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Bolsonaro decreta luto de 3 dias por morte de Shinzo Abe: 'Amigo do Brasil'

Pedro Vilas Boas e Hanrrikson de Andrade

Colaboração para o UOL e do UOL, em Brasília

08/07/2022 09h33Atualizada em 08/07/2022 13h26

O presidente Jair Bolsonaro (PL) decretou hoje luto de três dias no país, publicado em edição extra do DOU (Diário Oficial da União), em virtude do assassinato do ex-premiê do Japão Shinzo Abe. Ele foi baleado quando discursava em um ato político na cidade de Nara, no oeste do Japão. Um suspeito foi preso e uma espingarda, apreendida.

"Recebo com extrema indignação e pesar a notícia da morte de Shinzo Abe, líder brilhante e que foi um grande amigo do Brasil. Estendo à família de Abe, bem como aos nossos irmãos japoneses, a minha solidariedade e o desejo de que Deus cuide de suas almas neste momento de dor", escreveu o governante nas redes sociais.

Na manhã de hoje, Bolsonaro participou de uma formatura militar em Pirassununga, em São Paulo, e mais uma vez expressou condolências pela morte do ex-premiê japonês. O presidente brasileiro disse que a tragédia o fez lembrar dos momentos em que esteve com Abe no Brasil e no Japão.

"Um homem afável, inteligente, patriota, que, em todas as vezes que tivemos juntos, buscou o bem-estar da sua população, bem como ouvindo o que eles poderiam colaborar para com o nosso povo brasileiro", declarou.

Segundo Bolsonaro, Shinzo Abe pagou "o preço por lutar por seu país". "E, na maioria das vezes, o inimigo não está lá fora. Está dentro da nossa própria pátria."

O hospital para onde Abe foi levado informou que o ex-premiê morreu às 17h03, no horário local (5h03, em Brasília), mais de cinco horas após ele ter sido baleado. Um médico disse que Abe sangrou até a morte, devido a dois ferimentos profundos, um deles no lado direito de seu pescoço. Ele não tinha sinais vitais quando deu entrada no hospital.

"Como sinal de nosso respeito ao povo japonês, de reconhecimento pela amizade de Shinzo Abe com Brasil e de solidariedade diante de uma crueldade injustificável, decretei luto oficial em todo o país durante 3 dias. Que seu assassinato seja punido com rigor. Estamos com o Japão", acrescentou o presidente brasileiro.

Segundo o porta-voz do governo japonês, Hirokazu Matsuno, os tiros foram disparados pouco antes do meio-dia, no horário local, e "um homem, que se acredita ser o atirador, foi detido".

Suspeito diz que não tinha rancor do ex-premiê

A polícia identificou Tetsuya Yamagami como o suspeito de matar o ex-premiê do Japão Shinzo Abe. Segundo o jornal Wall Street Journal, a imprensa japonesa noticia que ele afirmou aos policiais que não tinha rancor político contra o ex-chefe de Estado.

Um porta-voz da polícia disse que Yamagami, que tem 41 anos, foi preso às 11h32, horário local, por suspeita de tentativa de homicídio. O Ministério da Defesa disse que uma pessoa com o mesmo nome do morador de Nara integrou a Marinha japonesa, conhecida como Autodefesa Marítima, de 2002 a 2005.

De acordo com o jornal norte-americano, a arma usada no ataque é de "algum tipo", disse o porta-voz da polícia, indicando que parecia ser um dispositivo improvisado.

Reação da comunidade internacional

O presidente da França, Emmanuel Macron, disse estar "profundamente chocado com o ataque hediondo" contra o ex-primeiro-ministro japonês.

"A França está ao lado do povo japonês", acrescentou Macron em um tuíte, dirigindo seus "pensamentos à família e entes queridos de um grande primeiro-ministro".

O secretário-geral da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), Jens Stoltenberg, também se disse "profundamente chocado com o ataque hediondo ao ex-premiê enquanto se dirigia aos eleitores".

"Meus pensamentos vão para ele e sua família. A Otan está com o povo de nosso parceiro próximo, o Japão, e seu primeiro-ministro Fumio Kishida", tuitou.

O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, expressou tristeza e preocupação com o caso. Abe era tido como um aliado de Washington. "Este é um momento muito, muito triste", declarou Blinken à imprensa durante a reunião do G20 em Bali.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, classificou o ato como "abjeto".

A trajetória de Shinzo Abe

Vítima do ataque, Shinzo Abe bateu recordes como o primeiro-ministro mais longevo do Japão, resistindo a vários escândalos político-financeiros.

Abe tinha 52 anos quando assumiu o cargo de primeiro-ministro em 2006 e se tornou a pessoa mais jovem a ocupar a posição.

Ele era considerado um símbolo de mudança e juventude, mas também apresentava o pedigree de um político de terceira geração, preparado desde cedo para exercer o poder dentro de uma família conservadora de elite.

Seu primeiro mandato foi turbulento, marcado por escândalos e disputas, e terminou com sua renúncia abrupta após um ano.

Inicialmente ele declarou que renunciou por motivos políticos, mas depois admitiu que tinha um problema de saúde, que mais tarde foi diagnosticado como colite ulcerativa. A condição exigiu meses de tratamento, superado graças a um novo medicamento, segundo Abe.

Recuperado, ele voltou a ser candidato e retornou ao cargo de primeiro-ministro como um salvador do país em dezembro de 2012. Sua vitória encerrou um período turbulento em que os primeiros-ministros se sucediam ao ritmo de de até um por ano.

Afetado pelos efeitos do tsunami em 2011 e o desastre nuclear de Fukushima, o Japão encontrou em Abe uma mão confiável.

Abe ficou famoso no exterior por sua estratégia de recuperação econômica, conhecida como "abenomics", iniciada em 2012, na qual misturou flexibilização monetária, grande recuperação orçamentária e reformas estruturais.

*Com informações da Reuters e AFP

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.