'Quase morri duas vezes', diz brasileiro convocado pelo Exército de Israel
O brasileiro Yehuda Weiss, 26, estava no festival de música alvo do ataque do Hamas no sábado (7), foi convocado pelo Exército de Israel no dia seguinte e sobreviveu a uma troca de tiros perto fronteira com a Faixa de Gaza.
Ao UOL, ele relata que presenciou, no domingo (8), a ofensiva de integrantes do grupo extremista a uma base militar israelense — que deu origem a uma troca de tiros.
A gente abriu fogo contra eles [do Hamas]. Começou a troca de tiros, eles eram muitos, nós éramos em oito. A troca de tiros durou de quatro a cinco minutos. Foi muito intenso. Depois disso, fui para o hospital. Quase morri por duas vezes.
Yehuda Weiss, brasileiro convocado pelo Exército de Israel
O que aconteceu
Weiss decidiu se oferecer para servir ao Exército israelense após ter escapado dos ataques com mísseis na rave em que foram encontrados ao menos 260 corpos. Militar da reserva, ele foi convocado no último domingo (8).
O brasileiro afirma que seguiu da cidade em que vive, Beer Sheva, para atuar em uma base do Exército israelense próxima à fronteira com Gaza. A viagem ocorreu entre as 17h e 19h do domingo, em um veículo com outros militares.
Na unidade, ele recebeu o uniforme e as armas. Sua função é cuidar da segurança do estoque de armas e tanques.
Um pedido de apoio da base vizinha o fez deixar o posto e seguir por cerca de 500 metros até outra unidade. "Escutamos no rádio uma unidade próxima pedindo ajuda, nos deslocamos rápido até lá", relata.
Vimos soldados mortos e pessoas do Hamas tentando sequestrar os corpos.
"Recebi dispensa pelas condições psicológicas"
Weiss relata que durante a troca de tiros percebeu que um integrante do Hamas poderia atingi-lo. "Virei para trás e o vi em minha direção, mas uma unidade de apoio de elite de Israel conseguiu me salvar. Fui atingido por estilhaços de bala."
O brasileiro conta que buscou abrigo em um muro próximo à base militar. "São blocos de concreto que usamos como abrigos. Machuquei a perna e fui levado para o hospital. Tive uma luxação no dedo, mas nada sério. Depois disso, fui levado ao hospital de Soroka, em Beer Sheva."
Quando passei pelo médico da base, fui informado que não estava em condições psicológicas de estar ali. Recomendaram que eu procurasse ajuda.
Weiss diz que agiu "de forma automática" durante o confronto. "Tentei ajudar quem estava ferido. Você só pensa quando termina. A gente só quer se abrigar e se proteger."
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Quero receberApós ter escapado de dois confrontos, ele cogita a volta ao Brasil. "Na verdade, não gostaria. Mas acredito que é a melhor opção no momento", afirma.
Com família vivendo em São Paulo, Weiss diz que escreveu ao Itamaraty solicitando ajuda para sair de Israel. "Não sei bem o que fazer, a cada minuto é uma chamada, uma mensagem de amigos. Minha irmã está em estado de choque, não consegue trabalhar, nem comer. Talvez eu saia de Israel até as coisas melhorarem. Não sei se volto ou se fico."
Enquanto ele estava no hospital, familiares recomendaram que deixasse o país. "Atendi minha irmã desesperada, ela sabia a base militar em que eu estava, viu que caíram mísseis e falou para eu pensar bem. Ela disse que já fiz minha parte."
Ele diz que se prepara para dias mais tensos, com um possível ataque por terra à Faixa de Gaza. "Comprei alimentos e água para os próximos dias. Está muito complicado sair na rua, estou com dois amigos que sobreviveram na festa."
A gente escuta as bombas de Gaza e os mísseis o tempo todo. Está um caos. Está horrível.
"Chuva de mísseis" em festival de música
Weiss diz que acompanhava o festival quando começaram os ataques terroristas a Israel. "Vi uma chuva de mísseis a 100 ou 200 metros de distância. O lugar em que fizeram o festival fica ao lado de uma base invadida pelo Hamas onde roubaram tanques e motos", afirma.
O brasileiro conta que alguns amigos foram sequestrados e mantidos reféns por integrantes do Hamas no local da rave. "Tinha acabado de voltar para a barraca. Uma amiga minha está mantida refém, e não tivemos mais notícias dela."
Weiss afirma que, quando os ataques começaram, pensou serem fogos de artifício da festa. "Começamos a perceber quando desligaram a música. Uma pessoa pegou o microfone e disse: 'Busquem abrigos ou permaneçam no chão'."
O espaço era um campo aberto, sem locais para o público se proteger. "Não tinha onde se esconder. Vimos drones, estavam filmando a gente." Depois, o brasileiro e alguns amigos conseguiram sair do festival para localizar os veículos em que estavam.
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