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Novo titular da Apex defende Araújo após impasse de chefe que não quis sair

O novo presidente da Apex, Mário Vilalva, após reunião que teve a participação do presidente Jair Bolsonaro e do ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo  - Divulgação
O novo presidente da Apex, Mário Vilalva, após reunião que teve a participação do presidente Jair Bolsonaro e do ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo Imagem: Divulgação

Talita Marchao

Do UOL, em São Paulo

15/01/2019 19h06

O embaixador Mario Vilalva, desde a última quinta-feira (10) no comando da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), defendeu a atuação do chanceler Ernesto Araújo na demissão de Alex Carreiro, que ficou dez dias no cargo e causou uma das primeira saias-justas do Itamaraty.

"Fui testemunha ocular de cada momento, e ele [Araújo] agiu com extrema lisura, ética e não cometeu nenhum ato fora do script", disse Vilalva em entrevista ao UOL nesta terça-feira (15).

A demissão de Alex Carreiro foi a primeira baixa do governo de Jair Bolsonaro (PSL). Carreiro recusou-se a deixar o cargo e desmentiu Araújo, que havia dito, nas redes sociais, que o subordinado pedira para deixar o órgão. Carreiro foi trabalhar no dia seguinte à publicação do chanceler chegou a dizer que só aceitaria ser demitido pelo presidente Bolsonaro - que confirmou o afastamento no dia seguinte.

Em meio ao "sai, não sai", vazaram informações de que Carreiro não teria aceitado deixar o cargo e recusava-se a ver divulgada a versão de que teria pedido demissão.

Em uma troca de mensagens no Whatsapp divulgada pela imprensa, Araújo teria dito "Caro Alex, estou sendo cobrado. Preciso anunciar agora. Colocarei em termos de seu pedido de saída. Assinei a indicação do seu sucessor". Em resposta, Carreiro disse "Ministro, não formalizei qualquer pedido". A troca de mensagens teria sido mostrada por Carreiro a integrantes do PSL, partido de Bolsonaro, e ao próprio presidente.

"Araújo não foi precipitado, e ficou essa coisa de que ele não teria feito isto ou aquilo adequadamente no processo. Mas não, eu posso te garantir. O que a imprensa disse não fez justiça", disse Vilalva.

"Ele me chamou no mesmo dia do anúncio da demissão e fez o convite. Ele é meu colega, é mais jovem do que eu, mas o conheço muito bem do Itamaraty, que é uma casa relativamente pequena. Araújo conhece meu currículo, minha trajetória. Fui uma escolha técnica. Ele não recebeu nenhuma pressão política ou pedido de ninguém", afirma o embaixador.

A escolha de Carreiro havia sido questionada que o profissional não falava inglês, nem tinha experiência com comércio exterior --a Apex é um órgão de promoção de exportadores brasileiros e de internacionalização de empresas brasileiras hoje vinculado ao Itamaraty, que faz essa interlocução internacional.

Preferência por concursados

Vilalva é diplomata de carreira com experiência em diplomacia econômica e passagens pelas embaixadas dos EUA, África do Sul e Itália. Foi ainda embaixador no Chile, em Portugal e mais recentemente na Alemanha. Foi ainda parte da equipe direta dos ex-chanceleres Celso Amorim (durante o governo Itamar Franco) e de Luiz Felipe Lampreia, além de ter sido diretor do Departamento de Promoção Comercial do Itamaraty entre 2000 e 2006.

O embaixador quer modernizar a Apex. Entre as primeiras medidas, pretende rever a nomeação de 26 servidores pelo ex-chefe do órgão. Vilalva explicou que pretende seguir a recomendação do TCU (Tribunal de Contas da União) para que, gradualmente, os funcionários de nomeação sejam substituídos por pessoas concursadas.

"É muito mais justo ter pessoas concursadas. Não fica essa coisa de que cada um que chegar aqui vá nomear o seu grupo, as suas pessoas. É muito melhor ter uma máquina com gente concursada do que operar na base de quem chega e nomeia todo mundo", argumentou o embaixador.

"O Itamaraty funciona assim, as Forças Armadas operam assim. Se você tem pessoas concursadas, isso dá mais estabilidade para a instituição, dá segurança, perenidade. É mais justo", ressaltou. "Está na linha do governo, que quer designações técnicas. Eu mesmo fui escolhido tecnicamente, acho que deve ser assim na Apex também".

EUA com atenção especial

Vilalva explicou a Apex depende das orientações diplomáticas do Itamaraty, já que a agência "não faz política, esta atribuição é do ministério".

"No caso dos EUA, por exemplo, essa prioridade parece clara. Então vamos trabalhar no sentido de encontrar mais projetos específicos para o mercado norte-americano, aproveitando até o fato de que é um dos maiores mercados do mundo e não recebeu tanta atenção no passado recente", diz Vilalva. Já sobre a China, maior parceira comercial do Brasil, ainda aguarda as orientações do MRE (Ministério de Relações Exteriores)

"O Mercosul também é um mercado muito importante. A Argentina é um dos grandes parceiros do Brasil, e temos uma relação comercial muito forte com os vizinhos, não podemos desconsiderar isso. Essa região é um mercado importante. Mas a prioridade política é a chancelaria quem vai dizer", explica o embaixador.

Segundo ele, a Apex ainda aguarda orientações sobre uma eventual abertura do Mercosul --que pode flexibilizar suas negociações-- e até mesmo de um futuro acordo do Mercosul com a UE. "Quando sair, definiremos os melhores planos de ação para levar o exportador brasileiro até esse mercado".