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O que se sabe até agora sobre o livro explosivo cuja publicação Trump tenta impedir

Donald Trump e Steve Bannon, que concedeu entrevista para o livro de Wolff  - Carlos Barria/Reuters
Donald Trump e Steve Bannon, que concedeu entrevista para o livro de Wolff Imagem: Carlos Barria/Reuters

Do UOL, em São Paulo

04/01/2018 19h06

O presidente dos EUA, Donald Trump, mobilizou seus advogados para impedir a publicação de um livro sobre o seu primeiro ano na Casa Branca. A obra "Fire  and  Fury: Inside  the Trump White House (Fogo e Fúria: Dentro da Casa Branca de Trump)", de Michael Wolff, será lançado oficialmente nesta sexta, mas já circula entre jornalistas, como nas redações dos jornais "NYT" e "Guardian".

Os trechos já divulgados falam que o presidente norte-americano não esperava ganhar a eleição, não gostou da posse e teria planos para sua filha ou o genro na Presidência. A Casa Branca afirmou que o livro está cheio de informações falsas, mas seu conteúdo causou mal-estar.

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Wolff afirma que seu livro tem como base cerca de 200 entrevistas feitas com profissionais da Casa Branca e da equipe da campanha presidencial de Trump, incluindo o ex-estrategista-chefe da Casa Branca e ícone da extrema-direita, Steve Bannon.

Veja alguns trechos já destacados pela imprensa internacional antes do lançamento do livro:

Ivanka presidente

A filha do presidente e o seu marido, Jared Kushner, teriam um acordo sobre qual dos dois um dia ocuparia a presidência. "Entre eles, existia um acordo sincero: se alguma vez no futuro surgisse a oportunidade, ela seria a candidata a presidente", diz o livro.

"A primeira mulher presidente, Ivanka brincava, não seria Hillary Clinton; seria Ivanka Trump". O casal hoje trabalha como "conselheiro da Casa Branca", e Kushner acumula ainda as negociações para a paz no Oriente Médio.

Donald Trump discursa ao lado de Ivanka e Jared Kushner - Drew Angerer/AFP - Drew Angerer/AFP
Donald Trump discursa ao lado de Ivanka e Jared Kushner
Imagem: Drew Angerer/AFP

Traição e antipatriotismo

Bannon, que foi um dos coordenadores da campanha eleitoral e durante pouco mais de sete meses foi o estrategista-chefe da Casa Branca, teceu severas críticas sobre um encontro que teria ocorrido em junho de 2016 entre funcionários da campanha presidencial de Trump e um grupo de pessoas com vínculos com o Kremlin. No livro, Bannon diz ter ficado surpreso com o encontro organizado pelo filho do presidente, Donald Trump Jr., que também incluiu o genro de Trump, Jared Kushner, além do diretor de campanha, Paul Manafort.

"Os três senhores da campanha acharam que era uma boa ideia se encontrar com um governo estrangeiro dentro da Trump Tower na sala de conferência no 25º andar – sem advogados. Eles não tinham advogados", disse Bannon. "Mesmo que você pense que isso não foi traição ou antipatriótico, e eu pensei que era tudo isso, você deveria chamar o FBI imediatamente", afirmou.

O encontro na Trump Tower é alvo de uma investigação federal sobre uma possível intervenção russa na eleição presidencial de 2016. Trump nega qualquer conluio com a Rússia.

Perder era ganhar

Trump não só ignorou os potenciais conflitos entre seus negócios e propriedades imobiliárias e a presidência, mas também recusou liberar suas declarações fiscais. E segundo o livro, ele não teria motivo para revelar, já que esperava perder a eleição.

"Derrotado, Trump seria ainda mais famoso e um mártir de Hillary. Sua filha Ivanka e o genro Jared seriam celebridades internacionais. Steve Bannon se tornaria o líder de facto do movimento do Tea Party; Kellyanne Conway se tornaria uma estrela da TV a cabo. Melania Trump, assegurada de que seu marido não seria presidente, poderia voltar a almoçar discretamente. Perder a eleição funcionaria para todos. Perder era ganhar".

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20.jan.2017 - O presidente dos EUA, Donald Trump, acena para o público ao chegar, junto com sua mulher, Melania Trump, à Casa Branca, para assistir ao desfile de posse presidencial
Imagem: Pablo Martinez Monsivais/AP

Vitória inesperada

Ninguém na equipe presidencial de Trump esperava ganhar a Presidência, diz Wolff. O próprio Trump veria a disputa presidencial como um meio de alavancar sua carreira na televisão e na política. Segundo o livro, Melania Trump ficou horrorizada com a perspectiva de ocupar a Casa Branca.

