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Crise na Venezuela impulsiona jogos de azar

Andreina Aponte

Da Reuters, em Caracas (Venezuela)

08/11/2017 13h37

Os jogadores formam uma fila ao lado de um pequeno quiosque em um bairro pobre para escolher animais em um jogo de loteria que se tornou uma febre na Venezuela, mesmo quando o país, que é rico em petróleo, passa por um quarto ano de recessão brutal.

Parece que cada vez mais venezuelanos estão se voltando para o jogo em seu desespero para chegar ao fim da crise econômica sem precedentes do país.

Apesar de, em geral, mais pessoas perderem do que ganharem, a ilusão de ficar rico em um dia se tornou mais atraente, uma vez que os venezuelanos sofrem com a maior inflação do mundo, a falta de produtos básicos, da farinha até baterias de carros e a diminuição dos salários em termos reais.

Mahi Nieves, que criou uma agência de loteria clandestina em casa, disse que jogar ajuda as pessoas a comprarem comida. "Ele [o jogo de azar] gera muito dinheiro, levando em conta a situação do país. Um monte de gente joga. A loteria de animais é um fenômeno. Isso nos ajuda a comprar comida, resolver problemas que não conseguimos com nosso salário normal", diz.

No entanto, o sociólogo Ramon Pinando, disse que jogar pode ser inútil porque os ganhos na loteria também estão sendo desvalorizados.

"Em tempos de inflação muito alta, quando economistas começam a dizer que você está a beira da hiperinflação, as pessoas pensam: 'espero ser capaz de ganhar algo, mesmo que não seja muito, mas para agora, para gastar agora, porque eu não posso esperar muito'. Se eu ganhar na loteria uma quantidade que só ganharia em meses e mesmo assim após cinco ou seis meses, por causa da inflação, esse dinheiro vai desvalorizar, porque o prêmio das loterias também vão ser afetados", diz Pinando.

A última escassez na Venezuela é o dinheiro -- as autoridades não conseguem produzir notas suficientes para acompanhar a inflação vertiginosa – muitos bares, lojas e salões de apostas mudaram rapidamente de caixas para transações eletrônicas para manter o fluxo de dinheiro.

Essa tendência atingiu o hipódromo de Caracas, onde o dinheiro ainda é rei. Milhares ainda vão para lá nos finais de semana, se empurrando contra as cercas na frente da pista de areia para animar seus cavalos enquanto músicas de salsa tocam ao fundo.

Entre as múltiplas opções que vão desde corridas até salões de apostas clandestinos, os "Los Animalitos", estilo de jogo de roleta, é atualmente de longe o jogo mais popular nas ruas.

O jogo Animalitos, cujos resultados são divulgados no YouTube em horários programados, é extremamente popular, porque ele passa por várias rodadas, prendendo o interesse das pessoas e proporciona mais chances de ganhar do que as opções de apostas mais tradicionais.

O bilhete mais barato custa apenas 100 bolivares – cerca de R$ 0,80.

Não existem dados concretos sobre os números de apostas, e o regulador de apostas do governo não respondeu pedidos da Reuters para mais informações. Mas aqueles por trás das empresas de jogo da Venezuela, administrados por uma mistura de empresas privadas e autoridades regionais locais, disseram que o comércio estava crescendo, com filas mais longas e ocupadas do que nunca, por causa, não obstante, dos tempos difíceis.