Crise, ataques, debate eleitoral: o que se sabe sobre saques na Argentina

A Argentina vive momento de tensão em meio a saques a supermercados e lojas. Segundo agências internacionais, pelo menos 200 pessoas já foram presas. Além dos ataques violentos contra o comércio, o país enfrenta uma inflação descontrolada, que passa de 110% nos últimos 12 meses, e vive o clima de campanha, com eleições marcadas para 22 de outubro.

O que aconteceu

Grupos organizados, supostamente convocados pelas redes sociais, realizaram saques em lojas e supermercados. As cidades de Buenos Aires, Mendoza, Córdoba, Neuquén e Río Negro registraram ataques, que começaram na sexta-feira (18) e seguiram até quarta-feira (23).

A suspeita é que perfis falsos enviam mensagem incitando os integrantes a participarem de ações violentas. Como informou a reportagem do UOL, os saques são coordenados por meio de grupos de Facebook e, principalmente, de WhatsApp. O movimento é chamado de "ataque piranha", em referência ao cardume que devora as vítimas em poucos segundos.

"Isso não é espontâneo e não é uma coincidência", disse o ministro da Segurança, Aníbal Fernández. "Há um objetivo aqui de gerar algum tipo de conflito e tentamos evitá-lo."

Agências internacionais informam que até o momento foram registradas 150 tentativas de saques na periferia de Buenos Aires. Os supermercados são os principais alvos dos ataques.

Os saques começaram no fim de semana em Mendoza. No sábado, 18 pessoas foram presas na cidade. Na segunda (21), outras dez.

Enquanto grupos de apoio da polícia tentavam se antecipar aos roubos nas ruas da região de Buenos Aires na madrugada de quarta, quatro helicópteros sobrevoaram os pontos mais conflituosos. Os donos de supermercados relataram a chegada de grupos que danificaram a fachada e entraram nos estabelecimentos.

Foram registrados roubos de itens como bebidas, eletrodomésticos, computadores, alimentos e também de dinheiro. Imagens dos ataques na região da capital argentina mostram crianças e adolescentes levando bebidas alcoólicas.

Fazem uma maciça campanha através das redes sociais, incitando aos saques. Nos roubos, usam menores para roubar cigarros e bebidas alcoólicas.
Sergio Berni, secretário de Segurança da Província de Buenos Aires

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Crise econômica

Pobreza gerada pela inflação alta é combustível para os saques. Conforme dados divulgados pelo JP Morgan, a taxa pode chegar a 190% no fim deste ano. A cada remarcação de preço, o poder de compra diminui e a pobreza aumenta — o índice de pobreza na Argentina e chega a 40%.

O FMI aprovou na quarta-feira (23) o desembolso de US$ 7 bilhões para a economia argentina. Por meio do programa de assistência EFF (Extended Fund Facility). Com isso, o montante total liberado pelo fundo chega a US$ 36 bilhões.

Debate eleitoral

A inflação e os saques entraram no debate eleitoral. Para o governo atual, do presidente Alberto Fernández, um dos principais motores para incentivar os saques é o candidato da extrema-direita à presidência, Javier Milei, que lidera as sondagens para as eleições de 22 de outubro.

A porta-voz do governo, Gabriela Cerruti, disse à imprensa que os candidatos opositores Javier Milei e Patricia Bullrich "constroem seu discurso público com base no desejo que têm de que a democracia se desestabilize".

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As contas que incitam são todas vinculadas ao (partido) A Liberdade Avança. É uma operação armada pela gente do Javier Milei cujo objetivo é gerar uma desestabilização.
Gabriela Cerruti, porta-voz do governo

"Pobreza e saques são duas faces da mesma moeda, afirmou Javier Milei. O candidato mais votado nas primárias de 13 de agosto fez uma comparação entre o atual momento da Argentina e aquele vivido em dezembro de 2001, quando o país teve um colapso socioeconômico e político, com saques e violência até a queda governo do presidente Fernando de la Rúa.

"É preciso restaurar a autoridade", disse a segunda colocada nas prévias, Patricia Bullrich.

*Com informações da AFP, da Reuters e da RFI

Errata:

o conteúdo foi alterado

  • Diferentemente do informado, a inflação na Argentina passa de 110% nos últimos 12 meses, e não em 12 anos. O texto foi corrigido.

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