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Onda de protestos na América do Sul já deixou ao menos 110 mortos

Protestos na Praça Baquedano, em Santiago, no Chile - Susana Hidalgo/Reprodução Instagram @su_hidalgo
Protestos na Praça Baquedano, em Santiago, no Chile Imagem: Susana Hidalgo/Reprodução Instagram @su_hidalgo

Ana Carla Bermúdez

Do UOL, em São Paulo

18/11/2019 15h30

Resumo da notícia

  • Protestos vêm atingindo diversos países da América do Sul desde janeiro
  • Manifestantes foram às ruas na Bolívia, Chile, Equador e Venezuela
  • Protestos tiveram confrontos e violência
  • Até hoje, pelo menos 110 pessoas morreram

Pelo menos 110 pessoas morreram em meio à onda de protestos que vem atingindo diversos países da América do Sul desde janeiro deste ano.

Nos últimos meses, manifestantes foram às ruas de países como Equador, Chile e Bolívia para protestar contra medidas políticas e econômicas dos governos de Lenín Moreno, Sebastián Piñera e Evo Morales, respectivamente.

Na Venezuela, que passa por uma crise política há anos, a situação se agravou depois que o líder da oposição, Juan Guaidó, se autoproclamou presidente interino do país. Ao menos 46 pessoas morreram, até hoje, em conflitos envolvendo apoiadores de Guaidó e do ditador Nicolás Maduro, que continua no governo da Venezuela.

Os confrontos violentos aconteceram também nos protestos nos demais países. Na Bolívia, organizações internacionais criticaram o "uso desproporcional da força militar e policial" contra apoiadores de Evo Morales. Em quase um mês de protestos, 23 pessoas morreram no país.

No Chile, a repressão das forças policiais deixou ao menos 23 mortos e outras centenas de pessoas perderam a visão.

As manifestações em países próximos ao Brasil serviram de contexto para uma fala do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que disse ver riscos de "radicalização" da esquerda -e que, nesse caso, uma "resposta" poderia vir "via um novo AI-5". Especialistas, no entanto, negam que exista possibilidade de "contaminação" desse cenário no Brasil.

Bolívia - ao menos 23 mortos

Os protestos na Bolívia começaram depois das eleições nacionais de 20 de outubro, quando Evo Morales foi eleito em primeiro turno para seu quarto mandato na presidência do país. O processo eleitoral foi marcado por denúncias de fraude pela oposição, enquanto Morales passou a denunciar um "golpe de Estado em curso".

A situação se agravou com uma série de protestos pelas ruas e, em meio a uma escalada de violência, sedes de prefeituras e tribunais foram atacados. Casas de familiares de Morales foram incendiadas.

Morales chegou a aceitar a realização de novas eleições, mas horas depois as Forças Armadas pediram a sua renúncia. Junto a ele, diversas outras autoridades da cadeia de sucessão para a Presidência da Bolívia renunciaram, deixando um vácuo de poder no país.

Hoje, Morales se encontra asilado no México e a senadora Jeanine Añez se autoproclamou presidente da Bolívia. Os protestos, no entanto, continuam pelo país. Em menos de um mês de instabilidade política, o número de mortos chegou a 23. Outras 715 pessoas ficaram feridas.

Além disso, a CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos) classificou como "grave" um decreto do governo interino que autoriza os militares a controlar a ordem pública e os isenta de responsabilidades em caso de excessos.

Chile - ao menos 23 mortos

No Chile, as manifestações tiveram início contra um aumento de 30 pesos (equivalente a R$ 0,20) na tarifa do metrô, mas logo passaram a contestar as políticas do governo de Sebastián Piñera.

Em resposta ao aumento, manifestantes depredaram estações de metrô em Santiago e promoveram entradas em massa, sem pagar a passagem, pulando as catracas de acesso às plataformas de embarque. Já a polícia revidou com bombas de gás lacrimogêneo.

Os protestos tiveram, então, uma escalada de violência. Prédios foram incendiados, e estabelecimentos comerciais, saqueados. Piñera decidiu cancelar o aumento na tarifa do metrô, mas o recuo não foi suficiente para interromper as manifestações.

O presidente chileno decretou estado de emergência e toque de recolher nas principais cidades do país por pelo menos sete dias. Nesse período, mais de 10 mil soldados do Exército patrulharam as ruas da capital Santiago e uma série de denúncias de violação contra os direitos humanos em ações da polícia contra manifestantes passaram a circular nas redes sociais.

Um balanço divulgado ontem pelo governo chileno confirmou que o número de mortos nos protestos chegou a 23. Segundo o INDH (Instituto Nacional de Direitos Humanos), outras 2.209 sofreram ferimentos. Ao menos 230 pessoas perderam a visão parcial ou total após terem sido atingidas por balas de borracha ou chumbo disparadas por policiais durante as manifestações.

Os protestos continuam no Chile, e Piñera propôs um acordo por uma nova Constituição como forma de tentar pacificar o país.

Equador - 7 mortos

O Equador enfrentou 12 dias de protestos violentos após o presidente Lenín Moreno anunciar o fim de um subsídio aos combustíveis como parte de um acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional). A medida causou um aumento de até 123% nos preços do diesel e da gasolina.

Segundo a Defensoria Pública do Equador, os 12 dias de protestos deixaram 7 mortos, 1.340 feridos e 1.152 presos.

Para tentar conter as manifestações, Moreno chegou a decretar estado de exceção no país e transferiu o governo de Quito para a cidade de Guayaquil, no sudoeste do Equador. Mesmo assim, manifestantes continuaram bloqueando estradas pelo país e chegaram a invadir parte da Assembleia Nacional, em Quito, para pedir a saída de Moreno do poder.

No dia 14 de outubro, Moreno recuou e decidiu revogar o decreto que extinguia o subsídio aos combustíveis. A decisão aconteceu após um acordo do presidente equatoriano com lideranças indígenas do país.

Congresso do Equador é invadido durante protesto

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Venezuela - ao menos 57 mortos

Na Venezuela, país que vive uma recessão e um cenário de crise política há anos, a situação se agravou depois que o líder da oposição, Juan Guaidó, se autoproclamou presidente interino do país.

Opositores e apoiadores de Maduro foram às ruas. O ditador acusou os Estados Unidos de liderarem um complô contra o seu governo e reagiu com violência na repressão policial.

Guaidó se declarou presidente interino no dia 23 de janeiro. Seis dias depois, a ONU (Organização das Nações Unidas) informou que mais de 40 pessoas morreram e 850 foram detidas nos protestos que eclodiram pela Venezuela.

Entre os mortos, segundo a ONU, 26 foram por disparos de agentes das forças de segurança. Em fevereiro, outras duas pessoas morreram em um conflito na fronteira do Brasil com a Venezuela.

No fim de abril, Guaidó convocou atos com a intenção de retirar Maduro do poder. Em maio, o número de mortos em protestos na Venezuela chegou a 57, segundo a ONG Observatório Venezuelano de Conflito Social.

Os protestos continuam acontecendo no país. Na semana passada, membros das forças policiais venezuelanas usaram gases lacrimogêneo e de pimenta contra um protesto de estudantes universitários contra o governo de Maduro.