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Caminhão com ajuda é queimado na fronteira entre Venezuela e Colômbia

Do UOL, em São Paulo*

23/02/2019 17h23

Pelo menos um caminhão carregado de ajuda humanitária foi incendiado na tarde de hoje em uma ponte na fronteira entre a Colômbia e a Venezuela. Militares venezuelanos bloquearam a passagem de uma caravana de quatro caminhões e jogaram bombas de gás lacrimogêneo contra os manifestantes.

Um vídeo do canal venezuelano NTN 24 mostra um grupo de pessoas tentando salvar parte da ajuda humanitária que estava no caminhão em chamas.

"As pessoas estão salvando a carga do caminhão e cuidando da ajuda humanitária que [Nicolás] Maduro, o ditador, ordenou que queimassem", disse Gaby Arellano, deputado da oposição, aos repórteres em meio aos tumultos na ponte Santander, em Ureña, na Venezuela.

Após o fechamento da fronteira com a Colômbia na noite de ontem, a Venezuela registra hoje protestos e confrontos na fronteira entre os dois países. Militares venezuelanos usaram gás lacrimogêneo e balas de borracha contra dezenas de pessoas que tentavam chegar à Colômbia. Manifestantes atearam fogo em um ônibus, queimando também uma casa próxima.

O confronto começou quando o grupo tentava cruzar a ponte Francisco de Paula Santander, que liga a cidade venezuelana de Ureña com a colombiana Cúcuta, foram dispersados por integrantes da Guarda Nacional, conforme uma testemunha ouvida pela agência Reuters que estava no local.

Enquanto isso, duas camionetes com a ajuda humanitária enviadas pelo governo brasileiro chegaram à cidade de Pacaraima, na fronteira do Brasil com a Venezuela, que também está fechada desde quinta (21). A primeira chegou por volta das 11h. A segunda atrasou uma hora, pois parou no meio do caminho com o pneu furado. Na tarde de sábado, os dois veículos estavam estacionados próximos a fronteira, do lado brasileiro, em meio a algumas dezenas de venezuelanos que aguardam a distribuição dos mantimentos. 

As fronteiras entre Venezuela e Colômbia e Venezuela e Brasil foram fechadas por ordem do ditador Nicolás Maduro para evitar a entrada de ajuda humanitária.

Apesar disso, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, afirmou hoje que espera que as forças venezuelanas permitam que o país receba a ajuda humanitária.

Ministros - Ricardo Moraes/Reuters - Ricardo Moraes/Reuters
O ministro da Relações Exteriores, Ernesto Araújo, durante entrevista coletiva neste sábado (23)
Imagem: Ricardo Moraes/Reuters

"Estamos na expectativa de que se permita o ingresso na Venezuela. No momento não temos expectativa de nenhum confronto. Temos a expectativa do momento de chegada, que nesse momento, uma luz se acenda e se abra a fronteira. Se não abrir, vamos consultar os representantes venezuelanos para ver o que fazer com esse carregamento."

Araújo está em Pacaraima, em Roraima, cidade pela qual milhares de venezuelanos entravam em território brasileiro para fugir da crise.

Qual a ajuda humanitária enviada pelo Brasil?

Foram disponibilizados quatro kits emergenciais de saúde, doados pelo Ministério da Saúde, compostos de medicamentos para doenças de baixa complexidade. Esse primeiro carregamento possui analgésicos, antibióticos e insumos hospitalares que podem servir 6.000 pessoas e podem durar um mês.

Também compõe o carregamento arroz doado pelo governo dos Estados Unidos e leite em pó doado pelo governo brasileiro. Segundo Araújo, não há previsão de que a ajuda humanitária seja disponibilizada no Brasil para que os venezuelanos busquem os produtos.

Para María Teresa Balandria, representante do governo opositor da Venezuela, a expectativa é de que os guardas das fronteiras reflitam que nesses caminhões estão indo alimentos e remédios para suas famílias também. "Não estamos pedindo outra coisa que não seja aliviar a dor dos enfermos. Pedimos para que as crianças não morram mais de fome."

Mortes na fronteira

mapa fronteiras fechadas -  -

Ontem, ao menos duas pessoas morreram e outras ficaram feridas durante confrontos com forças de segurança venezuelanas na fronteira com o Brasil. Militares abriram fogo contra um grupo de civis que tentava ajudar a manter a fronteira da Venezuela com o Brasil aberta. Segundo opositores, os mortos são da comunidade indígena Kumaracapay. A Venezuela, porém, nega que as forças do governo tenham entrada em confronto com indígenas.

Protestos

O autodeclarado presidente em exercício da Venezuela, Juan Guaidó, publicou mensagem no Twitter hoje convocando a população para uma mobilização em massa pelas ruas do país para pressionar as forças venezuelanas a deixar que caminhões com doações de cunho humanitário entrem no país.

"Vamos em paz, sem violência e com determinação de mudanças para exigir que a ajuda humanitária entre", disse Guaidó orientando os manifestantes a vestirem branco e entregarem mensagens a militares em quartéis para apoiarem a entrada da ajuda no país.

Guaidó também advertiu os militares: "Hoje vocês têm a vida de centenas de milhares de Venezuelanos em suas mãos. Todo o país e o mundo estão com os olhos voltados a vocês. Decidam bem".

*Com agências internacionais