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STF autoriza extradição chefe de narcocartel mexicano para os EUA

O mexicano José González Valencia, 43, foi preso no Brasil em 27 dezembro de 2017. Ele portava documentos falsos - Divulgação/Polícia Federal
O mexicano José González Valencia, 43, foi preso no Brasil em 27 dezembro de 2017. Ele portava documentos falsos Imagem: Divulgação/Polícia Federal

Flávio Costa

Do UOL, em São Paulo

19/03/2021 14h22

A 1ª Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu, por unanimidade, autorizar a extradição para os Estados Unidos do narcotraficante mexicano José González Valencia, considerado um dos chefes de um dos maiores cartéis de drogas de seu país, e preso no Brasil desde dezembro de 2017.

Porém, a decisão de quando enviá-lo para a guarda das autoridades estadunidenses caberá ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) já que "La Chepa", como é conhecido o criminoso, responde a uma ação penal na Justiça brasileira por uso de documentos falsos.

Como revelou o UOL em reportagem publicada em agosto de 2019, Estados Unidos e México disputavam a extradição de La Chepa. Os advogados de defesa defendiam que ele fosse extraditado ao país natal.

De acordo com análise da PGR (Procuradoria-Geral da República), o pedido mexicano chegou com documentação incompleta. Já o do governo dos EUA atendeu os requisitos da legislação brasileira. Foram os americanos os primeiros a pedirem a extradição de La Chepa. O pedido chegou ao STF em junho de 2017 — seis meses antes de sua prisão pela Polícia Federal. Já o do México foi encaminhado à corte brasileira somente em março de 2018.

Procurados pelo UOL, os advogados brasileiros de La Chepa não responderam os questionamentos da reportagem.

Cartel mais rico do México

La Chepa tem 45 anos e é tido pelas autoridades como um dos chefes do grupo criminoso mais rico do México, "Los Cuinis". A gangue se tornou o braço financeiro do violento Cartel da Nova Geração de Jalisco (CJGN, na sigla em espanhol).

González Valencia teria enviado aos Estados Unidos pelo menos cinco toneladas de cocaína, de acordo com a Justiça do país.

Já em sua terra natal, além da mesma acusação, ele também foi denunciado por participar do assassinato de um funcionário público do governo do estado de Jalisco.

"Eu nunca participei de nenhum narcotráfico em nenhuma parte. Isso não é verdade", afirmou Valencia, em depoimento a um juiz federal no Brasil.

Em 27 de dezembro de 2017, ele foi preso por agentes da PF (Polícia Federal) em Fortaleza, quando passava as festas de fim de ano com a família, e aguarda o desfecho do caso detido no presídio de segurança máxima de Mossoró (RN).

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Membros do Cartel da Nova Geração de Jalisco são considerados os mais violentos do México
Imagem: Reprodução

Riqueza e sangue

Comandados por ao menos sete irmãos da família González Valencia, Los Cuinis têm o domínio de rotas de tráfico que levam cocaína produzida na Bolívia e na Colômbia para o Canadá e países europeus e asiáticos.

Lavam dinheiro obtido com o narcotráfico em clínicas de rejuvenescimento, hotéis e restaurantes no México e outras empresas criadas nos Estados Unidos, Uruguai e Argentina, de acordo com investigações.

A associação de Los Cuinis com o CJGN tem uma raiz familiar. Rosalinda Gonzalez Valencia, irmã de La Chepa, é mulher de Nemesio Oseguera Cervantes, El Mencho, o chefe da nova geração de Jalisco.

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Marcha pela paz em Guadalajara realizada em protesto pelo assassinato de estudantes cometido pelo CJGN
Imagem: Alejandro Acosta/Reuters

O CJGN foi formado por membros da antiga célula de proteção do Cartel de Sinaloa, comandado por Joaquín Guzmán, El Chapo, condenado nos Estados Unidos a prisão perpétua e a pagar uma indenização de US$ 12,6 bilhões.

O cartel é conhecido pela crueldade com que trata os inimigos. Seus ritos de iniciação incluem atos de canibalismo. Em abril do ano passado, autoridades mexicanas afirmaram que traficantes do cartel mataram três estudantes e dissolveram seus corpos em ácido. As vítimas foram confundidas com rivais. Eles também foram responsáveis pelo massacre de 35 membros do cartel de Veracruz, em 2015, e por derrubar um helicóptero do Exército mexicano, dois anos antes.

Nos últimos anos, a PF investiga possíveis parcerias entre cartéis mexicanos e o PCC (Primeiro Comando do Capital), maior organização criminosa do Brasil de narcotraficantes.