Topo

Em SP por melhores condições de vida, venezuelano morre vítima de pneumonia

5.abr.2018 - Venezuelanos chegam ao CTA (Centro Temporário de Acolhimento) de São Mateus, zona leste de São Paulo - Talita Marchao/UOL
5.abr.2018 - Venezuelanos chegam ao CTA (Centro Temporário de Acolhimento) de São Mateus, zona leste de São Paulo Imagem: Talita Marchao/UOL

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

05/06/2018 20h03

Morreu em São Paulo na última segunda-feira (4) o refugiado venezuelano Hector Ramon Rodriguez Cabello, 55. Ele era militar da reserva no Exército da Venezuela e estava no CTA (Centro Temporário de Atendimento) São Mateus, na zona leste, desde 5 de abril.

Cabello integrava o grupo de 199 venezuelanos que chegou à capital paulista em abril, em um voo da FAB (Força Aérea Brasileira), e foi levado a abrigos municipais. O maior grupo, de 128 homens solteiros, foi para o CTA onde o militar estava. Aqueles que vieram em famílias foram encaminhados à Casa do Migrante, espaço ligado à Missão Paz, da Igreja Católica, e à Casa de Passagem Terra Nova, do governo do Estado.

Segundo a Prefeitura de São Paulo, Cabello começou a se sentir mal em 28 de maio, no CTA, “foi prontamente atendido pelo Samu [Serviço de Atendimento Móvel de Urgência] e encaminhado para o Hospital Sapopemba , onde ficou internado desde então.”

Em nota, a prefeitura diz que “a causa preliminar do óbito foi definida como pneumonia, parada cardiorrespiratória, choque séptico e hemorragia sub-aracnoidea.”

“Assim que houve a confirmação do falecimento, a equipe da Coordenação de Políticas para Imigrantes e Promoção do Trabalho Decente, da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania, tomou as providências necessárias para avisar os familiares e entrou em contato o Governo Federal e organizações internacionais”, disse a Secretaria de Comunicação (Secom) municipal. 

A prefeitura afirma também que aguarda o atestado de óbito definitivo para realizar o velório e sepultamento, em São Paulo. Até a noite dessa terça, a família do refugiado não havia sido localizada, de acordo com a Secom.

Pastoral de Rua questiona atendimento médico

O coordenador da Pastoral do Povo de Rua, padre Júlio Lancelotti, afirmou estar preocupado com a assistência médica aos refugiados venezuelanos. “Eles estão acolhidos em CTAs, voltados a pessoas em situação de rua, mas não são pessoas em situação de rua. Os consultórios de rua os estão acompanhando? Estão tendo atendimento médico? Eles vêm de uma região caribenha, quente –assim como Boa Vista --, e chegam a essas temperaturas baixas em São Paulo. Estamos preocupados porque vários deles estão gripados e com poucas roupas de frio”, observou Lancelotti.

A Secom afirma que foram oferecidos atendimentos médico e odontológico ao refugiado em 19 de abril e 25 de maio, por estudantes da Uninove, mas ele recusou. A pasta diz ainda que, “quando necessário, os refugiados podem procurar a rede pública” de saúde.

Amigos de refugiado se dizem consternados

A morte do refugiado consternou outros venezuelanos que viviam com Cabello no CTA São Mateus.

“Ele sentia dores no peito e dores de cabeça. Levaram nosso companheiro para o hospital e só falaram sobre o estado dele quando vieram ao CTA recolher as coisas e dizer que ele havia morrido”, relatou o mecânico Daniel Bozo, 33, que viajou junto com Cabello. “Ele veio ao Brasil por emprego, por melhores condições de vida. É muito triste um fim desses”, lamentou.

“Queremos saber a raiz dessa situação que o levou à morte. Nos causa indignação isso tudo, mas esperamos que ele seja enterrado com um mínimo de dignidade”, afirmou o jornalista Cesar Augusto Barrios, 31. Ele também veio de Boa Vista no grupo em que estava o militar da reserva. “Estamos marginalizados.  É dramático isso tudo. Imagine saber que um amigo seu morreu só quando vão pegar as coisas dele para liberar espaço em um abrigo?”, complementou.