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Nos EUA, tiroteios em massa acontecem mais em cidades pequenas. Saiba por quê

Alunos correm para fugir de tiroteio na escola Marjory Stoneman Douglas, em Parkland, na Flórida - John McCall/South Florida Sun-Sentinel via AP
Alunos correm para fugir de tiroteio na escola Marjory Stoneman Douglas, em Parkland, na Flórida Imagem: John McCall/South Florida Sun-Sentinel via AP

Da AP

26/05/2018 04h01

Se você quiser saber onde os tiroteios em massa em escolas são mais prováveis de ocorrer, deve procurar nas cidades pequenas e suburbanas da América.

O massacre que matou 10 pessoas em uma escola no Texas na semana passada foi apenas o mais recente em cidades pequenas dos Estados Unidos. Dos dez tiroteios escolares mais mortíferos nos EUA, apenas um ocorreu em uma cidade com menos de 75 mil habitantes. A grande maioria foi em cidades com menos de 50 mil pessoas.

Esses são lugares aparentemente idílicos para crescer: baixas taxas de criminalidade, boas escolas e um senso de comunidade onde todo mundo parece saber o seu nome. E são exatamente esses atributos, dizem os especialistas, que fazem com que pequenas cidades rurais e suburbanas se transformem em um terreno fértil para o próximo atirador.

"Ironicamente, são as pessoas de pequenas cidades e subúrbios que acham que [esses tiroteios] não podem acontecer ali. E esse é exatamente o tipo de lugar onde isso ocorre", afirmou Peter Langer, um psicólogo que estuda tiroteios escolares há anos e montou uma base de dados sobre violência armada em escolas nos EUA e no exterior. 

Especialistas dizem que o fenômeno ocorre por causa de uma variedade de fatores que incluem o acesso fácil às armas e o "efeito imitação" de adolescentes perturbados dos subúrbios e das pequenas cidades emulando uns aos outros. As pressões das pequenas cidades, que dificultam a adaptação de adolescentes descontentes, também têm uma parcela na culpa.

"Na América de pequenas cidades, dizem que todo mundo conhece todo mundo, e isso é bom, exceto quando você não quer que todos saibam o que está acontecendo com você", disse James Alan Fox, professor da Northeastern University, que há décadas estuda tiroteios em massa. "Se as coisas estão indo ladeira abaixo para você, se você fez algo errado ou alguém fez algo errado para você ou se uma garota te deu um fora, todo mundo sabe. Então é muito mais difícil ficar longe disso tudo."

"Enquanto na cidade grande, onde ninguém sabe o seu nome, isso pode ser uma coisa boa", acrescentou. "Você não tem essa sensação de que todo mundo sabe o que você está passando. Estar em uma cidade pequena tem suas vantagens em termos de rede e senso de comunidade, mas às vezes isso pode ser uma faca de dois gumes", completou.

Parkland, na Flórida, onde as autoridades dizem que um ex-aluno matou 17 pessoas a tiros em fevereiro, havia sido eleita a cidade mais segura do Estado. Newtown, em Connecticut, onde um tiroteio em 2012 na escola Sandy Hook tirou a vida de 20 crianças e seis adultos, é uma cidade clássica da Nova Inglaterra, longe dos crimes e problemas da vizinha Bridgeport, uma das maiores do Estado.

O local da tragédia na escola Columbine High School foi um subúrbio de Denver. O massacre em Virginia Tech ocorreu em uma cidade universitária de cerca de 40 mil habitantes. O tiroteio da semana passada foi em uma cidade de 13 mil pessoas cerca de 40 minutos a sudeste de Houston.

A prevalência dos tiroteios em massa em cidades menores contrasta com a situação de grandes cidades como Nova York, Chicago e Los Angeles. Esses lugares têm leis rígidas de porte de armas e seus próprios problemas com a violência armada nas ruas, mas tiroteios em massa nas escolas são raros.

Nos anos 1980 e 1990, os distritos urbanos procuraram tornar as escolas mais seguras da violência relacionada a drogas e gangues, tomando medidas como a instalação de detectores de metais nas entradas. Isso é exatamente o que os republicanos pró-armas e a Associação Nacional do Rifle (National Rifle Association ou NRA) têm proposto após os massacres recentes.

"A melhor prevenção é pegar os atiradores antes que apareçam com uma arma em vez de tentar dificultar a situação deles uma vez que já estão no prédio da escola com uma arma", disse Langer, diretor da SchoolShooters.info.

Fox também disse que é difícil ignorar a questão da imitação de atitudes erradas -- e o quanto que isso pode determinar os tipos de locais onde ocorrem tiroteios escolares.

"Eles são todos brancos, do sexo masculino, adolescentes em cidades pequenas ou áreas rurais porque se identificam os outros adolescentes brancos, do sexo masculino que vivem em cidades pequenas ou em áreas rurais. Enquanto para um garoto negro no Bronx ou nas ruas de Chicago, esse não é o mundo dele. Ele tem problemas totalmente diferentes para lidar", disse Fox.