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Iranianos relatam falta de água e comida e dormem na rua com medo de novo terremoto

Do UOL, em São Paulo

13/11/2017 10h26Atualizada em 13/11/2017 13h08

Os moradores de Sarpol-e Zahab, no Irã, passaram a noite fora nas ruas temendo um novo terremoto na região da província de Kermanshah, após o tremor deste domingo (12) que deixou mais de 400 mortos somente nesta localidade.

O número de mortos na fronteira do Irã com o Iraque, região predominantemente curda, é de 414 até agora, sendo 407 no Irã e sete no Iraque; há mais de 6.000 feridos nos dois países.

O terremoto foi registrado no domingo às 18h18 locais (16h18 de Brasília), tendo como epicentro um ponto a 30 quilômetros ao sudoeste da cidade de Halabja, na província iraquiana de Suleimaniya, perto da fronteira. O tremor aconteceu a uma profundidade de 25 km. Mais de 100 réplicas foram relatadas.

Os principais hospitais da cidade foram severamente danificados, o que complicou o atendimento aos feridos em Sarpol-e Zahab, que fica a 15 km da fronteira. Ao menos oito vilarejos foram atingidos, segundo a organização humanitária Crescente Vermelha do Irã.

O trabalho das equipes de resgate está sendo prejudicado por cortes de energia, interrupção do sistema de telecomunicação e riscos de desabamento. Os bombeiros passaram a noite em buscas de sobreviventes.

A área é uma região rural, montanhosa, onde os residentes dependem basicamente da agricultura para sobreviver. O Irã está localizado sobre falhas geológicas e é propenso a terremotos.

O jornal oficial do governo do Irã publicou um vídeo em que um morador de Sarpol-e Zahab reclama de falta de água, comida e apoio das autoridades após o terremoto.

"Não houve ajuda ainda, nem comida ou água, roupas, barracas, não há nada", disse o homem, diante de prédios desabados. "Não há um lugar para se abrigar. Dormimos fora de casa na noite passada. Nossa eletricidade, água, gás e linhas de telefone não funcionam. Toda a cidade está destruída", relatou.

O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, ofereceu suas condolências na manhã desta segunda-feira e pediu aos socorristas e às agências governamentais que façam todo o possível para ajudar os afetados. A agência semioficial de notícias Ilna reportou que ao menos 14 províncias no Irã foram afetadas pelo terremoto.

Autoridades da região afirmaram que três acampamentos de emergência estão sendo montados. Quase 30 equipes da Crescente Vermelho foram enviadas para as áreas afetadas, segundo a agência estatal Irna.

De acordo com o site da rádio e televisão estatal, as escolas permanecerão fechadas nas províncias de Kermanshah e Ilam.

12.nov.2017 - Mapa do USGS (Serviço Geológico dos Estados Unidos) mostra local do epicentro de terremoto que atingiu a fronteira entre Irã e Iraque - Reprodução/USGS - Reprodução/USGS
Mapa do Serviço Geológico dos EUA mostra local do epicentro de terremoto
Imagem: Reprodução/USGS

Terremoto foi sentido até na costa do Mediterrâneo

O tremor foi sentido no Irã, Iraque, Turquia e até em locais mais distantes, como a costa do Mediterrâneo e Israel. Nesses locais, no entanto, não houve registro de ocorrências graves até agora. Na cidade turca de Diyarbakir, os habitantes saíram de suas casas durante o terremoto, mas retornaram pouco depois.

Em Bagdá, o terremoto foi sentido por cerca de 20 segundos. "Eu estava jantando com meus filhos e de repente o prédio estava dançando no ar. Primeiramente eu pensei que fosse uma bomba enorme. Aí eu ouvi todo mundo gritando 'terremoto'", disse Majida Ameer, mãe de três filhos em Bagdá, à agência Reuters.

O repórter da BBC Rami Ruhayem, que estava em Irbil, no Iraque, relatou que os tremores duraram mais de um minuto. "Por alguns segundos não dava para identificar o que era, não tinha certeza se era um tremor pequeno ou apenas minha imaginação", disse. "Mas logo não havia mais dúvida, já que o prédio começou a balançar de um lado para o outro."

O canal de TV curdo Rudaw estava em uma transmissão ao vivo quando o terremoto começou. A emissora divulgou no Twitter um vídeo mostrando a reação de um apresentador e de um convidado aos tremores.

Histórico de tremores

A ocorrência de terremotos no Irã é grande porque o território do país está sobre o encontro de duas placas tectônicas.

Em 2003, um terremoto na cidade de Bam, província de Kerman (sudeste do Irã) matou 31.000 pessoas e a cidade ficou praticamente destruída.

Em abril de 2013, dois terremotos foram registrados no Irã, com poucos dias de intervalo, de magnitude 6,6 e 7,7, o mais forte no país desde 1957. Os tremores deixaram 40 mortos no Irã e um número similar no Paquistão.

Em junho de 1990, um terremoto de 7,4 graus no Irã, perto do mar Cáspio (norte), deixou 40.000 mortos e mais de 300.000 feridos, além de meio milhão de desabrigados. Em poucos segundos, uma superfície de 2.100 quilômetros quadrados, onde ficavam 27 cidades e 1.871 vilarejos nas províncias de Ghilan e Zandjan, ficou devastada. (Com agências internacionais)