Quem é o ex-hooligan que lidera protestos de extrema direita no Reino Unido
Do UOL, em São Paulo
07/08/2024 05h30Atualizada em 07/08/2024 07h22
Violentos protestos contra imigrantes e muçulmanos vem acontecendo nas últimas semanas, liderados pelo agitador social de extrema-direita Tommy Robinson. Conheça mais sobre ele.
Ex-hooligan e islamofóbico
Robinson criou maior associação anti-Islã da Inglaterra. Em 2011, ele criou a Liga de Defesa da Inglaterra, movimento social islamofóbico que se descrevia como "anti-jihadista" e que pregava o "banimento de terroristas da Inglaterra", em referência a muçulmanos que vivam no país.
Foi membro de partidos fascistas e de extrema-direita. Desde 2005, Robinson foi afiliado a diversos partidos e organizações, como o Partido Nacional Britânico (de orientação fascista), o Partido Liberal Britânico, do qual foi vice-presidente, e o Partido de Independência do Reino Unido, que segue o populismo de extrema-direita.
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Líder do movimento "contra-jihad". Uma vertente da islamofobia, o movimento contra-jihad prega que o islamismo não deve ser visto como uma religião, mas uma ameaça à liberdade e às religiões do Ocidente. Robinson afirmou em uma entrevista recente que o Islã é uma "ideologia violenta fascista que se disfarça de religião".
Em 2017, instigou responsável a atacar mesquita. O jornal The Indenpent publicou que Robinson mandou e-mails a Darren Osborn um dia antes dele atropelar 12 muçulmanos próximos a uma mesquita, matando uma delas e ferindo as outras 11. Nas mensagens, Robinson disse a ele que "Há uma nação dentro de uma nação formando-se logo abaixo da superfície do Reino Unido. É uma nação construída sobre o ódio, sobre a violência e sobre o Islã". O comandante da unidade contra-terrorista da polícia inglesa considerou que Robinson fez "lavagem cerebral" com Osborn e o incentivou a praticar o ataque.
Agitador foi preso várias vezes. Entre crimes cometidos, estão a participação em brigas generalizadas, organizações de protestos violentos, ataques a policiais, uso de passaporte falso, fraude hipotecária e stalking.
Ex-hooligan, começou movimentos violentos em estádios. Torcedor fanático do Luton Town, Robinson instigava brigas com torcedores rivais e chegou a ser preso por iniciar uma briga com torcedores do Newport County, na qual se envolveram mais de 100 pessoas. Muitos dos membros da Liga de Defesa da Inglaterra eram torcedores do clube, e recrutados pelo próprio Robinson.
Extremista invadiu sede da Fifa, em Zurique. Em 2011, Robinson subiu no telhado da sede da Fifa para protestar sobre a proibição da seleção inglesa de usar botóns em homenagem aos soldados britânicos mortos. Ele foi preso por três dias e multado em 3.000 libras esterlinas (cerca de 7,7 mil reais, na época).
Expulso de redes sociais, Robinson só voltou ao Twitter após Elon Musk. Tommy Robinson teve suas contas banidas de Facebook, Instagram e Twitter em 2018 e 2019. Ele só pode voltar ao Twitter (agora, X) depois que Elon Musk comprou a rede social. Em sua conta, faz posts regulares em que espalha suas ideias islamofóbicas e acusa os muçulmanos de crimes diversos.
Robinson fugiu do Reino Unido e está nos EUA. Após mostrar seu filme "Silenciado" para manifestantes em Londres, ele fugiu do país e teve um mandado de prisão expedido. O filme repete acusações falsas de que um refugiado sírio adolescente teria espancado uma colega e prometido esfaquear outro adolescente. Processado pelo refugiado, Robinson foi condenado em 2021 a pagar 100.000 libras esterlinas (cerca de R$ 714 mil) a ele.
Protestos estouraram após mortes de crianças
Alice Dasilva Aguiar, 9, Elsie Dot Stancombe, 7, e Bebe King, 6, foram mortas esfaqueadas. Outras oito crianças ficaram feridas, cinco delas em estado grave, além de dois adultos, na última terça-feira (30) em Southport, cidade do litoral.
O ataque ocorreu durante uma aula de dança de férias com tema da artista Taylor Swift. Um garoto de 17 anos, identificado como Alex Rudakubana, é apontado como autor dos assassinatos, foi detido e compareceu a um tribunal inglês.
Apoiadores da extrema direita começaram a disseminar nas redes sociais a informação de que o suspeito era terrorista. O caso gerou revolta e desencadeou duas noites de protestos violentos pela Inglaterra, incitando ódio contra imigrantes e muçulmanos.
Os atos também interferiram nas homenagens que estavam sendo feitas às vítimas. Políticos e policiais disseram que a maioria dos manifestantes não era da região e que os confrontos atrapalharam a vigília com presença de milhares de pessoas.
Parte da comunidade havia ido para as ruas homenagear as vítimas, depositando flores nos túmulos. ''Aqueles que sequestraram a vigília pelas vítimas com violência e insultaram a comunidade enquanto ela sofre sentirão toda a força da lei'', disse o premiê sobre os atos violentos.
Usando as mídias sociais e plataformas, extremistas de direita convocaram pessoas a irem à Southport. ''Usem máscaras'', aconselharam as mensagens, também orientando o local onde se encontrariam e apontando uma mesquita próxima, que seria um dos palcos do tumulto.
A polícia desmentiu os ativistas e disse que o ataque não estava relacionado ao terrorismo. Além disso, a corporação afirmou que o adolescente nasceu na Grã-Bretanha. O menino era de Cardiff, nos Países de Gales, e se mudou para Inglaterra em 2023, segundo a BBC. Os pais dele são de Ruanda.
Ao menos 100 pessoas foram presas durante as manifestações. Extremistas de direita teriam entrado em confronto com as forças policiais, incendiando automóveis e atirando tijolos e outros objetos contra os agentes.
39 policiais ficaram feridos. Segundo o Serviço de Ambulâncias do Noroeste, 27 deles precisaram ser levados ao hospital. Oito sofreram ferimentos graves, incluindo fraturas. Além deles, três cães da polícia também foram atingidos.
O primeiro-ministro britânico Keir Starmer precisou convocar uma reunião de crise após as manifestações. Ele pretende conversar com chefes de polícia sobre a escalada da tensão e possíveis ações de contenção.