Topo

Esse conteúdo é antigo

Em fevereiro, presidente do Haiti denunciou tentativa de golpe e atentado

Jovenel Moise no Palácio Presidencial; assassinado hoje, presidente do Haiti denunciou tentativa de golpe em fevereiro deste ano - Valerie Baeriswyl/AFP
Jovenel Moise no Palácio Presidencial; assassinado hoje, presidente do Haiti denunciou tentativa de golpe em fevereiro deste ano Imagem: Valerie Baeriswyl/AFP

Do UOL, em São Paulo*

07/07/2021 09h44

Assassinado a tiros na madrugada de hoje em sua residência, o presidente do Haiti, Jovenel Moise, denunciou em fevereiro deste ano uma tentativa de golpe de Estado e atentado frustrado contra a sua vida.

Na ocasião, vinte e três pessoas foram presas pelas autoridades, incluindo um juiz do Tribunal de Cassação e uma inspetora da polícia nacional.

"Agradeço ao responsável pela minha segurança e pela do palácio. O sonho dessa gente era atentar contra minha vida. Graças a Deus isso não ocorreu. O plano foi abortado", disse Moise, em fevereiro.

Em entrevista ao jornal El Pais naquele mesmo mês, Moise disse que só sairia do poder em fevereiro de 2022, cinco anos após assumir oficialmente o mandato. Oposicionistas alegam que o presidente teria que deixar o poder no começo deste ano, uma vez que foi eleito pela primeira vez em 2015 — o país teve um governo provisório até novas eleições no final de 2016. (veja mais abaixo)

Um novo pleito estava sendo programado para o final deste ano. O presidente havia dito que não participaria do processo.

"Entregarei o poder ao seu proprietário, que é o povo do Haiti. Os oligarcas corruptos acostumados a controlar presidentes, ministros, Parlamento e Poder Judiciário pensam que podem tomar a presidência, mas só existe um caminho: eleições. E eu não participarei dessas eleições", disse Moise ao jornal El Pais em fevereiro.

Na ocasião, o presidente do Haiti disse que a tentativa de golpe de Estado era um uma "sequência de ações" e que "um pequeno grupo de oligarcas queria se apoderar do país".

"Até agora os governos eram fantoches dos grupos econômicos, mas hoje isso não acontece, e nossas decisões caem muito mal para aqueles que se sentem poderosos e intocáveis", afirmou.

A morte de Jovenel Moise foi anunciada na manhã de hoje pelo primeiro-ministro interino do país, Claude Joseph, que creditou o ataque a um grupo de pessoas ainda não identificadas, mas que segundo ele eram estrangeiras e falavam inglês e espanhol. A primeira-dama Martine Moise ficou ferida e foi hospitalizada. As causas do assassinato ainda não estão sendo investigadas.

Cenário Político

Originário do mundo empresarial, Moise tinha 53 anos de idade e governava o Haiti, país mais pobre das Américas, desde fevereiro de 2017. No entanto, ele vinha exercendo o cargo por decreto após o adiamento das eleições legislativas previstas para 2018 e em meio a uma disputa sobre quando termina seu mandato.

Moise alegava que seu período no poder terminaria apenas em fevereiro de 2022, cinco anos após sua posse. O empresário havia vencido o primeiro turno das eleições em outubro de 2015, porém o pleito acabou anulado e repetido em novembro de 2016, quando Moise obteve 55,6% dos votos, conquistando o cargo sem necessidade de segundo turno.

No entanto, forças de oposição defendiam que o mandato do chefe de Estado terminou em fevereiro de 2021, já que o período de cinco anos contaria a partir de fevereiro de 2016, quando Jocelerme Privert assumiu como presidente interino para guiar o país até novas eleições.

O mandatário teve uma série de primeiros-ministros ao longo dos últimos quatro anos, e o próprio Joseph seria substituído nesta semana, após três meses no cargo, por Ariel Henry, que teria a incumbência de organizar eleições gerais.

O Haiti também tem previsto para setembro um referendo sobre uma reforma constitucional que abole o cargo de primeiro-ministro, instituindo um sistema presidencialista pleno, e abre a possibilidade de o chefe de Estado ter dois mandatos consecutivos - atualmente, é preciso respeitar um intervalo mínimo de cinco anos.

A reforma era apoiada por Moise, mas criticada por forças de oposição e organizações da sociedade civil. A atual Constituição haitiana, escrita em 1987, após o fim da ditadura de Jean-Claude Duvalier, o "Baby Doc", proíbe a realização de referendos para modificar a Carta Magna.

*Com informações das agências Ansa e AFP.