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Protestos pelo mundo marcam "dia de fúria" contra decisão de Trump sobre Jerusalém

Do UOL, em São Paulo

08/12/2017 10h15Atualizada em 08/12/2017 17h27

Muçulmanos de várias partes do mundo protestam nesta sexta-feira (8) contra a decisão do presidente dos EUA Donald Trump de reconhecer Jerusalém como capital de Israel. A segurança foi reforçada diante de representações diplomáticas dos EUA e de Israel em diversos países. Em Israel, a polícia aumentou sua presença em Jerusalém. Há registros de confrontos nos territórios palestinos. Pelo menos uma pessoa morreu nos confrontos.

Um palestino morreu após ser atingido por tiros do exército israelense nesta sexta-feira na faixa de Gaza durante manifestações contra o reconhecimento pelos Estados Unidos de Jerusalém como a capital de Israel, informou o ministério da Saúde do enclave palestino. Mahmud al-Masri, de 30 anos, morreu a leste Khan Yunes quando protestava perto da barreira de segurança de Israel com a faixa de Gaza. Ele é o primeiro palestino a ser morto durante manifestações contra a decisão americana.

Mais cedo, o ministério de Saúde chegou a anunciar a morte de uma segunda vítima, mas posteriormente voltou atrás na informação e garantiu que o homem, atingido por um tiro na cabeça, está vivo. Seu estado de saúde é considerado gravíssimo. O porta-voz do ministério, Ashraf al-Qudra, explicou que o jovem, cujo coração parou de bater, foi declarado morto, mas os médicos conseguiram reanimá-lo no hospital.

Grupos palestinos convocaram protestos para esta sexta, o que foi chamado como "dia de fúria". O grupo islâmico Hamas, que controla a faixa de Gaza, pediu que palestinos iniciem uma nova rebelião, conhecida como "intifada".

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Centenas de manifestantes entraram em confronto com as forças de segurança israelenses nas cidades de Hebron, Belém e Ramallah, todos na Cisjordânia, durante a tradicional oração de sexta-feira na cultura islâmica. Manifestantes atiraram pedras e as tropas israelenses responderam com gás lacrimogêneo e balas de borracha.

Em Gaza, centenas de manifestantes tomaram as ruas e marcharam em protesto contra os EUA. Palestinos que faziam oração também protestaram do lado de fora da mesquista Al Aqsa, em Jerusalém.

Segundo informações do Crescente Vermelho palestino, mais de 200 pessoas ficaram feridas nos confrontos na Cisjordânia. Em Gaza, há pelo menos 15 feridos.

Em tempos de tensão entre Israel e palestinos, casos de violência têm acontecido com frequência após as orações de sexta-feira no complexo de Jerusalém onde está localizada a mesquita Al Aqsa, no topo de uma montanha conhecida por muçulmanos como Nobre Santuário e por judeus como Monte do Templo. Muitas vezes, Israel impôs restrições para acessar o local quando estava antecipando confrontos.

O secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, disse nesta sexta-feira que os Estados Unidos "provavelmente" não vão transferir a embaixada americana em Israel de Tel Aviv para Jerusalém antes de dois anos. "Não é uma coisa que vai acontecer este ano, nem provavelmente o próximo ano, mas o presidente [Donald Trump] quer que avancemos de maneira muito concreta e resoluta", disse após um encontro com o chanceler francês, Jean-Yves Le Drian, em Paris.

Centenas de iranianos participaram de protestos por todo o país nesta sexta-feira para condenar a decisão de Trump, segundo a TV estatal. Líderes do Irã, onde a oposição a Israel e apoio à causa palestina tem sido central para a política externa desde a revolução islâmica de 1979, criticaram a decisão de Trump, incluindo seu plano de transferir a embaixada dos EUA para Jerusalém.

A TV estatal transmitiu imagens de manifestantes entoando "morte à América" e "morte a Israel", segurando bandeiras palestinas e cartazes com os dizeres: "Quds pertence aos muçulmanos", usando o nome árabe para a cidade. Em diversos locais, manifestantes queimaram imagens de Trump, relatou a mídia iraniana.

