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Ato em homenagem às mães de mortos em protestos termina em tiroteio na Nicarágua

30.mai.2018 - Avó de Danny Rivas, que morreu em recentes protestos contra o governo de Daniel Ortega, participa de ato em homenagem ao Dia das Mães em Manágua, na Nicarágua - Oswaldo Rivas/Reuters
30.mai.2018 - Avó de Danny Rivas, que morreu em recentes protestos contra o governo de Daniel Ortega, participa de ato em homenagem ao Dia das Mães em Manágua, na Nicarágua Imagem: Oswaldo Rivas/Reuters

Em Manágua

31/05/2018 12h02

O ato "Mãe de todas as Marchas", que reúne as mulheres que perderam seus filhos em manifestações contra o presidente nicaraguense Daniel Ortega, terminou em tiroteio em Manágua, na capital da Nicarágua, nesta quarta-feira (30). 

O CENIDH (Centro Nicaraguense de Direitos Humanos) apontou pelo menos seis mortos e 47 feridos, além de outras 5 mortes e 32 feridos em outros protestos realizados pelo país entre ontem e hoje. 

Já a ministra da Saúde da Nicarágua, Sonia Castro, confirmou a morte de 15 pessoas nos últimos dois dias e disse que "em diferentes centros de saúde pública e privada foram atendidas 199 pessoas que foram lesionadas."

A manifestação convocada pelo Movimento Mães de Abril em apoio às 83 mulheres que perderam seus filhos durante os protestos acabou com um tiroteio nas imediações da Universidade Centro-Americana e da Universidade Nacional de Engenharia.

O ataque ocorreu quando as mães agradeciam aos milhares de nicaraguenses que as acompanharam na caminhada em homenagem ao Dia das Mães, que no país é celebrado em 30 de maio.

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"Os agressores foram a polícia repressiva e as forças de choque" que respondem ao presidente Daniel Ortega e a vice-presidente Rosario Murillo, segundo o relatório do Cenidh.

A ONG afirmou que próximo ao local onde ocorreu a "Mãe de Todas as Marchas" havia uma concentração convocada pelo Executivo. "Por isso, ficou claramente comprovado que os agressores chegaram de outro lugar para atacar a marcha pacífica das mães, que já estava quase no fim", acrescentou.

Atos por todo país

Em Estelí, cidade situada 149 quilômetros ao norte da capital Manágua, também foram registrados enfrentamentos, que deixaram quatro mortos e 32 feridos, segundo o relatório da ONG. Já no município de Masaya, que fica 28 quilômetros a sudeste de Manágua, o Cenidh reportou a morte de um homem durante a madrugada desta quinta-feira, que recebeu um tiro no peito e morreu a caminho do hospital.

Durante os incidentes, as instalações da estação de rádio oficial Radio Ya e de uma cooperativa de crédito rural foram incendiadas, enquanto a fachada do estádio nacional de beisebol foi destruída.

O canal de oposição 100% Noticias e as estações de transmissão da rádio, em León, também foram atacados, informaram seus donos.

"A magnitude destes fatos que ainda persistem em diferentes lugares do país se vê agravada com ações como patrulhas intensas, tiroteios esporádicos e a presença de franco-atiradores em determinados lugares onde não se pode transitar", advertiu o Cenidh, que condenou energicamente os atos de violência e repressão "ordenados" pelo governo.

A Nicarágua atravessa uma crise sociopolítica que já deixou pelo menos 76 mortos desde 18 de abril, segundo a CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos), 83 de acordo com Anistia Internacional e 85 segundo a Comissão da Verdade, Justiça e Paz nicaraguense. Números que não incluem as 11 mortes registradas entre ontem e hoje.

A maioria das vítimas são estudantes universitários e civis, e a causa mais frequente de morte são disparos certeiros na cabeça, pescoço e tórax, por isso o CIDH não descartou que o governo da Nicarágua tenha realizado "execuções extrajudiciais".

Os protestos contra o governo de Daniel Ortega começaram em abril por causa de uma reforma da previdência, que acabou não passando, e foram amplificados pelos assassinatos ocorridos durante as manifestações.

Polícia chega para reprimir manifestação contra Daniel Ortega em universidade - Esteban Feliz/AP - Esteban Feliz/AP
Polícia chega para reprimir manifestação universitária contra Daniel Ortega
Imagem: Esteban Feliz/AP

"Brutal repressão"

O Parlamento Europeu condenou nesta quinta-feira (31) a "brutal repressão" contra manifestantes na Nicarágua e pediu ao governo que cesse "todos os atos de violência e adote uma reforma eleitoral".

Por 536 votos a favor, 39 contra e 53 abstenções, os eurodeputados reunidos em Estrasburgo (nordeste da França) também exortaram os manifestantes e organizações à frente dos protestos a "abster-se de recorrer à violência durante o exercício de seus direitos".

As manifestações iniciadas em 18 de abril foram marcadas pela violência e provocaram protestos contra o governo. Os manifestantes exigem a renúncia de Ortega, um ex-guerrilheiro que eles acusam de tentar estabelecer uma ditadura familiar como a de Anastasio Somoza (1934-1979), contra a qual ele mesmo lutou.

O Parlamento Europeu "condena a brutal repressão e intimidação dos manifestantes pacíficos na Nicarágua, que se opõem à reforma da previdência social, e lembra todas as forças de segurança da Nicarágua de seu dever, o de proteger seus cidadãos".

Na resolução, promovida pelos grupos conservadores, social-democratas e liberais, os eurodeputados pedem que "as autoridades da Nicarágua autorizem uma investigação internacional transparente e independente, a fim de processar os responsáveis pela repressão". (*Com informações de agências internacionais)