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Fascista? Populista? Mundo debate como chamar Bolsonaro

24.out.2018 - Jair Bolsonaro (PSL) faz transmissão ao vivo no Facebook - Ueslei Marcelino/Reuters
24.out.2018 - Jair Bolsonaro (PSL) faz transmissão ao vivo no Facebook Imagem: Ueslei Marcelino/Reuters

Peter Prengaman

Da Associated Press

25/10/2018 11h53

Se o favorito na corrida presidencial do Brasil diz querer liberalizar uma economia amplamente fechada, então por que ele está sendo chamado de "populista"? Seus discursos são carregados de referências à violência, mas essa linguagem merece ser descrita como "extrema direita"?

E Jair Bolsonaro (PSL) é "fascista" quando faz comentários depreciativos sobre negros, indianos e gays? E quando ele diz que opositores políticos deveriam ser baleados ou lembra com nostalgia da ditadura de 1964-1985?

Conforme o domingo de eleição se aproxima, o deputado federal de sete mandatos é o foco de um debate feroz no Brasil e no exterior sobre como descrever um candidato cuja mistura eclética de políticas e linguagem dura emociona os partidários e aterroriza os detratores.

A ascensão de Bolsonaro se assemelha à de outros políticos em todo o mundo que costumam empregar retóricas semelhantes, incluindo o presidente dos EUA, Donald Trump, o presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, e vários líderes em toda a Europa.

Seu adversário, Fernando Haddad (PT), frequentemente diz que Bolsonaro é "extremista" e representa "um risco" para a democracia. O Partido dos Trabalhadores de Haddad chegou ao ponto de comparar Bolsonaro a Adolf Hitler e ao partido nazista em vídeos de campanha.

Então, quais adjetivos são apropriados para o ex-militar? Existem várias opiniões.

"A imprensa insiste em chamá-lo de populista de direita", escreveu recentemente em seu blog o consultor político Jesus Silva Herzog Marquez, do México. "Ele não é. Ele é fascista e é importante fazer a distinção."

Bolsonaro "não é um fascista, mas um candidato pré-moderno e conservador do século 19", disse Carlos Pereira, analista político da Fundação Getulio Vargas no Rio de Janeiro. "Ele nunca se modernizou."

O debate vem em parte porque as posições políticas de Bolsonaro estão às vezes em desacordo com suas declarações públicas e com a narrativa que ele força sobre si mesmo: que ele é um ex-capitão do Exército pronto para aniquilar criminosos e políticos corruptos para o bem da nação.

Tome o termo populista, que muitas agências de notícias locais e estrangeiras usam rotineiramente para descrevê-lo.

A retórica de Bolsonaro enfatiza "o povo" contra "a elite", palavras que abrangem as definições mais comuns do termo. Mas os especialistas observam que o que ele prometeu fazer com a economia, a maior da América Latina, dificilmente pode ser chamado de populista.

Ele disse que o consultor econômico Paulo Guedes, economista e banqueiro formado na Universidade de Chicago, irá, enquanto ministro da fazenda, supervisionar uma grande reforma, incluindo a do sistema previdenciário, cortando gastos e realizando grandes privatizações.

Talvez os maiores debates se centrem nos termos "direita forte" ou "extrema direita". O próprio candidato discorda dessas descrições.

"Eu não estou na extrema direita. Mostre-me um ato que me faz extrema direita", disse Bolsonaro no início deste mês durante um evento no Rio de Janeiro.

Ele aparentemente acredita que a descrição surgiu de suas declarações anteriores sobre imigração. Bolsonaro chamou os imigrantes de vários países pobres de "escória do mundo" e disse durante o mesmo evento que o Brasil não pode se tornar um "país de fronteiras abertas".

"Sou um admirador do presidente Trump. Ele quer que a América seja grande. Eu quero que o Brasil seja grande", acrescentou.

A deputada francesa Marine Le Pen, que é descrita por muitas organizações de notícias, incluindo a Associated Press, como "extrema direita", disse que o termo não se aplica a Bolsonaro.

"Não vejo o senhor Bolsonaro como um candidato de extrema direita", disse ela durante entrevista à emissora France 2 neste mês. "Ele diz coisas desagradáveis que seriam inaceitáveis na França. As culturas são diferentes".

Mas organizações de notícias, acadêmicos e consultores políticos defendem o uso dos termos baseados nas declarações de Bolsonaro, que vão desde a depreciação de negros, gays e povos indígenas até declarações de que os partidários do PT deveriam ser mortos.

A Folha de S. Paulo, um dos principais jornais diários do Brasil, deu destaque a esta discussão neste mês quando publicamente debateu uma nota que foi enviada à redação dizendo que Bolsonaro poderia ser descrito como "de direita", mas não de "extrema direita."

Os termos "extrema esquerda" ou "extrema direita" são "para grupos que praticam ou pregam a violência como um método político", dizia o memorando.

Cartas para a redação criticando e apoiando a decisão chegaram aos montes, e a ombudsman do jornal revisou a questão. Sua opinião: o jornal estava errado em não chamar Bolsonaro de "extrema direita".

Paula Cesarino Costa escreveu que o termo se encaixa porque Bolsonaro defendeu explicitamente a violação dos direitos humanos, questionou os direitos das minorias e negou que o governo militar tenha sido uma ditadura que usou tortura.

A Folha e outros pilares da imprensa brasileira "não parecem interessados na dimensão histórica desse entendimento", afirmou.

O termo mais controverso usado às vezes para descrever Bolsonaro e sua campanha é "fascista", e seu uso vai além dos oponentes ou dos trolls das mídias sociais.

No domingo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que os comentários de um dos filhos de Bolsonaro, um deputado federal e conselheiro próximo, "cheiravam a fascismo". Um vídeo de Eduardo Bolsonaro foi publicado argumentando, durante uma palestra em julho, que a principal corte do país poderia ser fechada com apenas alguns soldados se, por qualquer motivo, seu pai não fosse autorizado a assumir o cargo.

Bolsonaro defende uma liderança forte e até autoritária e exalta o Estado sobre os indivíduos, aspectos centrais do fascismo. Seu lema de campanha é: "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos".

Mas as pessoas que argumentam que o termo não se aplica observam que é um salto muito grande colocar Bolsonaro na mesma categoria do homem forte italiano Benito Mussolini, o primeiro a usar o termo fascismo no início do século 20, ou Hitler, responsável pelo extermínio de milhões de judeus.

"É preciso ficar alerta para o futuro", escreveu Helio Gurovitz, um importante blogueiro do portal brasileiro de notícias G1. " Mas, hoje, a generalização em torno de termos de significado histórico preciso, como “fascismo” ou “nazismo”, é um erro de categoria que só faz alimentar sua campanha e obscurecer os riscos reais de Bolsonaro."