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Sarkozy é detido na França por suspeitas nas contas da sua campanha em 2007

Presidente da França, Nicolas Sarkozy (esq), recebe o líder da Líbia, Muammar Gaddafi, em Paris, em dezembro de 2007 - Jacky Naegelen/Reuters
Presidente da França, Nicolas Sarkozy (esq), recebe o líder da Líbia, Muammar Gaddafi, em Paris, em dezembro de 2007 Imagem: Jacky Naegelen/Reuters

Do UOL, em São Paulo

20/03/2018 07h24Atualizada em 20/03/2018 10h28

O ex-presidente da França Nicolas Sarkozy foi detido nesta terça-feira (20) por suspeitas de ter recebido financiamento ilegal do ditador líbio Muammar Gaddafi durante a campanha presidencial de 2007. O ditador líbio Muammar Gaddafi, morto em 2011, teria doado 50 milhões de euros ao francês.

Segundo o jornal "Le Monde", Sarkozy está sob custódia em Nanterre, nos arredores de Paris, onde presta depoimento e pode permanecer por até 48 horas. É a primeira vez que Sarkozy presta declarações à Justiça neste processo.

A investigação ganhou força após as declarações de um empresário que revelou à polícia ter levado ao menos 5 milhões de euros em malas da Líbia diretamente para Paris.

Após o interrogatório, o ex-presidente francês pode ser liberado, convocado a dar mais esclarecimentos em uma data posterior, ou ser apresentado perante um juiz para prisão provisória.

Sarkozy foi eleito em 2007, meses após assumir o poder o ex-presidente francês foi muito criticado por receber Gaddafi em visita oficial, durante a qual o ex-líder líbio montou sua conhecida tenda de estilo beduíno ao lado do Palácio do Eliseu.

A investigação foi aberta em 2013, e Sarkozy sempre negou ter recebido o dinheiro líbio e classifica as suspeitas de "grotescas". Os juízes franceses, no entanto, dispõem de vários testemunhos de ex-funcionários de alto escalão do governo líbio que confirmam a hipótese de financiamento ilegal.

Dinheiro em espécie

O processo foi aberto após a revelação de um documento líbio, publicado em maio de 2012 pelo portal de notícias Médiapart, que comprovaria que Sarkozy havia recebido dinheiro de Gaddafi.

Os 50 milhões de euros seriam mais que o dobro do limite permitido legalmente para o financiamento de campanhas na época: 21 milhões de euros. Os supostos pagamentos do líbio também violariam a legislação francesa em relação a financiamento estrangeiro e declaração de origem de fundos de campanha.

O caso ganhou maior atenção em novembro de 2016, quando o empresário franco-libanês Ziad Takieddine afirmou ao Médiapart haver levado malas contendo 5 milhões de euros em dinheiro entre o final de 2006 e começo de 2007 de Trípoli a Paris, entregando a quantia a Sarkozy, que era então ministro do Interior, e a Claude Guéant, seu então chefe de gabinete.

Nas duas primeiras viagens, as malas, que, segundo Takieddine, continham entre 1,5 milhão e dois milhões de euros cada em maços de 200 e 500 euros, foram entregues no gabinete do ex-secretário-geral do Palácio do Eliseu Claude Guéant. Ele era a mão direita de Sarkozy e seu ministro do Interior entre 2011 e 2012.

Na terceira viagem, o empresário afirmou que entregou as maletas ao Ministério, em uma sala onde Nicolas Sarkozy estava. Takieddine alegou que recebeu o dinheiro em Trípoli das mãos do chefe dos serviços secretos líbios, sob o regime de Gaddafi.

Sarkozy tinha uma relação complexa com Gaddafi. Logo após se tornar presidente francês, ele convidou o líder líbio para uma visita oficial à França, o recebendo com honras de Estado. Entretanto, Sarkozy posteriormente colocou a França na vanguarda dos ataques aéreos contra as tropas de Gaddafi, liderados pela Otan, que ajudaram os combatentes rebeldes a derrubar o ditador em 2011, auge da Primavera Árabe. (Com AFP e DW)