Macron 'gruda' em medalhistas para esconder desgaste político, diz oposição
O presidente francês Emmanuel Macron tem sido alvo de críticas da oposição e da população por estar frequentemente 'grudado' nos medalhistas franceses durante as comemorações nas Olimpíadas. Para os adversários, esta é uma maneira de associar sua imagem ao sucesso dos atletas e abafar um momento de tensão política.
O que aconteceu
Macron marcou presença em diversas competições desde o começo dos Jogos Olímpicos. Entusiasta dos esportes, o presidente compareceu a diversas competições e parabenizou dezenas de atletas. Na sexta-feira (2), Macron fez uma maratona e passou pelo hipismo, vôlei de praia, judô e natação. Em todas as ocasiões, chamou a atenção da imprensa e dos espectadores.
Aproximação dos atletas é comparada ao comportamento do presidente na Copa de 2018. Após derrota na competição, o presidente consolou os jogadores com um sorriso no rosto, dando beijos e abraços. Na época, o tratamento foi considerado fora do tom pelos espectadores. Neste ano, Macron repetiu os carinhos exagerados. O presidente foi fotografado abraçando, segurando o pescoço e até enxugando lágrimas dos esportistas, como aconteceu com a judoca Romane Dicko. "Esses gestos de Macron são constrangedores, é inapropriado", considera a deputada ambientalista Sandrine Rousseau.
Oposição acredita que o presidente esteja usando as Olimpíadas para melhorar sua popularidade após desgaste político. As deputadas Hélène Laporte, do partido Rassemblement National, e Ersilia Soudais, do France Insoumise, acusaram Macron de usar as Olimpíadas para recuperar sua fama, associando sua imagem ao sucesso dos atletas.
Franceses se irritaram com a tentativa de Macron de se destacar após a vitórias. "Macron é campeão mundial de judô em todas as categorias. Chamamos isso de grude" e "Macron está na piscina para tirar uma foto com [o nadador Léon] Marchand, é um pesadelo", escreveram internautas no X. Também há quem veja o presidente se apropriando do sucesso dos atletas de maneira oportunista: "Essa necessidade de existir através dos resultados dos outros não é saudável para Macron, que não tem resultados positivos", escreveu um artista francês.
"Não estamos fazendo isso por ele", respondeu um atleta francês quando questionado sobre a presença de Macron nos jogos. Medalhista de bronze em salto por equipes no hipismo, Simon Delestre declarou que a presença do presidente não é a motivação dos atletas durante entrevistas com a imprensa na zona mista, segundo a jornalista Sasha Beckermann, da France TV Sport.
Trégua olímpica
Foi declarada uma trégua política durante os jogos. O presidente declarou que não anunciaria o novo premiê francês durante as Olimpíadas e incentivou os políticos a deixarem assuntos polêmicos suspensos durante o evento. No entanto, a oposição vê a trégua como um comportamento unilateral: "Vimos claramente que se trata de uma trégua olímpica que só vai numa direção. Não podemos falar de política, mas ele pode explorar todos os sucessos [dos atletas ao seu favor]", disse a deputada de esquerda Manon Aubry.
Macron foi considerado derrotado após duas eleições desfavoráveis. Após a vitória do partido de extrema-direita nas eleições europeias, Macron dissolveu o parlamento francês e convocou eleições antecipadas. Após nenhum partido conseguir eleger a maioria dos legisladores, Macron tem a difícil missão de nomear um primeiro-ministro que agrade uma parte considerável do Parlamento.
Imprensa vê Macron usando as Olimpíadas para entreter população enquanto adia decisão. Para a jornalista francesa Paulina Bock, do The Guardian, Macron "se deleita em ter o controle total da agenda", já que é o único autorizado pela constituição a anunciar o primeiro-ministro. A jornalista acrescenta que o presidente aproveita a pausa esperando que "a aliança de esquerda se deteriore o suficiente para que a situação vire ao seu favor" e seja menos complexo nomear um premiê. O político também tem a teoria de que os franceses querem essa trégua para esquecer a política por um tempo, segundo Bock.
Oposição alega necessidade equilibrar política e jogos. "Ele quer uma trégua olímpica... mas não estamos nem um pouco cansados, conseguimos fazer duas coisas ao mesmo tempo, como assistir à final dos 400 metros com barreiras e formar um governo", disse Marine Tondelier, secretária-geral do Partido Verde.
Trégua está com dias contados. Para Alexandre Eyries, especialista consultado pelo portal 20 Minutes, essa trégua apenas varre os problemas da política interna para debaixo do tapete. "[A trégua] não vai durar, porque, assim que terminar a competição, voltaremos às habituais querelas políticas", avaliou.
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