Coreia do Norte fechará central nuclear: por que o espetáculo deve ter pouco efeito

Jornalistas estrangeiros foram autorizados a viajar para as montanhas da Coreia do Norte nesta semana e observar o fechamento do centro de testes nucleares de Punggye-ri, em uma elogiada exibição de boa vontade do líder Kim Jong-un, antes do encontro com o presidente americano, Donald Trump, que estava previsto para 12 de junho --mas agora pode ser adiado.
Devemos esperar boas imagens, mas não muito mais do que isso.
A exibição pública do fechamento da unidade no Monte Mantap será, provavelmente, pesada no espetáculo e leve em conteúdo. E os meios de comunicação estarão gastando muito de seu tempo em uma estranha zona de turismo que a Coreia do Norte espera ser a próxima coisa importante para sua economia se as aberturas diplomáticas de Kim forem concretizadas nos próximos meses.
O fechamento do centro é, sim, algo histórico, marcando um fim para o último local ativo do mundo para testes subterrâneos e oferecendo algumas ideias importantes sobre o tom de Kim no momento em que ele prepara o palco para sua reunião com Trump.
Veja abaixo um olhar para o que é exagero e o que vale a pena prestar atenção.
Conteúdo
Kim anunciou seu plano para fechar o centro de testes durante uma reunião de líderes do partido no mês passado, logo depois de seu encontro com o presidente sul-coreano, Moon Jae-in. Sua explicação para o partido foi a de que o desenvolvimento nuclear da Coreia do Norte está agora completo e que mais testes subterrâneos são desnecessários.
A Coreia do Norte realizou seis testes nucleares subterrâneos desde 2006. Sua mais recente e mais poderosa explosão, que o Norte alega ter sido de uma bomba de hidrogênio, foi em setembro. Todos os seus testes foram realizados em Punggye-ri, na região montanhosa do nordeste do país.
Antes do anúncio de Kim, a Coreia do Norte era o único país que ainda realizava testes subterrâneos.
A afirmação de Kim de que tais testes não são mais necessários pode ter algo de bravata. Embora o Norte tenha demonstrado que, sem dúvida, pode produzir armas nucleares viáveis e de alto rendimento, muitos especialistas acreditam que o país ainda poderia se beneficiar consideravelmente com a realização de mais testes.
"A Coreia do Norte certamente precisaria de mais testes para ter qualquer confiança em sua bomba H", disse o físico David Wright, codiretor do programa de segurança global da Union of Concerned Scientists (UCS). Wright afirmou que o teste mais recente do Norte é um excelente exemplo. Ele acredita que foi um "dispositivo de demonstração de princípio" que ainda não é pequeno ou leve o suficiente para ser entregue por míssil.
"A conclusão é que parar de realizar testes é importante para limitar a sua capacidade de construir ogivas confiáveis e possíveis de se construir --especialmente para uma bomba H", disse ele.
Então, nesse sentido, Kim está fazendo uma concessão significativa. E se Kim mudar de ideia e decidir testar de novo, certamente será pego. É difícil esconder uma explosão nuclear de alta potência. O cumprimento é verificável.
Mas a maneira como Kim planeja desmantelar o centro mostra que ele está, ainda, apenas disposto a parar por aí.
Adam Mount, um pesquisador sênior da Federation of American Scientists (Federação de Cientistas Americanos), acredita que, ao convidar a imprensa internacional em vez de monitores internacionais, a Coreia do Norte "evitou um princípio de verificação." Os jornalistas não têm a perícia técnica, o tempo gasto no local ou o equipamento necessário para analisar e avaliar adequadamente o processo.
"Quando os Estados Unidos não forçaram Pyongyang a estabelecer este padrão, perderam a primeira disputa pública sobre a verificação", disse.
Evento exagerado
O fechamento do centro vai ocorrer entre quarta (23) e sexta-feira (25), dependendo do tempo.
O Ministério das Relações Exteriores da Coreia do Norte convidou jornalistas da China, Rússia, Estados Unidos, Reino Unido e Coreia do Sul para voar em um avião privado de Pequim para o que está chamando de "cerimônia" marcando o evento.
A Coreia do Norte diz que o processo envolverá o fim de todos os túneis com explosões, bloqueando completamente suas entradas, removendo todas as instalações de observação e pesquisa e derrubando estruturas usadas para guardar o local. Imagens de satélite sugerem que alguns dos trabalhos já começaram.
O quanto que os jornalistas, incluindo uma equipe de televisão da AP, será capaz de ver é uma questão ainda sem resposta. Os jornalistas foram colocados em um hotel em Faraway Wonsan, onde o centro de imprensa será localizado, e irão fazer o que promete ser uma longa viagem para o centro nuclear por meio de um trem especial. Não se sabe quanto tempo eles serão autorizados a permanecer no local.
O que é bem claro é a razão da escolha de Wonsan, provavelmente a cidade mais apresentável na Coreia do Norte após a capital.
É o centro de uma zona de turismo onde o Norte vem gastando uma boa quantidade de dinheiro em um grande esforço de promoção do local.
Os jornalistas passaram por seu novo e brilhante aeroporto e estão em um de seus opulentos novos hotéis turísticos. Se não forem realmente levados para lá, eles vão, sem dúvida, ficar sabendo da existência de Masik Pass, a estância de esqui do de luxo do Norte, e o cenográfico monte Kumgang, que apenas uma década atrás estava aberto para turistas sul-coreanos, estão apenas a uma curta distância de carro.
Dois coelhos, uma cajadada, como dizem.
'Filme' antigo
Observadores veteranos da Coreia do Norte notam que já vimos este filme antes.
Com negociações internacionais para desmantelar o seu programa nuclear em curso em 2008, a Coreia do Norte convidou alguns meios de comunicação estrangeiros para filmar a demolição de uma torre de 20 metros de altura que fazia a refrigeração do reator nuclear de Yongbyon. A mudança levou Washington a tirar a Coreia do Norte de sua lista de Estados patrocinadores de terrorismo e cancelar algumas sanções.
Mais tarde, as conversas não avançaram e o reator em Yongbyon voltou a produzir plutônio.
Portanto, a cautela é justificada. Nada disso tem a ver necessariamente com a desnuclearização.
A declaração do Norte de que terminará seus testes subterrâneos e fechará o local de Punggye-ri poderia apenas também ser interpretada como um movimento para reforçar a reivindicação de Kim que seu país é agora uma potência nuclear responsável e apazigua as preocupações de seu vizinho e salvador econômico, China.
"Ninguém mais faz isso", disse Joshua Pollack, um pesquisador associado do Instituto de Estudos Internacionais Middlebury em Monterey, na Califórnia. "Então, se você quiser afirmar que você é um Estado nuclear armado de pleno direito, a tendência é a de que sua mensagem será prejudicada se você continuar a fazer testes."
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