Acordo de paz ou cessar-fogo: quando deve acabar a guerra na Ucrânia?
Daniel Sousa e Tanguy Baghdadi, criadores do Petit Journal, se mostraram céticos em relação ao fim da guerra entre a Rússia e a Ucrânia no curto prazo. Em entrevista ao Alt Tabet, do Canal UOL, os especialistas em política internacional disseram que um acordo de paz não deve vir tão breve quanto almeja a comunidade mundial.
Para Sousa, a possibilidade de um acordo de cessar-fogo no conflito que já dura mais de dois ano pode ser mais promissora. "Acordo de paz deve demorar muito tempo. Se você considerar que o fim da guerra [passa pelo] estabelecimento de fronteiras, que é um terreno disputado, também vai demorar muito tempo. Agora o acordo de cessar-fogo talvez chegue um pouco antes", declarou.
Já Baghdadi destacou que esses conflitos são longos porque as potências, apesar da superioridade, têm dificuldade em vencer. "Se a gente analisar as últimas guerras, vai ver que potências têm dificuldades em vencê-las, porque o terreno poderoso entende que o preciso é ganhar tempo. Os Estados Unidos não ganharam do Vietnã nem ganharam de fato do Afeganistão, não teve uma vitória soviética no Afeganistão. Não há vitórias retumbantes das grandes potências".
Nesse sentido, para Baghdadi "o papel da Ucrânia não era ganhar da Rússia, mas não ser derrotada". "E foi o que a Ucrânia fez, ganhou tempo. E se você tem a Rússia que faz a invasão, o custo maior, inicialmente, é da Rússia. Então a expectativa da Ucrânia é [dizer]: 'Eu preciso de ajuda para manter essa guerra e deixar os russos se preocuparem com isso'. É o que a Ucrânia fez. Nesse sentido, quem tem a vantagem é quem está no terreno. Então se a Ucrânia está se defendendo, ela tem uma série de desvantagem, mas também tem algumas vantagens defensivas e a Rússia tem uma responsabilidade muito grande".
Os especialistas também destacaram que, ao contrário da expectativa da comunidade internacional, a Rússia conseguiu manter uma resiliência econômica. "Em mais de dois anos de guerra ela não quebrou como se imaginava", ponderaram Sousa e Baghdadi, mesmo ressaltando que Moscou sofreu diversas sanções econômicas motivadas pela guerra.
Kamala tem desafio maior que Obama
Sousa disse que o principal desafio de Kamala é bater Trump nos chamados estados-pêndulo, que costumam definir o resultado das eleições nos EUA. "A eleição, na prática, é disputada nesses estados. Ela vai ter que dialogar com aquele eleitor do Trump, uma pessoa que foi empobrecida pela globalização, que considera que o mundo está mudando muito rápido. E ele vai olhar para uma mulher negra, da Califórnia, uma mulher que tem uma agenda progressista e que pode afastar esse eleitorado. Isso é um super desafio".
Baghdadi ressaltou que Obama venceu nos estados-pêndulo e também acredita que, para Harris, o cenário é mais desafiador. "O Obama ganhou as eleições nesses estados-pêndulo, mas a Kamala tem mais a questão de, além de ser negra, ser uma mulher da Califórnia. Ela tem uma missão mais difícil que a do Obama. As pesquisas mostram que o Trump continua à frente nesses estados, mas a distância é menor com a Kamala, que se mostrou competitiva e agora tem que saber se ela vai continuar [crescendo]".
'Eleição na Venezuela foi roubada em vários momentos'
Sousa ponderou que o pleito venezuelano "foi muito roubado em vários momentos". "Desde o processo eleitoral em si, em que o Maduro escolheu com quem ele iria concorrer. No próprio processo houve prisões de líderes da oposição e a não divulgação dos boletins de urnas", declarou.
Para Sousa, a Justiça Eleitoral da Venezuela, "controlada por aliados de Maduro", errou ao não divulgar as atas do pleito. "Estamos falando de um Conselho Nacional Eleitoral que simplesmente disse: 'Olha, o Maduro venceu e é isso, acreditem em mim'. Isso não é possível, ainda mais em um Conselho que é controlado pelos maduristas".
Baghdadi avaliou que Nicolás Maduro não se incomoda mais com a repercussão negativa das suspeitas de ilegalidades nas eleições venezuelanas. "A retaliação internacional importa menos. O Maduro já colocou isso na equação, já entendeu que vai ficar isolado de qualquer maneira e que isso não fará diferença. Você consegue se manter isolado. Agora, internamente, a coisa pode ser diferente, porque, principalmente, a expectativa com essa eleição era muito diferente".7
Alt Tabet no UOL
Toda quarta, Antonio Tabet conversa com personagens importantes da política, esporte e entretenimento. Os episódios completos ficam disponíveis no Canal UOL e no Youtube do UOL. Assista à entrevista completa com os criadores do Petit Journal:
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