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Maioria na Câmara, democratas são cautelosos sobre impeachment de Trump

Pablo Martinez Monsivais/AP Photo
Imagem: Pablo Martinez Monsivais/AP Photo

Da Associated Press, em Washington (EUA) 

15/12/2018 04h00

Alguns dos democratas que vão assumir a maioria na Câmara em janeiro se dispõem a dizer que o presidente dos EUA, Donald Trump, pode ter cometido ofensas dignas de impeachment. Mas isso não quer dizer que eles tentarão demiti-lo, pelo menos ainda não.

Por vários motivos, os democratas têm sido extremamente cautelosos com a palavra "impeachment". Eles sabem que ela pode ser um tiro pela culatra politicamente, e muitos deles estavam no cargo durante o impeachment do presidente Bill Clinton, 20 anos atrás. O deputado por Nova York Jerry Nadler, o principal democrata na Comissão de Justiça da Câmara e o provável próximo presidente do painel, disse que o impeachment é um "trauma".

Nadler disse à CNN no domingo (9) que se for provado que Trump instruiu seu ex-advogado a cometer violações da lei de financiamento de campanha, como foi sugerido pelo procurador especial Robert Mueller em um novo documento apresentado ao tribunal, ele acredita que seria uma ofensa digna de impeachment. Mas Nadler acrescentou: "Se elas são importantes o suficiente para justificar um impeachment é outra questão".

Não está claro se a distinção entre uma ofensa digna de impeachment e o próprio impeachment satisfará aos da base democrata que estão ansiosos para chutar Trump para fora do cargo. Mas os democratas estão andando nessa linha fina, por enquanto. 

Cinco motivos pelos quais os democratas não estão prontos para pedir o impeachment de Trump: 

Outras questões a resolver

Um tribunal do Nova York condenou, na quarta-feira, Michael Cohen, ex-advogado pessoal do presidente dos EUA, Donald Trump, a três anos de prisão. Cohen é acusado, entre outras coisas, de silenciar, durante a campanha presidencial de 2016, duas mulheres que teriam mantido relações sexuais com o republicano. Em novembro, Cohen, que tem 52 anos, havia se declarado culpado de oito delitos em acusações de evasão de impostos, falso testemunho e violação de lei de financiamento de campanhas eleitorais. É a primeira vez que Trump foi diretamente ligado a um crime federal. 

As violações derivaram de pagamentos que Cohen fez para comprar o silêncio da atriz pornô Stormy Daniels e da ex-modelo da "Playboy" Karen McDougal. Ambas afirmaram que tiveram casos com Trump, o que a Casa Branca nega. Trump também nega saber do pagamento, mas os documentos contradizem essa afirmação.

Provavelmente virão mais coisas de Mueller. Esperam-se acusações relacionadas a e-mails roubados durante a eleição presidencial de 2016 que podem implicar algumas pessoas no círculo de Trump. E Mueller poderá completar um relatório maior na conclusão de sua investigação. 

Se os democratas se moverem para um impeachment de Trump, provavelmente será por mais que meras violações de financiamento de campanha. 

Pode retroagir

Os democratas conhecem o preço que os republicanos pagaram pelo impeachment de Clinton há 20 anos. Tanto Nadler como a líder democrata da Câmara, Nancy Pelosi, estavam no Congresso na época, e Nadler na Comissão de Justiça. Os republicanos foram considerados exagerados, e isso ajudou a reforçar os números de Clinton nas urnas e conquistar assentos para os democratas na eleição de meio de mandato em 1998.

Pelosi também foi pressionada a pedir o impeachment do presidente George W. Bush em 2006, quando ela foi presidente da Câmara pela primeira vez. Ela disse que se os democratas tivessem passado seus primeiros dois anos de maioria tentando o impeachment de Bush os eleitores talvez não tivessem eleito Barack Obama presidente em 2008.

Os republicanos também são conscientes de que o impeachment pode sair pela culatra.

"Eu acho que ajudará o presidente a se reeleger", disse o líder da maioria no Senado, Mitch McConnell, sobre a possibilidade de os democratas pedirem o impeachment. "Esse negócio de assédio presidencial pode ou não ser exatamente o vencedor que eles acham que é." 

Necessária aprovação republicana

Pelosi chamou um impeachment de "atividade divisora" que precisa de aprovação de ambos os partidos para funcionar. "Se esse for o caso, então deve estar evidente para os democratas e os republicanos", disse ela.

Nadler disse o mesmo, que deveria haver pelo menos algum apoio republicano se eles tomarem a medida de iniciar um processo de impeachment. 

Se os democratas se ativerem a isso, significaria que Mueller teria de produzir muito mais provas do envolvimento de Trump em crimes. Nenhum republicano até agora chegou perto de apoiar o impeachment, e muitos republicanos moderados que criticam Trump perderam a corrida para se reelegerem em novembro. 

Trump pode ser contido de outras formas

Os democratas tentaram manter o enfoque público em investigar o presidente e avançar em políticas como melhorar a infraestrutura e baixar os custos dos tratamentos de saúde. 

Várias comissões lideradas por democratas deverão iniciar investigações de Trump e da Casa Branca, incluindo sobre se os russos usaram dinheiro lavado para transações com a Organização Trump. Eles também vão tentar proteger a investigação de Mueller por meio de legislação.

Legisladores novatos que ganharam em distritos concorridos e deram a maioria aos democratas deixaram claro que não querem enfocar questões como o impeachment.

O deputado eleito democrata Jeff Van Drew, de Nova Jersey, disse pouco depois da eleição que seu eleitorado "não quer apenas nos ver discutir, investigar e fazer audiências".

O que acontece agora

Afinal, mesmo que a Câmara democrata aprovasse artigos de impeachment, a Constituição exige dois terços dos votos do Senado para condenar. E isso seria improvável em um Senado liderado por republicanos.

E alguns senadores democratas poderiam relutar em apoiar o impeachment, também, já que vários deles representam Estados oscilantes.

"Minha preocupação é que, se o impeachment for acionado com as provas que temos hoje, pelo menos um terço do país pensaria que foi simples vingança política e um golpe contra o presidente", disse o senador independente Angus King, do Maine, ao programa "Meet the Press" da NBC, no domingo. "Isso não seria nada bom para nós. A melhor maneira de resolver um problema como esse, para mim, são eleições."