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Guerra da Rússia-Ucrânia

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Na 2ª reunião, Rússia e Ucrânia acertam 'corredor' para fuga de civis

Do UOL*, em São Paulo

03/03/2022 10h59Atualizada em 03/03/2022 18h26

Após quase três horas, Rússia e Ucrânia terminaram a segunda rodada de negociações sobre o conflito que teve início na última quinta-feira (24). Diferente da primeira conversa —que terminou sem acordo—, hoje (3), os países concordaram em montar um corredor de fuga para os civis.

A informação foi divulgada inicialmente pela agência de notícias russa Tass e confirmada por autoridades ucranianas. "As partes chegaram a um entendimento sobre a criação conjunta de corredores humanitários com um cessar-fogo temporário", disse o conselheiro presidencial da Ucrânia Mykhailo Podolyak.

Os corredores humanitários são áreas consideradas seguras, pelas quais civis poderão escapar. Não foram divulgados detalhes sobre quando, onde e como eles vão funcionar na Ucrânia.

A estratégia foi usada em conflitos recentes, mas não é consenso —na Síria, em 2016, organizações internacionais, a ONU (Organização das Nações Unidas) e os Estados Unidos alertaram que a retirada da população de determinadas regiões poderia deixá-las mais vulneráveis. No caso da Ucrânia, deixar as áreas vazias pode facilitar o deslocamento de tropas e a ocupação militar russas.

"Por exemplo, no conflito entre forças congolesas e rebeldes em 2008, na província de Nord Kivu, na República Democrática do Congo, corredores humanitários instituídos pelas forças de manutenção da Paz da ONU, em parceria com os beligerantes, foram acusados de facilitar o acesso a armamentos na região", diz Lucas Carlos Lima, professor de direito internacional da UFMG.

Apesar do acordo entre os países, hoje, oitavo dia de guerra, o sul da Ucrânia amanheceu sob bombardeio (leia mais abaixo). Por volta das 17h (horário de Brasília, 22h em Kiev), sirenes foram ouvidas em diversas regiões —Khmelnytsky, Vasylkiv, Sloviansk, Rivne, Ternopil, Volyn, Vinnytsia, Zhytomyr, Chernihiv e Lviv.

Além disso, permanece a tensão na capital Kiev —nos últimos dias, um comboio com mais de 60 km de veículos militares russo se aproximava lentamente do município, que tem 3 milhões de habitantes.

Reunião em Belarus

Os representantes da Rússia e da Ucrânia se encontraram por volta das 11h50 (horário de Brasília) desta quinta-feira, em Gomel, em Belarus. Segundo o conselheiro ucraniano, uma terceira rodada de negociações será feita nos próximos —a data ainda não foi divulgada.

O chefe da delegação russa, Vladimir Medinsky, disse que os grupos discutiram três pontos: militar, internacional e humanitário.

"Conseguimos chegar a um acordo sobre alguns deles, mas o principal foi o resgate de civis que se encontram em uma zona de confronto militar", afirmou Medinsky, segundo a CNN Internacional.

Nas redes sociais, Podolyak lamentou que a segunda rodada "não teve os resultados que a Ucrânia precisa". "Há decisões apenas sobre a organização de corredores humanitários", escreveu.

Putin acusa ucranianos e Zelensky pede conversa direta

Em entrevista ao vivo hoje à tarde, o presidente russo Vladimir Putin disse que a invasão na Ucrânia acontece "de acordo com o plano" e se referiu aos soldados do seu país como "verdadeiros heróis".

Putin também fez uma homenagem a um soldado morto que, segundo ele, morreu ao detonar uma granada para evitar a própria captura e se referiu a russos e ucranianos como "um só povo".

Contudo, disse que a população do país vizinho é "vítima de lavagem cerebral por governantes neonazistas". Ele também acusou os soldados ucranianos de usar civis como escudo humano no conflito.

Zelensky, também em entrevista, disse que apenas uma conversa diretamente com Putin será capaz de parar a guerra.

O presidente ucraniano voltou a cobrar que países ocidentais criem uma "zona de exclusão aérea" militarizada nos céus da Ucrânia.

