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Guerra da Rússia-Ucrânia

Notícias do conflito entre Rússia e Ucrânia


Após operação de 6 dias, sogra de influencer e jogadores saem da Ucrânia

Maurício Businari

Colaboração para o UOL, em Santos

28/02/2022 16h29Atualizada em 28/02/2022 20h42

Após seis dias de muita tensão e nervosismo em meio aos ataques da Rússia, deixaram a Ucrânia e chegaram hoje (28) à Polônia Tetiana Sukhoparova, 52, o jogador Lucas Rangel e seus colegas, além de outros brasileiros e ucranianos que foram beneficiados com a operação de resgate iniciada e documentada nas redes pelo influencer Anderson Dias, de 28 anos. Tetiana é mãe de Alesya Sukhoparova, 28, namorada do influencer.

Ela conseguiu atravessar a fronteira por volta das 10h da manhã de hoje, horário local. Segundo a filha, Alesya, ela está com muitas dores de estômago e também na coluna. Por pouco, quase não foi localizada pela pessoa que foi buscá-la de carro, pois perdeu-se após atravessar a fronteira.

Tetiana foi resgatada na última quinta-feira (24), na cidade de Kremenchuk, região central da Ucrânia, a cerca de 325 km da capital, Kiev, pelo jogador de futebol Lucas Rangel e alguns colegas de profissão. Eles aderiram à operação de fuga elaborada pelo influencer Anderson Dias e Leonardo Freitas, CEO da Hayman-Woodward, escritório de advocacia imigratória global, com sede em Washington (EUA), que se dispôs a ajudar Tetiana, os jogadores e um pequeno grupo de brasileiros e ucranianos que tentavam fugir dos conflitos na Ucrânia.

A viagem entre Kremenchuk e Lviv, cidade na fronteira entre Ucrânia e Polônia, não foi nada fácil. Comumente realizada em 9 horas, ela durou mais de 12 horas. As estradas estavam repletas de veículos militares e tanques de guerra, soldados fazendo guarda, sem contar os milhares de carros de civis que também tentam alcançar Lviv.

Mapa Rússia invade a Ucrânia - 26.02.2022 - Arte UOL - Arte UOL
Imagem: Arte UOL

Quando estavam a 4 km da fronteira, Tetiana, Lucas e seus amigos jogadores tiveram que abandonar os carros, pois um congestionamento os impedia de seguir. Eles tiveram que continuar a pé por cerca de 3 horas, e, quando estavam chegando, tiveram que se separar. Para os brasileiros, a travessia seria mais fácil, mas para Tetiana, que era cidadã ucraniana, o tempo de espera seria maior.

Quando estavam a 250 metros dos portões que separam a Ucrânia da Polônia, Rangel conseguiu acomodar Tetiana em um ônibus, para que pudesse aguardar protegida do frio intenso. Ele e os colegas jogadores conseguiram atravessar para o outro país ainda na madrugada. Já a mulher conseguiu a permissão por volta das 10h da manhã.

"Eu estava muito angustiada, preocupada, sem dormir", declarou ao UOL Alysia, que está com o namorado em Nova York, nos EUA, onde mora há 7 anos. "Mas agora estou feliz, porque ela chegou à Polônia".

Tetiana agora está seguindo de trem até uma cidade a noroeste de Cracóvia, onde ficará em um hotel até as 8h de amanhã (29), quando será levada até um aeroporto local, onde um avião da empresa Heyman-Woodward já está aguardando para levar os refugiados brasileiros e ucranianos até a cidade do Porto, em Portugal.

Com apenas uma mala pequena, de mão, e duas sacolas, ela teve que deixar para trás a casa e o namorado, com quem vive há anos, e um gato. Mas, segundo Alesya e Anderson, se sente aliviada por conseguir escapar dos horrores provocados pela invasão militar russa.

"Ter conseguido implementar essa missão de resgate traz uma sensação de alívio muito grande, para nós e para ela", afirmou o influencer ao UOL.

"Apesar de ainda estarmos muito preocupados com os brasileiros que ainda estão tentando sair da Ucrânia. O momento não é de comemoração, mas de alívio por quem conseguiu atravessar".

Assim que chegar, diz o influencer, será recebida na cidade do Porto, em Portugal, pela sua família, que vive lá. "Minha mãe já a está esperando, vai recebê-la, hospedá-la, cuidar dela. Minha esperança é que essa guerra acabe logo, para que a vida de todo mundo possa voltar ao normal. Isso é o principal".

Momentos de muita tensão

Os momentos finais da viagem foram muito difíceis, segundo narrou Leonardo Freitas, CEO da Hayman-Woodward. Toda a estrutura da empresa, que tem sede em Washington e escritórios nos Emirados Árabes, Portugal, Reino Unido, China e Brasil, foi acionada para que se pudesse resolver todos os trâmites burocráticos, como liberação de autorizações, estabelecimento de contatos e fornecimento de documentos.

Comprovante - Reprodução/Instagram/@196sonhos - Reprodução/Instagram/@196sonhos
Comprovante de pagamento do combustível para resgatar brasileiros da Ucrânia
Imagem: Reprodução/Instagram/@196sonhos

Um avião da companhia foi destinado especialmente para o resgate dos refugiados. Os custos da operação já ultrapassaram os 200 mil euros (cerca de R$ 1,5 milhão), bancados exclusivamente por Freitas. Com a guerra, os preços de produtos e serviços dispararam. Para se ter uma ideia, só para abastecer a aeronave, foram investidos 25 mil euros (R$ 144,6 mil).

"Tínhamos nos estruturado para conseguir buscar o grupo na Ucrânia, de carro. Mas o diplomata polonês que nos ajudaria foi impedido de atravessar", contou Freitas ao UOL. "Assim, tivemos que bolar um plano de emergência. O objetivo passou a ser conseguir atravessar as pessoas pela fronteira e resgatá-las na Polônia", disse.

"Os momentos finais foram de muita tensão, qualquer movimentação fora do plano poderia dar errado. Graças à ajuda da minha sócia e advogada Maria do Céu Santiago, que comanda nosso escritório em Portugal, conseguimos as autorizações para o avião pousar na cidade do Porto", declarou.

Sem apoio do Itamaraty

Freitas afirmou que tanto ele quantos os brasileiros que tentam escapar da Ucrânia estão profundamente decepcionados com a "inação" do Itamaraty no sentido de trabalhar na retirada dos compatriotas do solo ucraniano. Ele afirma que os brasileiros estão tendo que receber ajuda humanitária de cidadãos e empresas privadas para atravessar a fronteira.

"Antes de elaborarmos nós mesmos um plano de resgate, chegamos a ligar várias vezes para a embaixada brasileira na Ucrânia, onde o atendimento é feito quase que exclusivamente na língua russa. Enviamos também 12 e-mails, que nunca foram respondidos. É profundamente decepcionante. Os brasileiros pagam impostos altíssimos para receber uma contrapartida do governo e, quando precisam, são largados à própria sorte. É muito triste ver isso. Se não fossem os cidadãos e as empresas privadas engajadas em ajudar, o que seria dessas pessoas?", questionou.

A Embaixada do Brasil na Ucrânia disse neste domingo (27) que não há possibilidade de saída da capital Kiev em meio aos ataques aéreos.

O UOL procurou o Itamaraty para buscar informações sobre os demais trabalhos oficiais de resgate de brasileiros em solo ucraniano, mas até o fechamento desta reportagem, não obteve resposta.