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Guerra da Rússia-Ucrânia

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Civis amarrados, estupro e minas: o que se sabe do massacre russo em Bucha

Matheus Brum

Colaboração para o UOL

04/04/2022 15h20

A descoberta de centenas de corpos, alguns amarrados, nas ruas de Bucha, a 37 km a sudoeste da capital ucraniana Kiev, gerou uma onda de protestos em todo mundo. Dezenas de líderes internacionais criticaram fortemente a Rússia pelo ocorrido, enquanto o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, visitou a região e chamou de crimes de guerra que "serão reconhecidos pelo mundo como genocídio."

Até o momento, sabe-se que cerca de 410 corpos foram achados em territórios na região de Kiev depois que Moscou retirou as tropas e reorientou a ofensiva para o leste da Ucrânia.

O prefeito de Bucha, Anatoliy Fedoruk, estimou que pelo menos 300 moradores foram mortos, sendo 70 em vala comum, e alguns foram enterrados ao lado de vários soldados russos. Já o jornal ucraniano Ukrayinska Pravda informou que 340 corpos foram encontrados na cidade.

No entanto, não houve perícia para saber a causa da morte.

O funcionário municipal Serhii Kaplychnyi disse à agência AFP que as tropas russas impediram os moradores de Bucha de enterrar os mortos. "Eles disseram que, enquanto estivesse frio, os deixariam lá", afirmou. Quando finalmente conseguiram recuperar os corpos, "cavávamos uma vala comum com um trator e enterramos todos."

O governo ucraniano relatou hoje que o corpo da prefeita de Motyzhyn, cidade perto de Kiev, foi encontrado, em uma cova rasa, junto com os corpos de seu marido e filho, segundo a Reuters.

4.abr.2022 - Sob forte esquema de segurança, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky (ao centro, sem capacete), visitou a cidade de Bucha - Ronaldo Schemidt/AFP - Ronaldo Schemidt/AFP
Sob forte esquema de segurança, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky (ao centro, sem capacete), visitou a cidade de Bucha
Imagem: Ronaldo Schemidt/AFP

Crime de guerra

Zelensky, que também esteve em Irpin e Stoyanka, na região, chamou os soldados russos de "assassinos, torturadores, estupradores, saqueadores" e criou um órgão especial para investigar os massacres. "Sabemos de milhares de pessoas mortas e torturadas, com membros cortados, mulheres estupradas e crianças assassinadas", disse.

A Rússia nega veementemente ter matado civis e diz que as mortes são uma montagem do governo da Ucrânia.

"Ainda estamos reunindo e procurando corpos, mas o número já passou das centenas. Há cadáveres nas ruas. Eles mataram civis", disse o ministro de Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba.

Repórteres da agência de notícias AP viram os corpos de pelo menos nove pessoas em roupas civis, que pareciam ter sido mortas à queima-roupa em Bucha. Pelo menos dois estavam com as mãos amarradas atrás das costas e dois envoltos em plástico e amarrados com fita adesiva em uma vala.

Um correspondente da agência de notícia Reuters relatou ter visto o corpo de um homem na beira da estrada com as mãos amarradas nas costas e com um tiro na cabeça.

A emissora britânica BBC, que entrou em Bucha, relata algo semelhante. Moradores relataram que durante 38 dias ficaram sem luz, água, energia e gás. E que muitas vezes precisavam acender fogueira ao lado de fora das casas para conseguirem cozinhar.

Também há relatos de que os militares russos tenham estuprado mulheres ucranianas na cidade.

"Mulheres estupradas na frente de seus filhos, meninas (estupradas) na frente das suas famílias, como ato deliberado de subjugação. Estupro é um crime de guerra", informou Melinda Simmons, embaixadora do Reino Unido na Ucrânia.

O serviço de emergências da Ucrânia pediu que a população na região de Kiev olhe "atentamente" para o chão e reporte caso encontre explosivos. A área está "repleta de minas, granadas, granadas e outros 'presentes' mortais do exército russo", disse em comunicado.

Tribunal de Haia acionado

Os corpos encontrados mortos e com mãos amarradas para trás e as denúncias de estupro contra mulheres fizeram com que o governo ucraniano pedisse que a Rússia fosse investigada no Tribunal Internacional de Haia, corte responsável por julgar violações e crimes cometidos em conflitos ao redor do mundo.

"Esta não é uma operação especial, não são ações policiais. São racistas comuns, fascistas, e são desumanos, que simplesmente cometeram crimes contra civis, estupraram, mataram, atiraram na nuca. O mundo inteiro precisa saber disso", disse o ministro da Defesa da Ucrânia, Oleksii Reznikov, que citou a necessidade de um novo julgamento de Nuremberg —em referência aos tribunais que condenaram agentes nazistas após a Segunda Guerra Mundial.

2.abr.2022 - Os corpos de pelo menos 20 pessoas em trajes civis estavam espalhados hoje, em uma rua de Bucha, cidade a noroeste de Kiev, recapturada pelas forças ucranianas - Ronaldo Schemidt/AFP - Ronaldo Schemidt/AFP
Os corpos de pelo menos 20 pessoas em trajes civis estavam espalhados em uma rua de Bucha
Imagem: Ronaldo Schemidt/AFP

De acordo com a Reuters, mesmo com a pressão ucraniana, é difícil levar o governo de Vladimir Putin para julgamento.

Primeiro que a Ucrânia teria que provar que as mortes e estupros ocorreram pelos militares russos. Ainda assim, o julgamento poderia demorar anos, além de enfrentar diversas manobras jurídicas que podem aumentar o trâmite na Corte.

Enquanto isso, os líderes ocidentais se unem para impor mais sanções ao governo Putin.

A alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, se declarou "horrorizada" com as imagens de corpos na cidade de Bucha. "As informações que estão chegando desta região e de outras apresentam perguntas graves e preocupantes sobre possíveis crimes de guerra e infrações graves do direito internacional humanitário, assim como graves violações dos direitos humanos", afirou em comunicado, no qual pediu que "todas as evidências sejam preservadas".

"Chocado com imagens assustadoras de atrocidades cometidas pelo exército russo na região libertada de Kiev", escreveu o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, no Twitter. "A UE (União Europeia) está ajudando a Ucrânia e ONGs na coleta de provas necessárias para perseguição em tribunais internacionais. Mais sanções e apoio da UE estão a caminho.

O presidente francês, Emmanuel Macron, disse que as imagens são "insuportáveis". "Nas ruas, centenas de civis assassinados covardemente. Minha compaixão pelas vítimas, minha solidariedade com os ucranianos. As autoridades russas terão que responder por esses crimes.

"Os desprezíveis ataques da Rússia contra civis inocentes em Irpin e Bucha são mais uma prova de que (o presidente russo Vladimir) Putin e seu exército estão cometendo crimes de guerra na Ucrânia", afirmou o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson.

Antony Blinken, secretário de Segurança dos Estados Unidos, disse que as imagens são "um soco no estômago" e culpou a Rússia pelos assassinatos. Na mesma linha seguiu Olaf Scholz, primeiro-ministro da Alemanha. Segundo Scholz, Moscou "sentirá os efeitos" das retaliações.

O presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, declarou que "os crimes cometidos pela Rússia estão visíveis aos olhos do mundo. As imagens de Bucha me abalam, elas nos abalam profundamente". (Com agências internacionais)

Mapa Rússia invade a Ucrânia - 26.02.2022 - Arte UOL - Arte UOL
Imagem: Arte UOL