"Já dissemos muitas vezes que a Ucrânia precisa de garantias de segurança. E qual foi a resposta da aliança [Otan, a Organização do Tratado Atlântico Norte]? Esperar. Esperar pelo início da guerra", afirmou.

Início da segunda rodada

Nas redes sociais, Podolyak, conselheiro ucraniano, havia dito que os principais temas da segunda conversa seriam o cessar-fogo imediato, armistício e corredores humanitários para saída de civis que estão em "aldeias/cidades destruídas ou constantemente bombardeadas".

Em um vídeo divulgado pela agência russa Tass após o início da reunião, é possível ver a delegação da Ucrânia entrando em uma sala e apertando as mãos dos russos.

Na última segunda-feira (28), a primeira reunião terminou sem um acordo após cinco horas de conversa.

Hoje, antes de chegar para as negociações, David Arajamia, do lado da Ucrânia, publicou nas suas redes sociais que é preciso estabelecer os "corredores humanitários" para retirar de forma segura os civis de áreas de conflito.

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky já havia dito anteriormente que a Rússia precisa parar de bombardear seu país se quiser negociar.

Os ataques, entretanto, continuaram nos últimos dias. Hoje, tropas russas voltaram a bombardear a cidade de Enerhodar, no sul da Ucrânia. Ontem, moradores do mesmo município tentaram impedir a entrada das tropas —a região abriga a usina nuclear de Zaporizhzhia, a maior unidade energética da Europa.

Segundo o prefeito da cidade, Dmytro Orlov, os russos dispararam contra o posto de controle e estão usando armas contra civis.

O Ministério das Relações Exteriores da Rússia afirmou que o país está pronto para as negociações "para evitar derramamento de sangue" —a informação foi divulgada pela agência russa Tass. A Ucrânia descarta uma rendição e exige o cessar-fogo, assim como a retirada das forças invasoras de seu território.

Ligação de Macron

Segundo o jornal norte-americano New York Times e o site Sky News, o presidente russo Vladimir Putin falou por telefone com Emmanuel Macron, presidente da França, hoje. O chefe da Rússia teria afirmado que "a desmilitarização e o status neutro da Ucrânia" são seus objetivos e eles seriam alcançados "não importa" como.

Nova rodada de negociações entre Rússia e Ucrânia teve início nesta quinta-feira (3) - Belta/Reuters - Belta/Reuters
Nova rodada de negociações entre Rússia e Ucrânia teve início nesta quinta-feira (3)
Imagem: Belta/Reuters

Na conversa, segundo o próprio presidente francês, Macron disse que a ideia de Putin de que a Ucrânia faz parte de um regime nazista "era ilusão" do russo. "Você está mentindo para si mesmo", teria afirmado.

Mapa Rússia invade a Ucrânia - 26.02.2022 - Arte UOL - Arte UOL
Imagem: Arte UOL

Em comunicado, o governo russo repetiu as declarações dadas por Putin ao presidente francês hoje. Segundo a agência Reuters, Putin afirmou ao presidente da França que quaisquer tentativas de Kiev de atrasar as negociações resultariam em Moscou acrescentando mais itens à lista de exigências.

Macron também falou com Zelensky. O presidente ucraniano teria deixado claro que não vai se render e não pode negociar com uma arma apontada para sua cabeça.

No início do dia, o secretário de imprensa da Rússia, Dmitry Peskov, disse que o Kremlin está aberto às tratativas com o país vizinho. Ele não antecipou, porém, quais assuntos seriam discutidos na reunião.

Rússia avança pelo sul da Ucrânia

O oitavo dia da invasão da Rússia à Ucrânia começou com uma nova onda de ataques, atingindo áreas civis pelo país. O foco de atenção está no sul ucraniano. Após os russos tomarem a cidade de Kherson ontem, as cidades portuárias de Mariupol e Odessa são alvos de avanços das forças de Putin.

A ONU já estima em 1 milhão o número de pessoas que fugiram da Ucrânia em razão dos ataques no país. A Rússia reconhece ter perdido cerca de 500 soldados no conflito, número menor do que os quase 9.000 russos mortos contabilizados pelos ucranianos. Não é possível confirmar a veracidade dos números. A Ucrânia diz ter perdido mais de 2.800 de seus soldados.

*Com informações da Reuters