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Presidente do Haiti escolheu novo primeiro-ministro dias antes de ser morto

Jovenel Moise, presidente do Haiti, durante Assembleia Geral da ONU em 2018 - Arquivo - Timothy A. Clary/AFP
Jovenel Moise, presidente do Haiti, durante Assembleia Geral da ONU em 2018 Imagem: Arquivo - Timothy A. Clary/AFP

Do UOL*, em São Paulo

07/07/2021 10h39Atualizada em 07/07/2021 11h13

O presidente do Haiti, Jovenel Moise, assassinado hoje, havia nomeado um novo primeiro-ministro para o país na segunda-feira (5). O ato foi mencionado por Maise na última mensagem que publicou no Twitter.

"Nomeei o cidadão Ariel Henry para o cargo de primeiro-ministro", escreveu em 5 de julho, indicando que Henry teria a missão de "resolver o problema flagrante da insegurança", além de atuar "na realização das eleições gerais e do referendo".

Apesar de Henry ter sido nomeado como novo primeiro-ministro, o anúncio do assassinato de Moise foi feito pelo atual ocupante do cargo, Claude Joseph.

Henry foi elogiado no Twitter por Joseph: "seu senso de Estado, sem dúvida, o guiará em seus esforços para criar um governo de consenso que saberá resolver os problemas atuais, em particular segurança e eleições".

Ontem, Henry disse à agência AFP que sua missão era "simples". "O presidente me instruiu a criar um ambiente propício à organização de eleições inclusivas, com alta participação."

Mapa mostrando localização do Haiti - Arte UOL - Arte UOL
Imagem: Arte UOL

Henry fez parte da equipe de resposta ao coronavírus

O presidente do Haiti teve uma série de primeiros-ministros ao longo dos últimos quatro anos, e o próprio Joseph seria substituído nesta semana, após três meses no cargo, por Ariel Henry, que teria a incumbência de organizar eleições gerais.

Henry, de 71 anos, fez parte da equipe de resposta ao coronavírus no país e ocupou cargos no governo em 2015 e 2016 como ministro do Interior e, depois, como ministro dos Assuntos Sociais e do Trabalho.

Henry é próximo da oposição, mas sua nomeação não foi bem recebida pela maioria destes partidos, que continuaram a exigir a renúncia do presidente.

Crise política

Originário do mundo empresarial, Moise tinha 53 anos de idade e governava o Haiti, país mais pobre das Américas, desde fevereiro de 2017. No entanto, ele vinha exercendo o cargo por decreto após o adiamento das eleições legislativas previstas para 2018 e em meio a uma disputa sobre quando termina seu mandato.

Nos últimos meses, líderes da oposição exigiram sua renúncia, argumentando que seu mandato terminou legalmente em fevereiro de 2021. Moise e seus apoiadores, porém, sustentam que seu mandato de cinco anos começou quando ele assumiu o cargo no início de 2017, após uma eleição caótica em 2015 que forçou a nomeação de um presidente provisório por cerca de um ano.

O empresário havia vencido o primeiro turno das eleições em outubro de 2015, porém o pleito acabou anulado e repetido em novembro de 2016, quando Moise obteve 55,6% dos votos, conquistando o cargo sem necessidade de segundo turno.

Reforma

O Haiti tem previsto para setembro um referendo sobre uma reforma constitucional que abole o cargo de primeiro-ministro, instituindo um sistema presidencialista pleno, e abre a possibilidade de o chefe de Estado ter dois mandatos consecutivos —atualmente, é preciso respeitar um intervalo mínimo de cinco anos.

A reforma era apoiada por Moise, mas criticada por forças de oposição e organizações da sociedade civil. A atual Constituição haitiana, escrita em 1987, após o fim da ditadura de Jean-Claude Duvalier, o "Baby Doc", proíbe a realização de referendos para modificar a Carta Magna. Os críticos também afirmam que é impossível organizar uma consulta diante do estado de insegurança no país.

Além da crise política, o Haiti também vive uma epidemia de sequestros devido à crescente influência de gangues armadas e luta contra a pobreza crônica e recorrentes desastres naturais. Moise era criticado pela falta de reação à crise e contestado por uma boa parte da sociedade civil haitiana.

(Com AFP, RFI, Ansa e Reuters)