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Ao Congresso, Trump pede que EUA fechem "lacunas mortais" das fronteiras

30.jan.2018 - Trump durante seu primeiro discurso sobre o Estado da União, em Washington - REUTERS/Win McNamee
30.jan.2018 - Trump durante seu primeiro discurso sobre o Estado da União, em Washington Imagem: REUTERS/Win McNamee

Do UOL, em São Paulo

31/01/2018 01h54

Donald Trump concedeu seu primeiro discurso sobre o Estado da União - onde o presidente norte-americano anualmente faz sua prestação de contas ao Congresso e aos cidadãos - exaltando o que chamou de "sucesso" de seu primeiro ano na Presidência e reforçando suas tradicionais bandeiras, como a necessidade de reforçar as fronteiras e aprovar sua reforma migratória.

Trump usou um tom patriota e mais conciliatório em relação aos discursos agressivos que concedeu em outros momentos, mas também desferiu ataques, mirando os opositores de sua política de endurecimento de imigração e até jogadores de futebol americano que protestaram contra o racismo durante a execução do hino nacional no início das partidas.

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Ao mesmo tempo em que foi muito aplaudido e exaltado pelos colegas republicanos, Trump foi recebido de forma fria pelos congressistas democratas, com quem entrou em conflito ao tentar um acordo para implantar suas políticas de imigração. Em alguns momentos, os democratas chegaram inclusive a vaiar o presidente.

Na parte final do discurso, que durou uma hora e 20 minutos no total, Trump focou na questão da segurança nacional, renovando seus ataques em direção ao Irã e, principalmente, à Coreia do Norte. Ele também anunciou sua decisão de manter aberta a prisão de Guantánamo, na base militar dos EUA em Cuba, contrariando o plano do presidente anterior, Barack Obama, de fechar o centro de detenção que abriga acusados de terrorismo.

'Deixemos nossas diferenças de lado'

Trump iniciou o discurso apelando para a união entre os americanos. "Nesta noite faço um pedido a todos para que deixemos de lado nossas diferenças e busquemos a unidade para atender às pessoas que nos elegeram. Nesta noite quero falar sobre o futuro que vamos ter, de que tipo de nação vamos ver. Todos juntos, como uma equipe, como um povo, como uma família americana. Todos compartilhamos a mesma casa, o mesmo coração, o mesmo destino, a mesma bandeira americana."

Depois, no entanto, ele aparentemente cutucou os jogadores de futebol americano ao dizer, de forma enfática, que os norte-americanos patriotas são uma lembranda do "por que nós orgulhosamente nos levantamos para o hino nacional" - a questão dos atletas que se ajoelhavam no hino em protesto contra o racismo, postura diretamente atacada por Trump, foi um dos conflitos que ressoaram durante o primeiro ano do governo Trump.

'Fronteiras abertas permitem a entrada de gangues'

Boa parte do discurso se concentrou na urgência de aprovar uma reforma migratória, que permitiria também desbloquear o diálogo político no Congresso e permitir a aprovação do orçamento federal.

Trump fixou seu plano de imigração em quatro pilares, abrindo a porta para a nacionalização de 1,8 milhão 'dreamers' - jovens imigrantes que chegaram aos EUA de forma irregulares, ainda menores de idade -, mas com medidas rígidas para conter a imigração.

O governo pede 25 bilhões de dólares para construir um muro na fronteira com o México, além de reforçar drasticamente a vigilância das fronteiras, interromper o reagrupamento familiar, reduzir a cota de imigrantes legais e suspender a loterias de vistos, que entrega green cards de forma randômica a imigrantes que atendiam os pré-requisitos do programa.

Ao citar que o governo deveria combater a "imigração em cadeia", Trump foi vaiado por democratas no momento em que disse que, sob o sistema atual, um imigrante consegue trazer aos EUA "virtualmente um número ilimitado de parentes distantes".

"É o momento de reformar essas regras migratórias obsoletas e finalmente trazer nosso sistema migratório para o século 21", disse Trump.

Em um dos momentos mais tensos do discurso, ao falar sobre a necessidade de reforçar as fronteiras do país, Trump citou os crimes cometidos por gangues como a MS-13, de El Salvador, como um dos motivos para "fechar as lacunas" para "criminosos e terroristas".

Trump apontou para dois casais que estavam na plateia e tiveram suas filhas assassinadas por criminosos ligados à gangue. "Ao mesmo tempo que 320 milhões de corações estão devastados por vocês, podemos garantir que outras famílias não passem por isso", disse Trump, enquanto os pais se emocionavam.

"Hoje, peço ao Congresso que finalmente feche as lacunas mortais que permitiram que o MS-13 e outros criminosos entrassem no nosso país. Propusemos uma nova legislação que vai corrigir nossas leis de imigração."

Coreia do Norte e reforço do arsenal nuclear

Pouco antes de atacar a Coreia do Norte, Trump também falou sobre a necessidade de os EUA modernizarem seu arsenal nuclear. "Como parte da nossa defesa, devemos modernizar e reconstruir nosso arsenal nuclear, com a esperança de nunca tenhamos que usá-lo, mas tornando-o tão forte e poderoso que seja capaz de dissuadir qualquer ato de agressão", disse o presidente.

"Talvez, em algum dia no futuro, haja um momento mágico em que os países do mundo se juntem para eliminar suas armas nucleares. Infelizmente, ainda não chegamos nesse ponto", completou.

Trump afirmou que a Coreia do Norte poderia desenvolver "muito em breve" a capacidade para ameaçar o território americano com mísseis nucleares. Ele disse que é preciso evitar "complacência e concessões" ao regime que, segundo Trump, geram "agressões e provocações". Nesse momento, ele criticou os governos anteriores por terem colocado os EUA "nessa posição perigosa".

Outro personagem da plateia destacado por Trump foi o desertor norte-coreano Ji Seong-ho. Segundo o presidente, Seong-ho foi um dos inúmeros cidadãos do país a sofrer com a fome que atingiu a Coreia do Norte na década de 1990, conseguindo fugir para a China após ser torturado por agentes norte-coreanos. "Hoje ele vive em Seul, onde resgata outros deserdores, e transmite à Coreia do Norte o que o regime mais teme - a verdade", disse Trump. (Com agências internacionais)