Análise: Cúpula das Coreias pode trazer otimismo e aumentar sensação de segurança no Sul
O anúncio surpreendentemente substancial feito após a cúpula entre os dois líderes coreanos é um passo enorme na direção da paz duradoura na península da Coreia e de um Prêmio Nobel da Paz para Kim Jong-un e Moon Jae-in. Não, não, é o estertor mortal da formidável campanha de pressão liderada pelos EUA contra o Norte, enquanto ela desmorona sob o falso otimismo do envolvimento intercoreano. Ou talvez seja apenas a última promessa vazia de um regime norte-coreano famoso por recuar?
Como você vê a terceira cúpula neste ano entre Moon e Kim - e talvez haja mais uma em preparação, com Kim prometendo ir a Seul em breve - poderá depender de onde você se localiza, geográfica e politicamente.
A visão de Seul será principalmente de alívio, misturada com uma espécie de cansaço que muitos aqui usam como uma reação padrão para qualquer coisa que tenha a ver com seus vizinhos ao norte. A Coreia do Sul é um lugar profundamente dividido politicamente, com um abismo entre conservadores que odeiam o Norte e liberais que querem se aproximar. Mas para Moon, cujos assessores têm sugerido a intenção de conseguir proteção das armas convencionais do Norte, parece uma vitória doméstica, desde que os dois lados sigam em frente.
Afinal, grande parte do que Moon e Kim concordaram na quarta-feira (19), começando por desarmar a fronteira entre os dois (a mais armada do mundo), remover minas terrestres, criar zonas-tampão para evitar lutas acidentais e desmontar, sob a supervisão de inspetores estrangeiros, uma plataforma de lançamento de mísseis norte-coreana, poderá melhorar de forma tangível a segurança dos sul-coreanos.
"O Sul e o Norte concordaram hoje em retirar toda ameaça de todas as áreas da península da Coreia que possam causar guerra", declarou Moon ao lado de Kim, em Pyongyang, a capital norte-coreana.
"Ao criar a península da Coreia como um espaço permanente para a paz, poderemos retornar à normalidade de nossas vidas."
Moon Jae-in, presidente sul-coreano
Embora ainda haja temores de uma guerra nuclear entre alguns no Sul, uma preocupação muito mais comum é que algum tipo de choque na fronteira, onde milhões de soldados e peças de artilharia se confrontam, possa entrar em espiral descontrolada e reiniciar a Guerra da Coreia, que continua oficialmente porque foi encerrada em 1953 com um cessar-fogo, e não um tratado de paz.
As duas Coreias tiveram diversos choques navais sangrentos ao longo de sua disputada fronteira marítima. Em 2010, um ataque de torpedo atribuído ao Norte matou 46 marinheiros sul-coreanos, seguido meses depois por um ataque de artilharia norte-coreano que matou quatro sul-coreanos, incluindo dois civis, e provocou um contra-ataque da Coreia do Sul.
Os sul-coreanos são famosos por sua capacidade de manter a calma e seguir em frente diante da beligerância do Norte, mas seria um erro pensar que não há preocupação e um claro reconhecimento do perigo potencial quando a animosidade aumenta.
Cerca de 25 milhões de pessoas vivem na região da Grande Seul, que fica dentro do alcance da artilharia na fronteira próxima. E enquanto os sul-coreanos em geral ignoram as promessas da Coreia do Norte de transformar Seul em "um mar de fogo", eles também sabem que tecnicamente isso pode ser feito, mais ou menos. Na primeira vez em que Pyongyang fez essa ameaça, hoje comum, em 1994, causou pânico em Seul.
Muitos aqui sabiamente não emitem opiniões sobre se a afirmação tranquila do presidente sul-coreano de ter removido "toda ameaça" de guerra é correta, já que a história recente da Coreia é cheia de retórica pomposa que se dissolveu nos ventos da inimizade entre os rivais. Mas se Moon e Kim puderem pôr em prática o que concordaram nesta semana poderá haver um surto daquele sentimento tão raro quando se trata das relações entre as Coreias: otimismo.
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