Lenda do esporte, ex-playboy assume Paquistão com discurso populista e sob denúncias
A lenda do críquete Imran Khan, de 65 anos, venceu as eleições gerais no Paquistão, segundo os resultados parciais divulgados nesta sexta-feira (27), e se tornará o novo premiê do país.
Com mais de 80% dos votos apurados, o partido de Khan, o PTI (Movimento do Paquistão pela Justiça, obteve no mínimo 114 assentos e terá a maior bancada no Parlamento. Ainda assim precisará de ao menos um aliado entre os partidos menores para governar - para ter a maioria, é necessário ter 137 assentos.
Seus principais rivais foram a Liga Muçulmana do Paquistão-Nawaz (PML-N) - do ex-premiê Nawaz Sharif, que está na cadeia -, dona do poder nos últimos cinco anos, o Partido Popular Paquistanês (PPP) de Bilawal Bhutto-Zardari, filho da ex-premiê Benazir Bhutto. O PML-N obteve 62 assentos e o PPP 43, segundo a Comissão Eleitoral do Paquistão. Restam 12 vagas a serem atribuídas.
O resultado coroa duas décadas de vida política do ex-capitão da seleção nacional de críquete, uma lenda no Paquistão por ter levado o país à conquista da sua primeira Copa do Mundo, em 1992, batendo a Inglaterra na final.
Mas a vitória veio em meio a denúncias de fraude nas urnas e intromissão dos poderosos militares do país, feitas por outros concorrentes, que tacharam Khan de ser um fantoche das Forças Armadas. Os partidos de Sharif e Bhutto disseram que seus fiscais foram retirados dos centros de votação durante a contagem dos votos ou receberam os resultados em papéis não oficiais. O Exército negou qualquer intromissão na eleição e deslocou 371 mil soldados para os centros de votação em todo o país, quase cinco vezes mais do que nas eleições de 2013.
Enquanto Khan fazia um conciliador discurso de vitória, ainda na quinta-feira, os líderes do PML-N reclamaram e disseram que não aceitariam o resultado. Mas o partido amenizou o tom nesta sexta. "Vamos nos sentar nos bancos da oposição, apesar de todas as reservas", disse Hamza Shehbaz Sharif, parlamentar e sobrinho de Nawaz Sharif.
Nas páginas dos tabloides
Ao longo de anos, o PTI, fundado por Khan, nunca obtivera bons resultados nas eleições nem conseguira se firmar como um partido nacional. Essa situação só começou a mudar em 2013, quando o partido se tornou o terceiro maior da Assembleia Nacional.
Mesmo assim, a vitória do esportista, visto por adversários como incapaz de transformar sua popularidade em votos, surpreendeu, já que ele passou a maior parte da sua carreira política às margens do poder.
Filho de um engenheiro civil, Khan nasceu e cresceu num bairro relativamente rico de Lahore, a segunda maior cidade do Paquistão. Ele recebeu uma boa educação, tanto na sua cidade natal como, mais tarde, em Worcester, na Inglaterra. Foi lá que o seu talento para o críquete aflorou.
Mais tarde, Khan foi estudar política e economia na Universidade de Oxford. Ele se dedicou ao esporte durante sua estada no exterior e, quando retornou ao seu país de origem, em 1976, logo passou a jogar para a seleção nacional de críquete.
Fora dos gramados, ele se tornou conhecido pela vida de playboy e pela regularidade com que frequentava a vida noturna de Londres. Casou-se em 1995, aos 42 anos, com a britânica Jemima Goldsmith, herdeira de um milionário e que então tinha 21 anos. Os nove anos do casamento renderam inúmeras histórias para tabloides ingleses e paquistaneses.
Ciente do seu passado de playboy, já como político Khan tratou de cultivar uma imagem de fiel devoto do islã, a principal religião do Paquistão. Ele fez demonstrações públicas de devoção e conquistou eleitores principalmente no norte do país, entre a população conservadora pashtun. No começo do ano, ele se casou pela terceira vez, desta vez com sua conselheira espiritual.
Populista e antielite
Na atual campanha, Khan conquistou os eleitores com um discurso de tons populistas, focado no combate à corrupção e ao nepotismo e na criação de empregos para os pobres, e anunciando que, em vez de morar no palácio do primeiro-ministro, a residência oficial, ele vai transformá-la num centro educacional.
Ele prometeu um "estado de bem-estar social islâmico" e atacou a "elite predatória que impede o desenvolvimento da nação", que tem 208 milhões de habitantes e uma taxa de analfabetismo superior a 40%.
O Paquistão, uma potência nuclear, enfrenta uma crise econômica que pode levar o país a solicitar um empréstimo ao FMI, apesar de o PTI não descartar pedir ajuda à China, maior aliado da nação e que o futuro premiê vê como modelo de desenvolvimento econômico.
A campanha de Khan foi recheada de ataques aos Estados Unidos e à arquirrival do Paquistão, a Índia. Mas, no seu primeiro discurso como futuro premiê, Khan amenizou o tom. Ele falou em melhorar as relações com os países vizinhos, incluindo a Índia, e defendeu uma "relação balanceada" com Washington.
O governo do presidente Donald Trump adotou uma linha dura em relação ao Paquistão, suspendendo ajuda e acusando o país de fazer muito pouco para combater o terrorismo. (Com Deutsche Welle)
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