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Gaza terá colapso nos próximos dias, diz embaixador do Brasil na Palestina

Palestinos procuram sobreviventes em casas destruídas por ataque israelense em Khan Younis, na Faixa de Gaza Imagem: IBRAHEEM ABU MUSTAFA/REUTERS

Do UOL, em São Paulo

27/10/2023 13h57

O embaixador do Brasil na Palestina, Alessandro Candeas, afirmou nesta, sexta-feira (27), que a Faixa de Gaza vai entrar em "colapso humanitário" nos próximos dias. Em entrevista ao UOL, pouco antes de a comunicação ser cortada no território, ele disse que já falta energia elétrica e que, nos próximos dias, vai faltar alimento.

O que aconteceu

Chegam à Faixa de Gaza entre 10 e 20 caminhões por dia com alimentos e itens de primeira necessidade de ajuda humanitária. "Passam alimentos, água, um pouco de combustível e medicamentos. Nos próximos dias vai faltar alimento, energia elétrica já está faltando. Queremos proteger os brasileiros dessa crise humanitária", afirmou Candeas.

Antes do conflito, a quantidade de veículos que chegava com ajuda humanitária à Faixa de Gaza era de 200 caminhões por dia, segundo o embaixador. "Esse território já estava em crise, mas hoje é uma crise humanitária muito maior."

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Candeas relata que tem recebido de brasileiros da região mensagens de áudio, vídeo e texto "desesperadores". "A gente percebe a aflição dos brasileiros, sobretudo com os bombardeios. Isso foi muito grave na primeira semana. Essa noite relataram dificuldade para respirar com as explosões."

Embaixador brasileiro Alessandro Candeas, em entrevista ao Canal Gov Imagem: Reprodução/@canalgov no Instagram

Após os bombardeios israelenses, Candeas disse que uma das ações da Embaixada foi deslocar alguns brasileiros para uma escola. "Avisamos Israel que eles estavam lá para que não fosse bombardeada. Mas tudo ao redor foi bombardeado. Eles mostravam vídeos com crianças gritando. É desesperador. A situação só vai piorar."

O embaixador confirmou que ocorreu um corte nas comunicações da Faixa de Gaza por volta das 14h [horário de Brasília]. Momentos depois, Candeas disse que conseguiu comunicação com um dos brasileiros hospedados em Rafah. Segundo o relato, há bombardeios intensos, mas eles estão em segurança.

Entraves para a volta

O fechamento da fronteira do Egito com Rafah, na Faixa de Gaza, e as negociações entre Israel e Egito foram apontados como os principais entraves para a repatriação dos brasileiros-palestinos. "Há duas semanas [a fronteira] está fechada porque foi bombardeada."

A autorização do Egito para a entrada dos brasileiros naquele país também é apontada pelo embaixador como uma dificuldade. "Há uma coordenação de segurança entre Israel e Egito porque tudo é monitorado, tudo é complexo. Os dois países precisam aprovar a saída de brasileiros e de pessoas de outras nacionalidades."

Candeas disse ainda que o presidente Lula tem conversado com os presidentes de Egito e Israel. "[Esperamos] que Israel e Egito entrem em acordo para a saída dessas pessoas", afirmou. Contudo, o embaixador disse que não há uma data certa para a autorização e a saída dos brasileiros ocorrer.

A primeira ação da Embaixada foi retirar os brasileiros do norte da Faixa de Gaza, considerada a "zona de combate". "Avisamos Israel sobre o deslocamento do ônibus e a localização dos brasileiros para que não fossem alvos", diz. O grupo foi alocado em duas casas em Rafah e em outras quatro casas na cidade de Khan Yunis.

Tenho confiança que vai destravar, isso depende da coordenação entre Israel e Egito, então, não conseguimos prever. O presidente [Lula] falar com eles [brasileiros na Faixa de Gaza] eleva o moral do nosso grupo, eles ficaram felizes.
Alessandro Candeas, embaixador do Brasil na Palestina

Imagem: Arte/UOL

Rota de volta

Candeas ressaltou que há um avião presencial no Cairo, na capital do Egito, preparado para repatriar os brasileiros. "Assim que sair o anúncio já está tudo pronto. Levamos os brasileiros com pelo menos dois ônibus", afirmou.

Até o momento, há 32 pessoas no grupo dos que pediram para voltar ao Brasil. Mas o número pode aumentar, segundo o embaixador. "Estamos recebendo mais nomes. Vai crescer [o número] porque mais pessoas estão manifestando o desejo de sair da região."

Com as negociações entre os países destravadas, o grupo deve sair de Rafah e ir de ônibus para o Cairo, no Egito. De lá, embarcam em um avião presidencial. Candeas afirma que o trajeto terrestre tem cerca de 400 quilômetros. "É um caminho bem difícil pelo meio do deserto, com muitos checkpoints", diz.

Candeas afirma ainda que o presidente Lula está "pessoalmente" envolvido nas negociações e mantém contato com os brasileiros-plestinos em Gaza. "É fundamental o envolvimento pessoal do presidente, isso mostra a importância política disso."

Há duas semanas, imaginávamos que ia acontecer no dia seguinte e não aconteceu. Nos últimos dias, a situação entrou numa inércia. Mas, estamos prontos para que a fronteira seja aberta a qualquer momento.
Alessandro Candeas, embaixador do Brasil na Palestina

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