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Análise: Ataque em Rafah é tão sangrento que muda percepção pública

Colaboração para o UOL, em São Paulo

27/05/2024 19h19Atualizada em 27/05/2024 19h33

O ataque de Israel a um campo de refugiados na Faixa de Gaza, em Rafah, é tão grave e violento que muda a percepção social e pública sobre o conflito, afirma o professor de sociologia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Michel Gherman, em entrevista ao UOL News nesta segunda-feira (27).

No domingo (26) ao menos 45 pessoas morreram e dezenas ficaram feridas no bombardeio israelense perto de Rafah, no sul de Gaza, informou o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo grupo extremista Hamas. O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, cita "incidente trágico".

O que aconteceu em Rafah é tão grave, trágico e sangrento que são coisas que mudam a percepção social e pública do que está acontecendo. Temos uma situação que é absolutamente bizarra. Michel Gherman, professor de sociologia da UFRJ

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O professor cita três grupos que apoiam Netanyahu politicamente até o momento:

  • Primeiro são os próprios deputados do Likud, partido do Benjamin. Muito populista, fisiológico e que tem um centro de poder que as pessoas "devem mais aos eleitores do Likud do que do país". É um grupo de deputados fisiológicos;
  • O segundo círculo é um grupo de deputados de extrema direita. E é extrema direita mesmo, gente que fala sobre as perspectivas messiânicas da guerra. Gente que comemorou o 7 de outubro porque tem sinais políticos de Messias voltando. Gente que tem vínculos profundos com a extrema direita europeia, húngara. São setores que têm uma desconexão completa com esses manifestantes e têm uma agenda muito clara: expansão territorial, teológica e política, e de extrema direita;
  • Os terceiros são ultraortodoxos que não são sequer sionistas. Eles não servem no Exército os seus deputados e estão lá para garantir ganhos políticos específicos, dinheiro para suas academias rabínicas. E estão muito bem, porque conseguem garantir benefícios para seus eleitores.

Gherman: Em termos políticos, não dá para acreditar em Netanyahu

O professor da UFRJ, que também é pesquisador do Centro de Estudos do Antissemitismo da Universidade Hebraica de Jerusalém, explica que o ocorrido evidencia "um claro crime de guerra" e que não dá para acreditar no político.

O que aconteceu foi produto de uma decisão tomada por ele para garantir estabilidade na sua coalizão, ou seja, interesses internos políticos que acabou produzindo, em última instância, um massacre terrível que coloca a gente diante de um claro crime de guerra. Michel Gherman, professor de sociologia da UFRJ

Em termos políticos, é claro que não dá para acreditar [em Netanyahu]. Ele foi advertido de que isso poderia acontecer, ele produziu a entrada e ataque em Rafah, e aconteceu o que todos advertiram que ia acontecer. Mas em uma lógica muito especifica de um político absolutamente vinculado com seus problemas pessoas. Michel Gherman, professor de sociologia da UFRJ

Ele acreditou efetivamente que isso poderia não acontecer. Tem uma dimensão de desconexão do Benjamin Netanyahu com a realidade que o cerca que me faz efetivamente imaginar que sua biografia nos faz acreditar que em algum momento ele poderia sair como herói nessa história. Mas é um trafico incidente que foi produzido por uma decisão política que todos imaginavam que o resultado seria esse. A não ser o próprio Benjamin Netanyahu sendo um pouco mais positivo em relação a pessoa dele. Michel Gherman, professor de sociologia da UFRJ

Gherman: Com ataque, Netanyahu põe sentença de morte sobre sequestrados

Para Michel Gherman, o ataque ordenado por Benjamin Netanyahu mostra que ele "não tem ideia do que quer com a guerra".

O deputado Ofer Cassif fez uma fala que diz 'nós estamos diante de uma guerra civil fria', ou seja, Benjamin Netanyahu tá tratando os parentes dos sequestrados, os que fazem manifestação contra ele, quem tentou fazer que o 7 de outubro não acontecesse como inimigos. Ou seja, há aqui uma construção de uma gramática de Guerra Civil. Tem inimigos internos e Netanyahu luta contra eles. Michel Gherman, professor de sociologia da UFRJ

O que aconteceu de ontem para hoje mostra em última instância que ele não tem ideia do que ele quer com a guerra. É uma guerra tática sem estratégia e que está produzindo o recrudescimento da oposição de Israel no mundo e do antissemitismo. Michel Gherman, professor de sociologia da UFRJ

Mas, ao mesmo tempo, quando Netanyahu faz um ataque desse em Rafah, e a gente imagina que a maioria dos sequestrados estão em Rafah, ele está colocando de fato na testa dos sequestrados que ainda estão vivos, uma sentença de morte. Michel Gherman, professor de sociologia da UFRJ

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