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Minas ligadas a trabalho infantil na África prosperam com carros a bateria

Kenny Katombe/Reuters
Imagem: Kenny Katombe/Reuters

Tom Wilson e Jack Farchy

Da Bloomberg

20/02/2018 14h33

O apetite por carros elétricos está gerando uma explosão na produção de cobalto de pequena escala na República Democrática do Congo, onde algumas minas são consideradas perigosas e empregam mão de obra infantil.

A produção das chamadas minas artesanais provavelmente aumentou pelo menos pela metade no ano passado, segundo estimativas de representantes de três das maiores fornecedoras internacionais do metal, que pediram anonimato por não estarem autorizados a falar sobre o assunto. A mineradora estatal Gecamines estima que a produção artesanal tenha representado até um quarto da produção total do país em 2017.

Essa é uma preocupação para fabricantes de automóveis como Volkswagen e Tesla, que buscam garantir ofertas a longo prazo do ingrediente das baterias, mas que não querem se envolver em um escândalo relacionado a práticas de mineração antiéticas. Gigantes da tecnologia como Apple e Microsoft sofreram com a publicidade ruim quando um relatório de 2016 da Anistia Internacional informou que crianças estavam sendo enviadas para algumas minas subterrâneas no Congo para cavar em busca de cobalto para os aparelhos das marcas. Colapsos de poços e túneis mataram dezenas de trabalhadores em 2015, informou o grupo.

O valor do cobalto triplicou nos últimos 18 meses porque a ascensão dos veículos elétricos intensifica a concorrência por recursos escassos. Dois terços da oferta mundial vêm do Congo, o segundo país mais pobre do mundo. A explosão do metal, atualmente negociado acima de US$ 80.000 por tonelada, desencadeou uma mineração maior na região de Katanga, rica em cobalto, onde extensas minas escavadas à mão pontilham a paisagem e onde a busca por minérios é tão comum quanto a agricultura.

Recuperação da produção

A produção geral de cobalto do Congo caiu em 2016 após uma repressão gerada pelo relatório da Anistia, mas se recuperou no ano passado. As remessas de hidróxido de cobalto -- um produto parcialmente refinado que contém cerca de um terço de cobalto e é o principal produto de exportação -- subiram cerca de 20 por cento em 2017, para 269.254 toneladas, mostram estatísticas do governo.

Apesar de o volume ter aumentado, a produção se manteve praticamente estável nas maiores minas do país, administradas pela Glencore e pela China Molybdenum, segundo as empresas. As estatísticas do governo mostram que grande parte do crescimento pode ser atribuída a pequenos e médios produtores industriais, que muitas vezes adicionam cobalto artesanal à oferta de suas próprias minas para produzir hidróxido de cobalto para exportação.

O Ministério de Minas do Congo estima que 86.923 toneladas de cobalto tenham sido produzidas no ano passado. Não há dados exatos a respeito da quantidade de cobalto produzida nas minas artesanais, mas o total é cerca de 13.000 toneladas maior do que a produção reportada pelos operadores industriais do país e publicada pela câmara de minas neste mês.

Contrabando

Além disso, a própria empresa estatal de mineração reconhece que bilhões de dólares em minério são contrabandeados para fora do país.

Cerca de 20.000 a 30.000 toneladas contrabandeadas de cobalto passam por ano pela fronteira em direção a Zâmbia e não são declaradas nas agências de exportação do Congo, disse o presidente do conselho da Gecamines, Albert Yuma, em entrevista na Cidade do Cabo, neste mês. Esse total valeria US$ 2,5 bilhões pelos preços atuais.

Os três fornecedores que conversaram com a Bloomberg estimaram a produção artesanal do Congo no ano passado em 10.000 a 20.000 toneladas.

"Isso não é bom para os nossos interesses", disse Yuma. "Se realmente quisermos aproveitar o cobalto, precisaremos avançar progressivamente rumo à integração econômica e parar a produção artesanal."