Quando, na noite da eleição, ficou claro que Trump venceria Hillary Clinton, Melania estava em "lágrimas, e não de alegria".

DR com o Serviço Secreto

Trump teria discutido com o Serviço Secreto pedindo a instalação de uma fechadura na porta de seu quarto na Casa Branca. Foi "a primeira vez, desde a Casa Branca de Kennedy, que um casal presidencial vivia em quartos separados", diz Wolff, Trump também proibiria qualquer pessoa de tocar em sua escova de dentes por medo de envenenamento.

O presidente ainda teria pedido a instalação de mais duas TVs além da que já estava colocada no quarto e proibiu qualquer pessoa de tocar em suas roupas no chão. 

Trump detestou a própria posse

"Ele estava com raiva por estrelas de nível A terem rejeitado participar do evento, estava descontente com as acomodações da Blair House [conhecida como a casa de hóspedes presidencial, onde ele ficou hospedado antes de receber o cargo de Barack Obama], e visivelmente brigado com a sua mulher, que parecia estar à beira das lágrimas." Durante o dia, Trump estava com o que alguns ao seu redor chamaram de sua cara de golfe: irritado e bravo, encurvado, sobrancelhas franzidas, lábios cerrados."

O caos era a estratégia

"Bannon foi capaz de seguir com a sua própria agenda para a Casa Branca por um simples motivo: ninguém na administração realmente tinha um emprego. Priebus, como chefe de gabinete, tinha que organizar reuniões, contratar pessoas e supervisionar os escritórios individuais nos departamentos do Executivo. Mas Bannon, Kushner e Ivanka Trump não tinham responsabilidades específicas --faziam o que queriam. E, para Bannon, a vontade de fazer grandes coisas foi a forma como muito foi feito. Na sexta-feira, 27 de janeiro -- apenas o oitavo dia de Trump no cargo-- Trump assinou uma ordem executiva com uma ampla exclusão de muitos muçulmanos dos Estados Unidos. Em sua mania de aproveitar o dia, como quase ninguém no governo tinha visto a ordem executiva ou estava ciente dela, Bannon conseguiu aprovar a medida que reformulou a política de imigração dos EUA, ignorando as próprias agências e pessoal responsável pela aplicação das leis", diz o livro.

Ele é estúpido

Segundo o autor, um dos bilionários mais próximos de Trump, Thomas Barrack  Jr, que teria sido procurado pelo presidente para o cargo de chefe de gabinete, afirmou a um amigo: "Ele não é apenas um louco, ele é estúpido".

Putin não dá a mínima

Questionado pelo presidente da Fox  News, Roger Ailes, sobre o que Trump queria se envolvendo com russos, Bannon respondeu --segundo Wolff diz no livro: "Ele foi para a Rússia e pensou que iria se encontrar com o [Vladimir] Putin. Mas Putin não dá a mínima para ele. Então ele continuou tentando."

O cabelo laranja de Trump

Segundo a BBC, citando o livro, Ivanka "tratava o pai com um grau de desapego, até ironia, chegando ao ponto de fazer piada com o penteado dele para os outros. Ela com frequência descrevia o mecanismo por trás disso para os amigos: uma cabeça totalmente limpa - uma ilha existente após a cirurgia de redução do couro cabeludo - cercada por um círculo peludo de cabelo em volta dos lados e da frente, em que todas as pontas se unem no centro e são então varridas para trás e presas graças a um spray fixador. A cor, ela destacava para efeito cômico, era de um produto chamado Just for Men (apenas para homens) - quanto mais ele fosse deixado no cabelo, mais escuro ficava. A impaciência resultou na cor de cabelo laranja de Trump."

Para Murdoch, Trump seria um "idiota"

Wolff, que também é autor da biografia de Rupert Murdoch, relata uma conversa dos dois por telefone após uma reunião do então presidente eleito com executivos do Vale do Silício.

Trump disse: "'Esses caras realmente precisam da minha ajuda. Obama não foi muito favorável a eles, muitas regulações. Essa é realmente uma oportunidade para que eu possa ajudá-los'. Donald, disse Murdoch, "por oito anos esse caras tiveram o Obama no bolso. Eles praticamente governaram. Eles não precisam da sua ajuda."

O livro diz: "Murdoch sugeriu que uma abordagem liberal aos vistos H-1B, que abriria as portas da América para um grupo seleto de imigrantes, seria de difícil conciliação com as promessas de construir um muro e fechar as fronteiras. Mas Trump parecia despreocupado, garantindo a Murdoch: 'Vamos achar uma saída'. 'Que idiota', disse Murdoch ao desligar o telefone."