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Ele viveu 30 anos na selva sem crer no fim da 2ª Guerra - e veio pro Brasil

Nos últimos meses da Segunda Guerra Mundial, o tenente japonês Hiroo Onoda (foto tirada por volta de 1944), foi transferido para a ilha de Lubang, nas Filipinas Imagem: Getty Images/BBC

Do UOL, em São Paulo

18/03/2024 04h00Atualizada em 18/03/2024 08h44

Há 50 anos, em março de 1974, um soldado japonês que vivia escondido na selva da pequena ilha de Lubang, nas Filipinas, recebia a notícia de que a 2ª Guerra Mundial havia chegado ao fim havia quase 30 anos — fato no qual ele se recusava a acreditar até então.

Entenda a história

Hiroo Onoda, que era tenente do exército nipônico à época do conflito global, foi transferido para Lubang em dezembro de 1944. Naquele ano, o arquipélago filipino estava sob domínio do Japão, que tentava impedir a invasão de tropas dos EUA na ilha.

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Fuga e declaração de morte. Meses antes do fim da guerra, durante o combate entre japoneses e norte-americanos, quase todos os soldados da resistência foram mortos ou capturados em Lubang, mas Onoda escapou ao se refugiar na floresta local. O governo japonês declarou Onoda como morto em 1959.

Na realidade, ele estava vivo e se dedicando à missão secreta confiada a ele: de proteger o arquipélago filipino até o retorno do Exército imperial.

Ao embarcar para Lubang, no final de 1944, Onoda recebeu instruções específicas para "não entregar sua vida voluntariamente, sob nenhuma circunstância". "Você está terminantemente proibido de morrer pelas próprias mãos", teria ouvido ele, segundo relatou em suas memórias, publicadas em 1974, em um livro intitulado "Sem Rendição: Minha Guerra de 30 anos".

Onoda foi recrutado pelo Exército japonês em 1942 e selecionado para treinamento de combate de guerrilha, na unidade da Escola Militar Nakano, em Futamata. Na época, os combatentes japoneses seguiam um protocolo militar conhecido como Senjinku, que os instruía a não se renderem nunca — ou seja, a morrerem lutando ou a cometerem suicídio.

'Propaganda ianque'

A missão de Onoda era destruir a pista de pouso e um cais no porto de Lubang, além de eventuais aviões ou tripulações inimigas que tentassem desembarcar. Mas ele fracassou e, enquanto as forças norte-americanas assumiam o controle da ilha, ele e seus colegas se refugiaram na floresta.

A guerra acabou logo em seguida, mas Onoda e outros três recrutas que permaneciam ao seu lado deram como falso o conteúdo dos folhetos lançados sobre Lubang para informar os militares isolados de que o Japão havia se rendido em 15 de agosto de 1945, após o lançamento de bombas atômicas pelos EUA sobre Hiroshima e Nagazaki.

Eles continuaram escondidos na selva, entre cobras e insetos, alimentando-se de cascas de banana, cocos e arroz roubado para sobreviver, convencidos de que o inimigo estava tentando matá-los de fome.

Equipes de busca do Japão tentaram encontrá-los, mas Onoda acreditava que eram prisioneiros japoneses forçados a capturá-los. O tenente também achava que fotos enviadas por parentes tinham sido retocadas — ele não tinha ideia de que sua cidade-natal havia sido bombardeada e reconstruída.

Ele acreditava ainda que os jatos que ouvia sobrevoando a região durante a Guerra da Coreia (1950-1953) fossem uma contraofensiva japonesa — e que os jornais lançados sobre a ilha informando sobre o conflito fossem "propaganda ianque".

As memórias do soldado

Hirro Onoda ao deixar a floresta de Lubang em 1974, onde se escondeu por quase 30 anos, pós 2º Guerra Imagem: Getty Images

Sem aceitar a realidade. Onoda escreveu no registro de suas memórias que, até 1959, ele e seu companheiro Kinshichi Kozuka haviam "desenvolvido tantas ideias fixas" que eram "incapazes de aceitar qualquer coisa que não se encaixasse nelas".

Kozuka acabou morto por tiros disparados pela polícia local em outubro de 1972, mas Onoda permaneceu sozinho na ilha por mais 18 meses, até que um encontro com um excêntrico explorador japonês de nome Norio Suzuki resultou em um acordo. Se Suzuki conseguisse trazer o comandante de Onoda para Lubang com ordens diretas para que ele depusesse as armas, ele obedeceria.

A missão de Suzuki foi um sucesso e, para Onoda, a guerra chegou ao fim em 9 de março de 1974. Quando retornou ao Japão, no mesmo ano, Onoda foi recebido como herói. Ele foi o último soldado japonês a voltar da 2º Guerra para casa. Seu livro de memórias, publicado pouco depois, se tornou um best-seller. Sua história virou o filme "Onoda - 10 Mil Noites na Selva".

Relação com o Brasil

Após toda esta saga, o soldado japonês virou um "quase brasileiro". Segundo a Folha, ele passou quatro décadas entre o Japão e o Brasil, até morrer, em 2014, no Japão. Por aqui, se casou e montou uma fazenda de gado, em Mato Grosso do Sul.

A vinda ao Brasil foi motivada pelo fato de que o mais próximo de seus irmãos, Tadao Onoda, fixou residência no país no pós-guerra.

Eu me lembro de tê-lo visto duas vezes pessoalmente. Mas eu era muito jovem, então nunca criei um diálogo, uma relação muito próxima. Ele se estabeleceu aqui, inicialmente, mas com o passar dos anos foi ficando cada vez mais tempo no Japão e fomos perdendo o contato
Sobrinho-neto de Onoda, Camilo Onoda Caldas, advogado e escritor, à Folha

Errata: este conteúdo foi atualizado
O soldado japonês viveu no Brasil, mas morreu no Japão, diferentemente do que foi informado na versão inicial do texto. O conteúdo foi corrigido.

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