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ICIJ: Bancos globais movimentaram US$ 2 trilhões em transações suspeitas

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Do UOL, em São Paulo

20/09/2020 14h56Atualizada em 20/09/2020 15h44

Documentos secretos do governo dos Estados Unidos revelam que bancos globais desafiaram leis americanas para continuar movimentando de dinheiro corruptos e grandes redes criminosas. As transações suspeitas chegam a US$ 2 trilhões entre os anos de 1999 e 2017. As informações constam em uma extensa reportagem publicada hoje pelo ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos).

Os registros mostram que cinco bancos globais - JPMorgan, HSBC, Standard Chartered Bank, Deutsche Bank e Bank of New York Mellon - continuaram lucrando com operações que favoreceram inclusive terroristas, mesmo depois que as autoridades dos EUA multaram essas instituições financeiras por falhas anteriores em conter os fluxos de dinheiro sujo.

O site americano Buzzfeed obteve a documentação vazada da FinCen, agência do Departamento de Tesouro dos EUA responsável pelo combate à lavagem a dinheiro.

A descoberta foi compartilhada com o ICIJ, entidade sem fins lucrativos com sede em Washington D.C. Cerca 400 jornalistas de 88 países e 110 veículos de imprensa participaram da investigação; No Brasil, estiveram envolvidos "piauí", "Época" e "Poder360".

Ainda de acordo com o texto da reportagem publicada no site do ICIJ, as agências norte-americanas responsáveis pela aplicação das leis de lavagem de dinheiro raramente processam grandes bancos que violam a lei, e as ações que as autoridades tomam mal afetam a enxurrada de dinheiro saqueado que se espalha pelo sistema financeiro internacional.

Negócios com mafiosos

Em alguns casos, os bancos continuaram movimentando fundos ilícitos mesmo depois que as autoridades americanas os advertiram que enfrentariam processos criminais se não parassem de fazer negócios com mafiosos, fraudadores ou regimes corruptos, mostra a reportagem.

O JPMorgan, o maior banco com sede nos Estados Unidos, movimentou dinheiro para pessoas e empresas vinculadas ao saque maciço de fundos públicos na Malásia, Venezuela e Ucrânia, revelam os documentos que vazaram.

O banco movimentou mais de US$ 1 bilhão para um financista fugitivo envolvido em um grande escândalo na Malásia, mostram os registros, e mais de US$ 2 milhões para uma empresa de um jovem magnata da energia que foi acusado de enganar o governo da Venezuela e de ajudar a causar apagões elétricos que paralisaram grande parte do país país.

O JPMorgan também processou mais de US$ 50 milhões em pagamentos ao longo de uma década, mostram os registros, para Paul Manafort, o ex-gerente de campanha do presidente Donald Trump.

As transações contaminadas continuaram a aumentar nas contas do JPMorgan, apesar das promessas do banco de melhorar seus controles de lavagem de dinheiro como parte dos acordos que alcançou com as autoridades dos EUA em 2011, 2013 e 2014.

Em resposta à reportagem, o JPMorgan disse que estava legalmente proibido de discutir clientes ou transações. O banco disse ainda que assumiu um "papel de liderança" na busca de "investigações proativas lideradas por inteligência" e no desenvolvimento de "técnicas inovadoras para ajudar a combater o crime financeiro".

Outros bancos envolvidos

O HSBC, o Standard Chartered Bank, o Deutsche Bank e o Bank of New York Mellon também continuaram a acenar com pagamentos suspeitos, apesar de promessas semelhantes às autoridades governamentais, mostram os documentos secretos.

Os documentos vazados, conhecidos como Arquivos FinCEN, incluem mais de 2.100 relatórios de atividades suspeitas arquivados por bancos e outras empresas financeiras junto à Rede de Execução de Crimes Financeiros do Departamento do Tesouro dos EUA.

Em uma declaração ao ICIJ, o HSBC se recusou a responder a perguntas sobre clientes ou transações específicas. O HSBC disse que as informações do ICIJ são "históricas e anteriores" ao fim de seu acordo com o governo americano. A instituição afirmou ainda que "embarcou em uma jornada de vários anos para revisar sua capacidade de combater o crime financeiro".

O Standard Chartered não respondeu às perguntas do ICIJ e de seus parceiros. O Deutsche Bank se recusou também a responder a perguntas específicas sobre suas transações suspeitas. O banco disse ao ICIJ que reconheceu "fraquezas do passado" e "aprendeu com nossos erros".

Por sua vez, o Bank of New York Mellon afirmou em comunicado que "leva a sério seu papel de proteger a integridade do sistema financeiro global, incluindo a apresentação de Relatórios de Atividades Suspeitas". A instituição disse ainda que "como um membro de confiança da comunidade bancária internacional, cumprimos integralmente todas as leis e regulamentos aplicáveis e ajudamos as autoridades no importante trabalho que realizam."