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Na cúpula com Kim Jong-un, Trump deixou de fora uma questão séria da Coreia do Norte

Kim Tong-Hyung

Da AP

14/06/2018 04h02

Há alguns meses, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, condenou publicamente a crueldade do governo da Coreia do Norte. Mas após a histórica reunião na terça-feira (12) com o líder norte-coreano Kim Jong-un, a quem descreveu como "muito inteligente" e uma "grande personalidade", Trump pareceu minimizar a gravidade das violações dos direitos humanos na Coreia do Norte.

"É difícil", afirmou Trump depois de perguntado sobre o assunto. Mas ele relativizou: "É difícil em muitos lugares, a propósito. Não apenas lá."

Poucos esperavam que Trump abordasse seriamente os terríveis problemas de direitos humanos da Coreia do Norte no encontro com Kim, que tratou principalmente das armas nucleares de Pyongyang.

Ainda assim, seus comentários pós-cúpula irritaram os ativistas, que passaram anos destacando os diversos crimes da Coreia do Norte contra a humanidade.

Ao deixar os direitos humanos fora da declaração final, a administração Trump disse efetivamente à Coreia do Norte que os direitos humanos não são uma prioridade dos EUA",

Phil  Robertson, vice-diretor para a Ásia da Human Rights Watch.

“Para os norte-coreanos, isso significa que vão continuar as execuções públicas, as restrições de mobilidades, as punições brutais a três gerações de uma família quando um membro age de maneira ofensiva e a proibição absoluta de quaisquer direitos civis e políticos, além do acesso inadequado a alimentos, moradia, educação e saúde."

Em seu discurso ao Congresso em janeiro, Trump atacou o “caráter depravado” do governo de Kim. Ele mencionou Otto Warmbier, detento americano que morreu depois de voltar da Coreia do Norte com ferimentos graves, e um desertor norte-coreano que perdeu a perna e viajou milhares de quilômetros de muletas para escapar.

Veja alguns exemplos do triste histórico da Coreia do Norte de abuso de direitos:

Os campos prisionais
Ativistas da Coreia do Norte denunciam abusos de direitos humanos - Ahn Young-joon / AP Photo - Ahn Young-joon / AP Photo
Em Seul, desertores norte-coreanos denunciam abusos de direitos humanos no país de onde fugiram
Imagem: Ahn Young-joon / AP Photo

Embora a Coreia do Norte oficialmente negue, governos e grupos de direitos humanos acreditam que o país mantenha enormes campos de concentração onde acusados de crimes políticos são detidos sem julgamento. Muitas vezes, as famílias não são notificadas sobre o paradeiro.

O Instituto Coreano para a Unificação Nacional, da Coreia do Sul, um centro de pesquisa patrocinado por Seul, estima que até 120 mil foram mantidos nas cinco principais prisões políticas do país.

Acredita-se que os presos, muitos deles acusados de insultar a liderança suprema do Norte ou de tentar fugir para a Coreia do Sul, estão sujeitos a condições horríveis, incluindo trabalho forçado, tortura e estupro. Os presos são frequentemente executados, alguns publicamente, por desobedecer a ordens, afirmou o instituto.

O número de mortes é ainda agravado pela tortura, a recusa de cuidados médicos adequados e a alta incidência de acidentes de trabalho, disse um relatório das Nações Unidas de 2014 sobre a Coreia do Norte.

"A chave para o sistema político é o vasto aparato político e de segurança que usa estrategicamente vigilância, coerção, medo e punição para impedir a expressão de qualquer dissidência", disse o relatório da ONU. “As execuções públicas e o desaparecimento forçado em campos de prisioneiros políticos servem para aterrorizar a população, que se torna submissa.”

O relatório disse que violações terríveis também são cometidas no sistema penitenciário comum da Coreia do Norte, incluindo tortura e fome deliberada. Algumas dessas prisões seriam campos de trabalho - a Coreia do Norte afirma que transformam os prisioneiros por meio do trabalho.

Sequestros de estrangeiros
29.fev.2016 - O estudante americano Otto Warmbier conversa com a imprensa da Coreia do Norte após ter sido preso acusado de cometer atos hostis contra o regime - Kim Kwang Hyon/AP - Kim Kwang Hyon/AP
tto Warmbier conversa com a imprensa da Coreia do Norte após ter sido preso acusado de cometer atos hostis contra o regime
Imagem: Kim Kwang Hyon/AP

A Coreia do Norte sequestrou milhares de sul-coreanos e outros estrangeiros para fins de espionagem e propaganda. Governos estrangeiros também acusaram Pyongyang de usar prisioneiros estrangeiros como reféns políticos para obter concessões.

Os abduzidos incluem funcionários do governo sul-coreano, estudantes, pescadores e cidadãos japoneses. A maioria deles foi sequestrada entre os anos 50 e 70. Nos últimos anos, a Coreia do Norte tem detido ativistas sul-coreanos, muitos deles cristãos evangélicos que levam desertores para fora do país e enviam publicações anti-Pyongyang e Bíblias para o Norte por meio de sua fronteira com a China.

Antes da cúpula de Kim com Trump, a Coreia do Norte libertou três presos americanos como um gesto de boa vontade. No entanto, o país só liberou Warmbier no ano passado depois de ele ter entrado em coma. Após sua morte em um hospital americano, a Coreia do Norte se autodenominou a “maior vítima” do incidente e negou ter tratado ou torturado cruelmente Warmbier, condenado a 15 anos de trabalhos forçados por crimes que incluíam roubar um cartaz de propaganda.

De acordo com dados do governo sul-coreano, a Coreia do Norte raptou pelo menos 3.835 sul-coreanos após a Guerra da Coreia de 1950-53. Enquanto a maioria foi eventualmente libertada ou escapou com sucesso de volta para o Sul, 516 nunca retornaram, segundo números do Ministério da Unificação de Seul. Não está claro quantos estão vivos.