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Abuso e morte de crianças nas mãos do Boko Haram voltam a assombrar a Nigéria

Parentes das meninas sequestradas em um colégio de Dapchi, no noroeste do Estado de Yobe, reagem às notícias - Afolabi Sotunde/Reuters
Parentes das meninas sequestradas em um colégio de Dapchi, no noroeste do Estado de Yobe, reagem às notícias Imagem: Afolabi Sotunde/Reuters

Do UOL, em São Paulo

27/02/2018 14h58

O grupo terrorista nigeriano Boko Haram sequestrou 110 estudantes de um colégio feminino de ensino médio na cidade de Dapchi, no noroeste do país, no último dia 19, de acordo com informações do governo da Nigéria. O atentado aconteceu após quatro anos do sequestro de 276 garotas em uma escola em Chibok que chocou o mundo em 2014.

É impossível contar com precisão as meninas ainda detidas pelo Boko Haram, cujo nome significa "a educação ocidental é um pecado", porque algumas podem ter sido assassinadas ou morreram em cativeiro.

O ministro nigeriano Lai Mohammed confirmou que 110 das 906 estudantes estavam desaparecidas após o ataque terrorista deste mês. O Boko Haram ainda não reivindicou o sequestro das meninas, mas informações de testemunhas apontam que o modus operandi do ataque se assemelha ao do grupo.

Autoridades e famílias temem que as meninas levadas sejam obrigadas a se casarem com os líderes extremistas como aconteceu em 2014. Na época, após o sequestro das 276 garotas, o Boko Haram divulgou um vídeo em que o líder do grupo afirmava que as meninas sequestradas seriam feitas de escravas sexuais e vendidas como esposas em mercados na fronteira do país com Chade e Camarões. No vídeo, o líder também dizia que a educação ocidental deveria parar e que as meninas deveriam deixar as escolas e se casarem.

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AFP

Ao longo dos anos, muitas meninas sequestradas em Chibok fugiram e voltaram para suas famílias. Elas contam que as vítimas sequestradas eram forçadas a se casar com os líderes extremistas ou a usar cintos-bomba em atentados suicidas forçados. Hoje, estima-se que cerca de 100 garotas sequestradas em 2014 não tenham voltado para suas casas.

No ataque do última dia 19, Usman Katarko, um fazendeiro da região, conta que os homens chegaram em veículos militares, mas que apesar dos uniformes, ele sabia que eles não eram soldados por causa das inscrições em árabe em seus carros. “Eu os ouvi gritar: ‘Nos mostre onde é a escola! Nos mostre onde fica a escola de meninas!”, disse o fazendeiro à agência Associated Press.

Enquanto muitas meninas eram levadas sob a mira de armas, algumas conseguiram se esconder nas redondezas da escola e fugir na segunda-feira. "Algumas de minhas colegas foram pegas pelos insurgentes e levadas", disse a estudante de 13 anos Fatima Bako, que conseguiu escapar.

Aisha, de 14 anos, não teve a mesma sorte. Sanusi Muhammadu ainda está aguardando o retorno de sua filha. Ele disse que após autoridades encontrarem algumas meninas escondidas nos arbustos, os pais foram chamados na escola na terça-feira para buscá-las. Aisha, contudo, não estava lá.

19.set.2017 - Presidente nigeriano Buhari na assembleia das Nações Unidas em Nova York - Shannon Stapleton/Reuters - Shannon Stapleton/Reuters
O presidente nigeriano Muhammadu Buhari
Imagem: Shannon Stapleton/Reuters

O pai ainda teve esperança após notícias de que algumas garotas haviam sido resgatadas na cidade de Geidam. No entanto, sua alegria durou pouco, pois o governo desmentiu horas depois a informação.

"O governo tem o dever de resgatar nossas filhas. É responsabilidade deles trazê-las em segurança para casa porque nós as colocamos na escola acreditando que elas estariam sob a proteção do governo", disse o pai.

Nesta segunda-feira (26), as aulas voltaram na escola. No entanto, muitas meninas não foram à escola. "Minhas filhas não voltaram ao colégio porque estão com muito medo de ir até lá. Nós, os pais, estamos igualmente assustados de ver nossas filhas indo para lá", disse Mohammed Mele, mãe de duas aulas da escola.

Em meio a esse cenário, o presidente Muhammadu Buhari disse que o sequestro das meninas em Dapchi é um "desastre nacional" e prometeu que não poupará esforços para que as meninas sejam encontradas. O político ganhou as eleições presidenciais do país em 2015 tendo como prioridade derrotar o Boko Haram.

Ao longo dos últimos dois anos, seu governo vem alegando que o grupo extremista foi derrotado, mas, nesse meio tempo, o Boko Haram tem feito ataques suicidas no norte do país, usando mulheres e crianças que foram sequestradas e doutrinadas.

Nesta terça-feira (27), as forças militares da Nigéria disseram ter resgatado mais de 1.100 pessoas, incluindo mulheres e crianças, que estavam sob o poder do grupo radical Boko Haram em diferentes partes da região do lago Chad, perto de Camarões.

O Boko Haram é um grupo extremista islâmico surgido em 2009 no norte da Nigéria. Ele tem como objetivo a criação de um Estado Islâmico no país. Desde sua insurgência, 20 mil pessoas foram mortas, 1 milhão e 600 mil tiveram que deixar suas casas e cerca de 4,7 milhões, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), precisam de assistência alimentícia urgentemente na Nigéria.

"O Boko Haram estava asfixiado, porque o oxigênio do qual eles se alimentam é a publicidade usada para chamar a atenção do mundo. Contudo, posso assegurar para vocês que com a determinação do nosso exército, os dias do Boko Haram estão contados", disse o ministro da Informação da Nigéria. (Com informações de agências internacionais)