'Para quem não lê notícia': tiktokers mostram rotina na Ucrânia em guerra
Se as publicações no início da guerra da Ucrânia focavam em mostrar imagens ao vivo da destruição nas redes sociais, hoje viralizam conteúdos de tiktokers que usam áudios e vídeos populares para mostrarem sua rotina em meio aos destroços.
É uma forma de atingir quem trocou a mídia tradicional por outras plataformas. "Várias pessoas mais novas que não assistem aos noticiários usam esse aplicativo [TikTok]", diz a influenciadora ucraniana Anna Malygon. Ela e Valeria Sashenok, ambas de 20 anos, têm os perfis mais populares com esta abordagem.
Os posts
Os vídeos mostram as consequências da guerra no cotidiano: imagens de construções bombardeadas, a vida em um abrigo antibombas, o que se faz ao ouvir o som sirenes na cidade, etc.
10 segundos são mais do que suficientes. Para Valeria, a limitação da duração de vídeos no TikTok não é problema. "Com 10 segundos eu consigo compartilhar o que está acontecendo e é fácil", diz. A rede atualmente suporta vídeos de até 10 minutos.
A decisão se baseia em seus próprios hábitos de consumo na rede. "Enquanto espectadora, não gosto de vídeos longos, só se for muito interessante, mas geralmente eu vejo 15 segundos e isso basta", conta Valeria.
Áudios virais e tendências. Músicas e dublagens usadas em perfis de diferentes nichos estão no repertório, além de sequências de imagens com legendas irônicas. Uma delas é a trend que usa Che La Luna como trilha sonora:
O começo
O primeiro post de Valeria Sashenok sobre o conflito é de 24 de fevereiro de 2022, o dia da invasão. "Quando ontem eu gastei todo o dinheiro em uma câmera nova e hoje Putin decidiu começar uma guerra na Ucrânia" (em tradução-livre do russo), diz o vídeo.
Eu não tinha um plano tipo: 'ok, amanhã eu vou postar sobre isso'. Não. Aconteceu de uma forma natural e, quando aconteceu, eu vi que as pessoas estavam muito interessadas nisso. Aí eu vi a oportunidade de mostrar como as pessoas sofrem na Ucrânia."
Valeria Sashenok ao UOL, em tradução-livre do inglês
Anna passou a postar após ida ao país. A ideia veio de um choque ao visitar os pais na Ucrânia em janeiro de 2023. Ela já postava conteúdos de moda e lifestyle em seu perfil antes da guerra.
O tiktoker falando de guerra e o de lifestyle usam a mesma estratégia. O segundo já talvez tenha hackeado as técnicas de chegar na 'For You' (setor de vídeos recomendados no TikTok) e ensinam outros nichos".
Issaaf Karhawi, pesquisadora do COM+ da ECA-USP, ao UOL
Quem são as tiktokers?
Valeria Sashenok acumula 1,3 milhões de seguidores e 52,7 milhões de curtidas. Em um único vídeo, a influenciadora alcançou 43,8 milhões de visualizações.
Anna Malygon tem 973,4 mil seguidores e um total de 49,2 milhões de curtidas. Seu vídeo mais famoso atingiu, sozinho, 56,8 milhões de visualizações.
O que elas querem
Conscientização. "Quero divulgar e conscientizar qual é a realidade da guerra, do ponto de vista de uma pessoa real e não dos noticiários e canais de TV", diz Anna. "Eu tento mostrar isso [a realidade da Ucrânia] na minha página, essa é a minha ação pelo meu país", diz Valeria.
Ação internacional. Valeria perdeu o irmão de 18 anos na guerra. O que ela quer são doações. E armas. Ela conta que recebe mensagens de pessoas que se emocionam com seus vídeos e que fazem doações para sua conta ou que vão até a Ucrânia para fazer trabalho voluntário. "Conheço pessoas que viajaram da Espanha, da Austrália para a Ucrânia só com a intenção de ajudar o meu país", afirma.
O que eu queria eram armas do governo ou de outros governos, de todo lugar, dos Estados Unidos, de outros países europeus. Para nós isso seria o bastante, só ter armas".
Valeria Sashenok ao UOL, em tradução-livre do inglês
Por que o TikTok?
TikTok é visto como meio de mostrar a realidade sem filtro. "Ele [TikTok] só tenta estar na moda e mostrar de uma forma mais real a situação no país ou na cidade, enquanto o Instagram não", explica Valeria Sashenok. Para Anna, o TikTok é a plataforma "mais poderosa da atualidade".
Valeria destaca a importância de rebater informações falsas divulgadas pelo governo russo: "Infelizmente, mesmo no século 21, a maioria das pessoas na federação russa simplesmente, não sei, f*** com essa vida e não querem perceber o grande problema do meu país."
A guerra nas redes
O bombardeio de informações de pessoas com opiniões diferentes nas redes sociais gera uma disputa de narrativas, que, às vezes, pode ser tão importante quanto a própria disputa militar, diz Fabrício Pontin, professor de Direito e Relações Internacionais na Universidade LaSalle, em Canoas (RS).
Ganha essa guerra quem conseguir ganhar a empatia e o apoio daqueles que não estão envolvidos diretamente no conflito, afirma Pontin.
Como está a guerra agora
A guerra da Ucrânia completou um ano em 2023. O último levantamento era de 210 mil mortos —do total, 30 mil civis. O conflito ainda não parece não ter data para acabar.
"Não é uma pequena guerra em um país distante. Agora eu estou na Inglaterra e apesar de distante, fisicamente distante da Ucrânia, é só no mapa, infelizmente", conclui Valeria Sashenok, que garante: "Você não precisa ir para a Ucrânia para entender o que está acontecendo".
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