O Irã considera que a Palestina compreende toda a Terra Santa, incluindo o Estado judeu, que não reconhece. Teerã tem pedido repetidamente pela destruição de Israel e apoiado diversos grupos militantes islâmicos em sua luta contra o país.

A oposição à decisão de Trump uniu facções iranianas pragmáticas e de linha-dura, com o presidente pragmático, Hassan Rouhani, e comandantes da Guarda Revolucionária do Irã convocando iranianos a participar de manifestações nacionais do "dia de fúria".

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Palestino lança pedra contra forças israelenses durante confronto em Ramallah, na Cisjordânia
Imagem: Mohamad Torokman/ Reuters

Na Jordânia, os manifestantes gritavam "Jerusalém é árabe" e "América é a cabeça da cobra" durante protesto em Amã. Imagens do rei jordaniano Abdullah II e da mesquita Al Aqsa eram carregados pelos manifestantes. O país tem uma relação especial com Jerusalém. Seu monarca é o guardião religioso da mesquita muçulmana e o reino tem uma grande população palestina.

Manifestantes também foram às ruas no Egito. No Cairo, após as orações, muçulmanos fizeram protesto com gritos de "nós sacrificamos nosso sangue e alma pela Palestina" e "abaixo Israel".

Mais de 5.000 pessoas participaram de protesto perto do campo de refugiados palestino de Chatilla, no Líbano. O grupo marchou até um cemitério onde centenas de palestinos estão enterrados. O campo de Chatilla foi palco de massacre de centenas de libaneses e palestinos durante a invasão de Israel ao Líbano em 1982.

Na Indonésia, alguns manifestantes queimaram a bandeira americana em frente à embaixada em Jacarta onde se reuniram levando cartazes e bandeiras da Palestina.

"A Nahdlatul Ulama (NU) condena Estados Unidos e Israel por invadir a cidade de Jerusalém", afirmava um dos cartazes em Jacarta da NU, a maior organização independente muçulmana da Indonésia - o país com maior número de seguidores do islã. Em Surabaya, a segunda maior cidade do país em número de habitantes, outros grupos se concentraram em frente ao consulado americano.

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Soldados israelenses detêm palestino na cidade velha de Jerusalém
Imagem: Thomas Coex/ AFP

Na capital da Malásia, pelo menos mil pessoas gritaram palavras de ordem contra Trump e queimaram figuras e fotos do governante perto da embaixada dos EUA, segundo o jornal "Malasiakini".

O protesto em Kuala Lumpur contou com a participação de líderes e membros do partido governante Organização Nacional para a Unidade da Malásia (UMNO), grupos que representam a maioria de etnia malaia e religião muçulmana e ONGs islâmicas.

Como consequência dos protestos, as embaixadas americanas em ambos países pediram aos seus cidadãos que tomem precauções e "evitem áreas de manifestações".

A polícia da Turquia aumentou as medidas de segurança nas representações diplomáticas de Israel e dos Estados Unidos no país. As representações diplomáticas dos dois países em Ancara e Istambul foram cercadas com barreiras metálicas, enquanto agentes e veículos antidistúrbios estão posicionados ao redor dos prédios.

Milhares de pessoas foram às ruas em Istambul contra o reconhecimento pelos Estados Unidos de Jerusalém como a capital de Israel. "Jerusalém é nossa honra" e "abaixo os Estados Unidos, abaixo Israel" eram lidos em alguns cartazes dos manifestantes, reunidos após a oração de sexta-feira na mesquita de Fatih, no centro da cidade turca.

Antes de partir ontem para a Grécia em viagem oficial, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, se dirigiu a uma multidão reunida no aeroporto de Ancara. "Fazer isso é lançar a região em um círculo de fogo", disse Erdogan, se referindo à decisão do presidente dos EUA, Donald Trump, ao qual acusou de não respeitar as decisões da ONU.

Trump anunciou na quarta-feira o reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel e prometeu a transferência da embaixada de Tel Aviv para esta cidade, após décadas de consenso internacional que condicionavam a decisão a um acordo de paz.