Topo

Esse conteúdo é antigo

Queda de Evo Morales estimula forças tenebrosas de direita, diz Amorim

Para ex-chanceler, situação na Bolívia foi um golpe - Antonio Cruz/Agência Brasil
Para ex-chanceler, situação na Bolívia foi um golpe Imagem: Antonio Cruz/Agência Brasil

Luciana Taddeo

Colaboração para o UOL, em Buenos Aires

10/11/2019 20h39

A queda de Evo Morales, que renunciou à presidência da Bolívia depois de uma onda de protestos, pode estimular a extrema-direita na região, na visão do diplomata Celso Amorim, que foi ministro de Relações Exteriores durante o governo Luiz Inácio Lula da Silva.

Para ele, as insatisfações populares contra governos de esquerda existem, mas em vários casos são insufladas e manipuladas. "[O caso da Bolívia] Pode estimular forças tenebrosas que estão em ação, forças de extrema-direita que manipulam essas situações [insatisfações populares]. Não é que essas situações não existem. Como em 2013 aqui no Brasil [os protestos de junho daquele ano], pode ter surgido autenticamente, mas foi manipulado depois."

Amorim classifica a situação na Bolívia como um golpe. Evo Morales venceu as eleições de 20 de outubro que lhe dariam mais um mandato presidencial, mas houve denúncias de fraude, e a OEA (Organização dos Estados Americanos) apontou irregularidades no pleito.

Uma onda de protestos tomou conta do país nas últimas duas semanas, inclusive com a adesão de policiais nos últimos dias. As casas da irmã de Evo Morales e políticos ligados ao governo foram atacadas. O comando das Forças Armadas e opositores pediram sua renúncia.

Morales anunciou hoje a convocação de novas eleições, mas horas depois decidiu renunciar em uma tentativa de pacificar o país.

"Foi golpe"

"O Evo tomou a atitude mais republicana que é possível tomar, que é convocar eleições. Se de fato todo mundo achou que era fraude, tinha chance de provar isso nas urnas. E eles não quiseram isso porque eles têm medo de que o Evo ganhe de novo. Só isso explica o golpe", analisa o ex-chanceler Amorim.

"Se o Evo já tinha demonstrado a disposição de chamar a OEA, de ter OEA [acompanhando a votação], também não podem dizer que ele ia fraudar de novo. Não há como dizer isso. Os olhos do mundo inteiro estariam em cima dele", diz o diplomata. "A única explicação é que queriam tirá-lo mesmo, não queriam uma eleição livre."

Amorim exaltou o desempenho de Morales na economia. "Não vou dizer que não haja descontentamentos, até um certo cansaço de uma parte da população [como Evo Morales]. Agora a economia boliviana era a que mais crescia na América do Sul. Ele tinha aproveitado muito bem os recursos que vierem da exportação do gás e outras coisas. Tirou muita gente da pobreza."