Putin volta às urnas com apoio jovem e reeleição dada como certa; oposição pede abstenção massiva
O presidente russo Vladimir Putin domina o cenário político da Rússia desde que foi eleito pela primeira vez, em 2000. Quem nasceu no ano em que Putin assumiu o controle da política completa 18 anos e votará pela primeira vez nas eleições presidenciais hoje sem conhecer outra referência além de Putin como de liderança política no país.
O que poderia ser uma razão para a oposição da juventude se traduz, na verdade, em apoio dos jovens. Neste domingo (18), Putin caminha para conquistar seu quarto mandato com a intenção de votos de 65% dos que forem às urnas, segundo as últimas pesquisas. Entre os jovens, seu apoio é maior. Pode chegar a 86% entre os jovens de 18 a 24 anos, segundo pesquisa do centro russo Levada.
“A vida na Rússia é melhor agora do que na década de 90. Eu ouço as histórias dos meus pais e tenho certeza disso. A Rússia hoje é respeitada no mundo. E isso tudo é graças a Putin. Por isso o meu voto é para ele”, explica Vladimir, 20, xará do presidente.
Por outro lado, é também a juventude russa que encheu as praças do país nos últimos meses em apoio a Aleksei Navalny, principal líder da oposição da Rússia, que teve a sua candidatura impugnada por condenação em caso de corrupção.
“Putin precisa deixar o poder nas mãos de novas lideranças. Todo mundo está cansado dele. A Rússia virou sinônimo de Putin. Ele é um ladrão e um ditador. Queremos liberdade”, diz Dasha, 19.
A maioria que apoia Putin não entende a minoria que critica o líder russo, que aparece quase como um herói na imprensa do país.
Os russos não têm memória. E não leem. Esse fascista (Navalny) foi criado pelo Ocidente, pelos Estados Unidos, pra manipular nossa sociedade. Mas não vão conseguir.”
Dima, 21
Os jovens russos pró-Putin sabem que não precisam fazer campanha para reeleger o seu candidato. O presidente russo não participou de nenhum dos quatro debates e as sondagens apontam uma vitória de Putin com aproximadamente 65% dos votos. O candidato comunista Pavel Grudinin, que também não representa a oposição liberal, chegaria em um distante e amargo segundo lugar, com 7% dos votos.
Disputa pela participação na eleição
A juventude russa anti-Putin aposta em um boicote massivo nas eleições presidenciais. “Sabemos que Putin vai ganhar, mas precisamos que o comparecimento às urnas seja o mais baixo possível. Isso é o que queremos dizer para o Kremlin e para o mundo: Putin ganhou, mas sem apoio", explica Anna, 20.
O governo mantém uma campanha com estimativa de que haverá participação de 70% dos eleitores --o alto percentual mostraria apoio e estabilidade do poder de Putin. No entanto, as estimativas estão abaixo do esperado.
Navalny fez campanha para que os russos não votem. Nas manifestações, opositores carregavam cartazes que dizem: "Não vote! De toda maneira você terá o Putin." A campanha é para apontar falta de legitimidade nas eleições.
A Comissão Eleitoral diz que há 1.400 observadores estrangeiros acreditados e 40 mil câmeras de vigilância nos principais colégios eleitorais. No entanto, a oposição diz que não é possível saber o que acontece nos pequenos colégios eleitorais.
Entre a oposição, existe ainda o medo de que o apoio o Navalny prejudique as vidas profissionais e pessoais desses jovens. “Na Rússia, se você é um jovem que apoia ativamente o Rússia Unida (partido governista que é a base do governo Putin), você já tem meio caminho andado. Por outro lado, apoiar a oposição pode fechar portas. Podem até te agredir. Mas a gente não tem medo”, declara Dima, 21.
Navalny sabe que tem um apelo forte entre os jovens, ainda que limitado. E fomenta esse apoio cada vez que é preso pelas autoridades russas. Recentemente, logo após ser detido pela polícia da capital russa antes de uma manifestação, Navalny usou as redes sociais para convocar os jovens para o protesto no centro de Moscou. "Vocês não estão vindo por mim, mas por vocês mesmos e pelo futuro de vocês".
Estabilidade e Putin
O analista Kirill Petrov, da consultoria política Michenko, explica que o pensamento russo ainda é muito homogêneo em todas as camadas da sociedade e não seria diferente entre a juventude.
Os jovens russos podem ter valores que o Ocidente classifica como liberais, mas eles ainda preferem um líder com ares autoritários, mas que garante a estabilidade tão sonhada pelos russos e que tão poucas vezes existiu na historia do país.”
Kirill Petroy, analista
E continua:
“Existe uma ideia no Ocidente de que muitos jovens russos estão querendo mudanças. Talvez eles até queiram algumas mudanças, como provavelmente querem todos os russos. Mas eles prezam mais a estabilidade. Eles são a primeira geração que não passou por uma grande crise econômica. Eles não sabem o que significa escassez. E essa estabilidade na Rússia ainda se deve ao governo Putin”.
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