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Iraquianos encontram armadilhas explosivas ao voltarem para suas casas em Mossul

25.mar.2017 - Família faz limpeza após retornar para casa. O local sofreu estragos após a explosão de um carro-bomba usado pelo Estado Islâmico, em Mossul, Iraque - Ivor Prickett/The New York Times
25.mar.2017 - Família faz limpeza após retornar para casa. O local sofreu estragos após a explosão de um carro-bomba usado pelo Estado Islâmico, em Mossul, Iraque Imagem: Ivor Prickett/The New York Times

18/10/2017 11h33

Iraquianos que estão voltando aos seus lares em Mossul, depois de anos de violência, se deparam com armadilhas explosivas montadas em suas casas e com uma cidade inabitável, de acordo com Médicos Sem Fronteiras (MSF). A destruição de edifícios e da infraestrutura significa que as famílias que estão retornando, principalmente ao oeste de Mossul, acabam tendo que viver em casas parcial ou totalmente destruídas, praticamente sem acesso a água limpa, eletricidade ou cuidados médicos.

Dispositivos explosivos não detonados e armadilhas já mataram e feriram muitos que voltaram a Mossul. Nos últimos dias, dois adolescentes de uma família de cinco pessoas foram mortos enquanto tentavam remover um foguete que foi armado para explodir na sala de sua casa, no oeste de Mossul. Em outra parte da cidade, uma bebê foi morta e seu irmão mais velho ficou ferido depois que ela pegou um brinquedo recheado de explosivos. A família havia acabado de voltar para casa pela primeira vez desde o fim do conflito no oeste de Mossul.

Com muitas instalações médicas ainda destruídas e com estradas e pontes danificadas e inutilizáveis, o acesso da população a serviços de saúde está gravemente limitado.

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Os que precisam de cuidados básicos muitas vezes são obrigados adiar a ida aos poucos centros de saúde em funcionamento, de modo que problemas de saúde facilmente tratáveis se agravam a ponto de se tornar letais. Ao mesmo tempo, as poucas ambulâncias em operação enfrentam grandes atrasos no caminho até os pacientes porque ficam presas no trânsito ou são obrigadas a fazer longos desvios.

"Para muitas pessoas, a sonhada volta para casa está sendo amarga, já que elas se deparam com níveis assustadores de destruição e com uma miséria aparentemente interminável", diz Myriam Burger, coordenadora de projeto de MSF no oeste de Mossul, que foi o palco de uma batalha brutal entre o grupo autoproclamado Estado Islâmico (EI) e forças iraquianas e seus aliados no início deste ano. "Para os que estão esgotados pelos anos de violência no Iraque, é mais um obstáculo a superar."

"O que vemos em nossas unidades médicas são sinais indicativos das condições de vida enfrentadas do lado de fora", diz Burger.

"Até recentemente, ainda recebíamos pacientes com ferimentos decorrentes da guerra, mas, conforme mais pessoas começaram a voltar para casa, começamos a ver um grande aumento no número de pacientes sofrendo de infecções gastrointestinais após beber água ou comer alimentos contaminados devido à falta de eletricidade e gás para refrigeração e cozimento. As crianças, principalmente, estão desenvolvendo erupções e outros problemas cutâneos, devido à falta de higiene e ao hábito de brincar próximo à água de esgoto que sai do encanamento danificado", afirma Burger.

As equipes médicas de MSF também estão tratando um número crescente de pacientes picados por escorpiões e cobras, já que as pessoas estão vivendo em casas com canos quebrados e fossas sépticas danificadas. Crianças já foram tratadas para traumatismos sofridos depois de caírem, de cima de telhados, sobre blocos de cimento e vigas de ferro.

Apesar de todas essas dificuldades, lojas e comércios em Mossul estão voltando a abrir lentamente, mesmo em construções parcialmente destruídas. Caminhões de cimento começam a ser vistos nas ruas, e vizinhos trabalham em conjunto para construir seus bairros, casa por casa.