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Parque temático na Argentina 'ressuscita' Jesus e tem Muro das Lamentações

Luciana Taddeo

Colaboração para o UOL, em Buenos Aires

19/04/2019 04h00Atualizada em 19/04/2019 09h30

Às margens do rio da Prata, um Jesus de 18 metros de altura ressuscita de hora em hora. Com os braços abertos, ele emerge de uma montanha, vira para um lado e para o outro, inclina a cabeça e fecha os olhos, como se agradecesse aos céus.

A atração, registrada pelos celulares do público que assiste de uma arquibancada, é um dos momentos mais esperados da visita ao parque Tierra Santa, na capital argentina.

Criado em dezembro de 1999, com vistas ao Jubileu da Igreja Católica, o local já recebeu cerca de 8 milhões de visitantes, inclusive o então arcebispo da cidade de Buenos Aires, Jorge Bergoglio, atualmente chamado de papa Francisco, que inaugurou, abençoou e declarou o lugar como "centro de evangelização único, de enriquecimento cultural e espiritual".

Parque temático religioso da América Latina, o local se propõe a ser uma viagem à Jerusalém das passagens bíblicas.

Com a proposta de ser uma maquete da Jerusalém bíblica, o parque recebeu 8 milhões de visitantes desde que foi inaugurado, em dezembro de 1999; imagem do Monte do Calvário - Luciana Taddeo/UOL - Luciana Taddeo/UOL
O parque recebeu 8 milhões de visitantes desde que foi inaugurado, em 1999
Imagem: Luciana Taddeo/UOL

Mas seus sete hectares também abarcam outros pontos geográficos. Neles pode-se ver, por exemplo, um presépio animado, que apresenta, com bonecos de movimentos mecânicos limitados, o nascimento de Jesus --primeiro ponto do passeio--, ou subir no Monte Calvário, que, na Bíblia, é indicado como próximo à cidade.

A imersão começa logo na chegada, com os visitantes sendo recebidos por soldados romanos. Após a passagem pelo presépio, os grupos são conduzidos por guias caracterizados como beduínos ou franciscanos, chamados de "catequistas".

Pelo caminho, não faltam estátuas de camelos, urubus --que, segundo um soldado romano contou à reportagem, se mantinham nas redondezas porque corpos eram jogados para fora das muralhas da cidade-- e de palmeiras, que dividem o espaço com árvores naturais.

Também são diversas as grutas e túneis em um espaço cheio de representações de construções da época, como o palácio romano e o templo hebreu.

Momento da Via-Crúcis em que Jesus é pregado na cruz; no percurso, diversas passagens bíblicas e a Via Crúcis são representadas - Luciana Taddeo/UOL - Luciana Taddeo/UOL
Momento em que Jesus é pregado na cruz; diversas passagens da Via-Crúcis são representadas
Imagem: Luciana Taddeo/UOL

Pelas ruas, o visitante se depara com a retratação de diversas passagens bíblicas, como "Jesus abençoa as crianças", "Jesus cura os enfermos", "Jesus expulsa os vendedores do templo", "O lava-pés", "A negação de Pedro" e a "A traição de Judas".

Segundo a diretora-geral do parque, Maria Antonia Ferro, apesar de não ser uma igreja, o local busca evangelizar os visitantes. "É um lugar onde as pessoas entram e se conectam com o mais profundo de seu ser. Elas vivem a vida de Jesus e a história antiga, de uma maneira que se transportam para 2.000 anos atrás. É forte. Tem que percorrer, viver e sentir isso", afirma.

Ela também diz que, apesar de recriar a vida de Jesus, o parque é aberto a todos os credos, já que conta com a representação de uma mesquita, e de uma sinagoga e uma réplica do Muro das Lamentações. Nele, os visitantes podem deixar pedidos entre as fendas, com a promessa de que, uma vez por ano, são coletados por um rabino e levados, em uma urna gigante, à sinagoga do muro real, em Jerusalém.

Além do nascimento e da ressurreição de Cristo, há ainda "A Criação" e "A Última Ceia", duas atrações chamadas de "catequeses de luz, som e movimento". Nas apresentações, o movimento rígido de animais, apóstolos e Adão e Eva denunciam os 20 anos de idade do parque.

Os visitantes são recepcionados na entrada do parque por soldados romanos e "guias catequistas", caracterizados como beduínos ou franciscanos - Luciana Taddeo/UOL - Luciana Taddeo/UOL
Os visitantes são recepcionados na entrada do parque por soldados romanos
Imagem: Luciana Taddeo/UOL

Ao longo do percurso, estão representados momentos como o julgamento de Jesus, a coroação de espinhos e a Via-Crúcis, que passa por um túnel e termina a céu aberto.

"É um lugar basicamente de crescimento espiritual, acho que cada catequista se esforça no seu percurso para dar, em cada ponto bíblico, a mensagem de que é possível ter esperança, e o público recebe isso da melhor maneira, muita gente vai embora chorando, outros vão com a alma feliz, dizem que estavam mal e a visita deu um pouco de paz", conta uma das guias, a argentina Andrea Fajardo.

A temporada alta do parque temático é a Semana Santa, quando são recriados, ao vivo, a morte e a ressurreição de Jesus. Segundo a direção do parque, do Domingo de Ramos ao Domingo de Páscoa, o local recebe todos os anos cerca de 50 mil pessoas.

Os ingressos para o parque, que abre de sexta a domingo, variam de 180 pesos (cerca de R$ 17) a 370 pesos (R$ 35).