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Protestos antirracistas se espalham pelos EUA; 5º dia registrou uma morte

Protestos após morte de segurança negro nos EUA

Do UOL, em São Paulo*

31/05/2020 09h03Atualizada em 01/06/2020 11h58

Os Estados Unidos registraram ontem o quinto dia consecutivo de manifestações após a morte de George Floyd, um homem negro de 46 anos que morreu após uma ação policial na segunda-feira (25), em Minneapolis.

Os protestos antirracistas se espalharam para grandes cidades, como Nova York, Seattle, Los Angeles, Chicago, Cleveland, Dallas, Atlanta e dezenas de outras, apesar do toque de recolher decretado para tentar conter os distúrbios.

Ontem, ao menos três pessoas foram baleadas em Indianapolis —uma delas morreu. É a terceira morte relacionada às manifestações. Na noite de sexta-feira (30) um jovem de 19 anos e um agente federal também morreram baleados.

O corpo de um homem foi encontrado perto de um veículo incendiado em Minneapolis com sinais de traumatismo. A polícia, no entanto, não determinou se a morte está relacionada aos protestos.

O caso de Floyd, que morreu depois que um policial branco o deixou de bruços no chão por quase nove minutos, apoiando o joelho contra seu pescoço, se tornou o mais recente símbolo da violência policial contra os cidadãos negros e provocou a maior onda de protestos dos últimos anos nos Estados Unidos.

Até o momento, 25 cidades em 16 estados decretaram toque de recolher, entre elas Atlanta, Chicago, Filadélfia, Los Angeles, Miami, San Francisco e Minneapolis, berço das manifestações.

Em algumas cidades, foram registrados confrontos entre manifestantes e policiais, com bombas de gás lacrimogêneo e tiros de bala de borracha, além de viaturas incendiadas, prédios públicos depredados e saques. Centenas de pessoas foram presas em diversos locais.

A Guarda Nacional foi acionada por 13 estados e o distrito de Columbia para ajudar na contenção dos protestos. Ao todo, mais de 10 mil agentes devem ser destacados para atuar nessas regiões.

Fire, looting and tear gas. At one point, demonstrators attacked an armored vehicle at University Mall as protests...

Publicado por Tampa Bay Times em Domingo, 31 de maio de 2020

Três pessoas baleadas em Indianapolis

Em Indianapolis, três pessoas foram feridas por tiros durante um protesto no centro da cidade na noite de ontem, de acordo com o chefe da polícia Randal Taylor. Uma das vítimas morreu.

Ninguém foi preso, e a polícia investiga o caso.

Viaturas incendiadas

Viaturas da polícia foram incendiados em Los Angeles e em Nova York —havia quatro policiais dentro da viatura quando ela foi atingida por um coquetel molotov, mas todos conseguiram escapar sem ferimentos.

O governador da Califórnia, Gavin Newsom, declarou estado de emergência em Los Angeles e pediu apoio da Guarda Nacional para conter as manifestações.

Carros também foram incendiados em manifestações na Filadélfia e em Chicago, segundo registros no Twitter:

Os manifestantes tomaram as ruas após meses de isolamento contra a propagação do coronavírus. Muitos não usavam máscaras, o que acende um alerta amarelo, num momento em que o país tem um número decrescente de casos da doença e a população começa a reabertura econômica.

Manifestação em Nova York

Em Washington, capital do país, centenas de manifestantes se reuniram perto da sede do Departamento de Justiça e caminharam em direção ao Capitólio, sob gritos como "black lives matter" (vidas negras importam) e "não consigo respirar", últimas palavras ditas por Floyd antes de morrer. Muitos foram até a Casa Branca, que estava cercada por policiais com escudos.

Em Nova York, protestos fecharam grandes vias no Harlem, tradicional bairro afro-americano de Manhattan, e na praça Union Square, onde costumam acontecer manifestações na cidade.

Segundo usuários do Twitter que acompanham os protestos, a polícia voltou a prender manifestantes que ultrapassaram barreiras em uma pista expressa próxima da cidade. Na sexta-feira (29), foram 200 prisões em Nova York.

Com as ruas cheias, o prefeito Bill de Blasio divulgou vídeo afirmando que a polícia irá conter e investigar "atos de violência" nos protestos. No mesmo discurso, o prefeito criticou o racismo estrutural e falou aos "nova-iorquinos brancos" que a situação não pode mais continuar assim.

Jornalistas relatam agressões

Jornalistas que faziam a cobertura das manifestações relataram agressões na noite de ontem. Em Pittsburgh, o cinegrafista da rede KDKA Iam Smith disse ter sido atacado por manifestantes.

Em seu Twitter, ele publicou uma foto em uma ambulância. "Eles pisaram em mim e me chutaram. Estou ferido e ensanguentado, mas vivo. Minha câmera foi destruída. Um outro grupo de manifestantes me puxou a salvou a minha vida. Obrigado", escreveu.

Em Louisville, um policial atirou balas de pimenta diretamente em uma equipe de TV que fazia uma entrada ao vivo para mostrar as manifestações na cidade.

Governador aciona Guarda Nacional

Em Minneapolis, onde Floyd morreu, houve novos protestos ontem. O governo de Minnesota, estado onde fica Minneapolis, acionou a Guarda Nacional pela primeira vez desde a Segunda Guerra para conter as manifestações.

O governador Tim Waltz afirmou que a medida foi necessária porque alguns manifestantes estavam aproveitando as marchas para espalhar o caos e, além disso, esperava que os protestos hoje fossem mais intensos.

Sem dar detalhes, ele disse acreditar haver, entre os manifestantes, infiltrados, incluindo supremacistas brancos e membros de cartéis de drogas, instigando a violência.

Governo Trump sugere interferência política

O governo republicano de Donald Trump sugeriu que os protestos estariam sendo orquestrados por grupos políticos de esquerda.

"Em vários lugares, a violência parece ser planejada, organizada e dirigida por grupos anarquistas e extremistas de esquerda —grupos extremistas de esquerda—, muitos dos quais saíram do estado para propagar a violência, disse o procurador-geral do estado, William Barr, em pronunciamento.

Em um movimento incomum, o Pentágono disse que colocaria unidades militares em alerta para o caso de haver uma requisição de ajuda pelo governo de Minnesota.

Entenda o caso

Floyd, 46, morreu na segunda-feira (25) quando estava sob custódia da polícia de Minneapolis. Ele havia sido detido sob suspeita de ter tentado usar uma nota falsa de US$ 20 em um mercado.

Uma imagem de vídeo mostra Floyd deitado no chão, ao lado do pneu de um carro, e com o pescoço prensado contra o asfalto pelo joelho de um dos quatro agentes que participaram da detenção.

Os quatro foram afastados da polícia, e o agente que prensou Floyid, Derek Chauvin, foi preso e acusado de homicídio culposo (sem intenção). Em comunicado, a família de Floyd saudou a detenção do agente, apesar "de tardia" e insuficiente.

*Com agências de notícias