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Em gesto histórico, Bolsonaro visita Muro das Lamentações com Netanyahu

Beatriz Montesanti

Do UOL, em São Paulo

01/04/2019 11h27Atualizada em 01/04/2019 12h45

Em um gesto histórico e sob chuva, o presidente Jair Bolsonaro visitou, no fim da manhã de hoje (no horário de Brasília), o Muro das Lamentações, em Jerusalém, acompanhando do premiê israelense Benjamin Netanyahu. A visita durou cerca de 15 minutos.

Esta é a primeira vez que um presidente brasileiro é acompanhado de uma autoridade israelense em visita ao local, considerado sagrado para a religião judaica. A agenda faz parte de uma viagem de três dias de Bolsonaro a Israel, interpretada como a consolidação do alinhamento brasileiro ao país do Oriente Médio e à guinada da diplomacia nacional na região.

No local, Bolsonaro, usando um quipá, depositou um pedido, redigido em papel, e fez sua oração, apoiando as duas mãos sobre o Muro. Na sequência, Netanyahu repetiu o gesto, seguido pelo chanceler Ernesto Araújo. Pouco antes de a visita começar, Bolsonaro disse não se tratar de um ato político, mas sim pessoal.

Em gesto histórico, Jair Bolsonaro visita o Muro das Lamentações, acompanhado do premiê Benjamin Netanyahu - Menahem Kahana/AFP - Menahem Kahana/AFP
Em gesto histórico, Jair Bolsonaro visita o Muro das Lamentações, acompanhado do premiê Benjamin Netanyahu
Imagem: Menahem Kahana/AFP

Tradicionalmente, chefes de Estado visitam o Muro sem a presença de autoridades israelenses. É uma forma de manter à equidistância em relação ao conflito israelo-palestino. Isso porque o Muro das Lamentações está localizado no interior da Cidade Velha, parte oriental de Jerusalém, que é reivindicada pelos palestinos como capital de seu futuro Estado. Hoje, a região está sob ocupação de Israel.

Há um ano, quando esteve no país, o presidente norte-americano Donald Trump também visitou o Muro, porém sem autoridades israelenses na comitiva. Já no começo de maio, no entanto, o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, esteve no local ao lado de Netanyahu. O gesto pode ser interpretado como endosso à alegação israelense de que Jerusalém é sua "capital única e indivisível".

Visita consolida alinhamento diplomático

Especialistas de relações internacionais veem na visita de Bolsonaro a consolidação da guinada diplomática brasileira. Apesar de manter boas relações com os dois governos, o Brasil sempre votou, nos organismos internacionais, a favor de resoluções que condenavam atos de desrespeito aos direitos humanos praticados por Israel.

A guinada teve início já na posse de Jair Bolsonaro, que contou com a presença de Netanyahu. Desde então, há a expectativa de que o Brasil mude sua embaixada de Tel Aviv para Jerusalém, aos moldes do que fez os Estados Unidos. A mudança tem resistência dentro do próprio governo brasileiro, já que setores se preocupam com uma possível retaliação comercial dos árabes.

Durante sua visita em Israel, Bolsonaro anunciou abrir um escritório em Jerusalém para promoção do comércio entre os dois países. Disse ainda pretender mudar a embaixada até o final de seu mandato, em 2022. Como resposta, a Autoridade Palestina convocou seu embaixador em Brasília para prestar esclarecimentos.

A Palestina considerou a decisão uma "flagrante violação da legitimidade internacional e suas resoluções; uma agressão direta ao nosso povo e a seus direitos e uma resposta afirmativa para a pressão israelense-americana que visa reforçar a ocupação e a construção de assentamentos na área ocupada em Jerusalém".

O Brasil também tem uma representação diplomática em Ramala, atual capital da Cisjordânia, que fica localizada a cerca de 15 Km de Jerusalém. Procurados pelo UOL, representantes do Escritório de Representação do Brasil junto ao Estado de Palestina disseram não ter recebido nenhuma orientação do governo brasileiro e estar "tudo tranquilo" na região em relação à visita do presidente brasileiro. Ao contrário de seus antecessores, Bolsonaro não irá visitar os Territórios Palestinos Ocupados, nem se encontrará com representantes palestinos.

Bolsonaro condecorou militares de Brumadinho

Jair Bolsonaro chegou em Israel no domingo (31). Desde então, o presidente assinou uma série de acordos bilaterais, envolvendo principalmente a compra de tecnologia de segurança.

Hoje mais cedo, ele esteve em Tel Aviv, onde condecorou militares israelenses que participaram dos trabalhos de resgate em Brumadinho, após o rompimento de uma barragem de minério, em janeiro deste ano. Depois, esteve na Igreja do Santo Sepulcro, também na Cidade Velha, e considerado pelos cristãos o local onde Jesus foi crucificado e ressuscitou.