últimos anos como plataforma para os clamores pela ruptura com a Espanha.

12 de setembro: O Tribunal Constitucional suspende outra lei essencial para o processo de independência, a chamada Lei de Transitoriedade Jurídica, acatando outro recurso do governo em Madri.

13 de setembro: A promotoria pública afirma que investiga mais de 700 prefeitos catalães que expressaram apoio ao referendo. A Justiça fecha um portal de internet da Generalitat – o governo catalão – que informava sobre a consulta popular, fazendo com que a internet se torne mais um ponto de conflito ente Barcelona e Madri.

15 de setembro: O governo de Rajoy suspende pagamentos ao governo catalão a fim de evitar que esses recursos sejam utilizados para financiar o referendo.

20 de setembro: Na maior operação contra a organização do referendo, a Guarda Civil espanhola realiza buscas em vários escritórios da Generalitat, confiscando dez milhões de cédulas de votação e prendendo 14 pessoas, incluindo diversos funcionários de alto escalão. Dias depois, eles seriam libertados sob fiança. O governo Rajoy dá por "desmantelado" o referendo.

21 de setembro: O Tribunal Constitucional estabelece multa de 12 mil euros ao dia aos presos e aos membros da sindicatura eleitoral, um órgão criado para atuar como a junta eleitoral do referendo. Seus integrantes renunciam pouco depois, deixando a votação sem um órgão de supervisão e contagem de votos.

23 de setembro: A promotoria ordena que todas as forças de segurança, incluindo a polícia autônoma da Catalunha, sejam coordenadas pelo Ministério do Interior em Madri, como forma de garantir as atuações contra o referendo.

1º de outubro: O referendo ocorre em uma jornada bastante tumultuada, marcada por enfrentamentos entre eleitores e policiais que tinham ordens de fechar os locais de votação. Segundo informações do governo catalão, quase 900 pessoas precisaram de atendimento médico.

O "sim" à ruptura com a Espanha ganha por 90% dos votos, segundo a contagem feita pela Generalitat. Isso se deve, em parte, ao fato de que muitos partidários do "não" se recusaram a fazer campanha ou votar. Rajoy diz que este foi um "referendo de autodeterminação" e pede às autoridades catalãs que não insistam no erro que cometeram.

3 de outubro: Entidades separatistas e sindicatos minoritários convocam uma greve geral em resposta à truculência policial durante o referendo. Centenas de milhares de pessoas participam de manifestações.

O rei Felipe 6º envia uma mensagem contundente em pronunciamento televisionado alertando sobre a "extrema gravidade" da contestação separatista e pede ao Estado que assegure a "ordem constitucional e o funcionamento normal das instituições", enviando um sinal de apoio a qualquer medida adotada pelo governo Rajoy.

4 de outubro: o Parlamento catalão convoca para o dia 9 uma reunião para analisar os próximos passos do processo pela soberania da região, incluindo uma possível declaração unilateral de independência. O governo em Madri alerta que usará de "todos os meios" ao seu alcance.

(com agências de notícias)