Fuga silenciosa e escala em Açores: como foi a fuga de opositor de Maduro

Edmundo González, opositor de Nicolás Maduro, fugiu da Venezuela após semanas escondido e conseguiu asilo na Espanha para escapar de uma prisão iminente.

O que aconteceu

Edmundo González, ex-candidato à presidência da Venezuela, fugiu para a Espanha no domingo (8). Ele foi levado em um avião da Força Aérea Espanhola para uma base militar em Madri, conforme informado pelo governo espanhol.

A fuga ocorreu depois que o governo de Nicolás Maduro emitiu um mandado de prisão contra ele. Segundo o France 24, González pediu asilo na Espanha após ser acusado de crimes como conspiração e falsificação de documentos públicos.

Ele permaneceu escondido por várias semanas na Embaixada da Espanha, em Caracas, enquanto negociações entre a Espanha e a Venezuela garantiam um salvo-conduto para sua saída. No sábado (7), o governo venezuelano autorizou sua partida.

No domingo (8), González foi discretamente levado ao aeroporto. Um avião da Força Aérea Espanhola o aguardava para transportá-lo em segurança. O modelo da aeronave era um Dassault Falcon F900, que partiu de Caracas rumo à Espanha

Durante o voo, o avião fez uma escala na base aérea de Lajes, nas Ilhas Açores. O pouso ocorreu às 10h29, horário local, como confirmado por serviços de monitoramento de voo. Após essa breve parada, o avião seguiu viagem para a Espanha, informou o portal de notícias chileno Emol.

O desembarque aconteceu na base militar de Torrejón de Ardoz, nos arredores de Madri. González foi recebido pelas autoridades espanholas e iniciou o processo de solicitação formal de asilo, acompanhado de sua esposa. A Espanha já havia confirmado que concederia o asilo, conforme comunicado pelo ministro das Relações Exteriores, José Manuel Albares.

A eleição presidencial venezuelana de 28 de julho foi cercada de controvérsias, com o governo de Maduro declarando vitória com 52% dos votos, e a oposição afirmando que González foi o verdadeiro vencedor. Relatórios coletados por voluntários de mais de dois terços das urnas eletrônicas indicam que ele venceu por uma margem de dois para um, conforme noticiado pelo The Guardian. Apesar disso, o Supremo Tribunal de Justiça, controlado por aliados de Maduro, ratificou o resultado oficial.

A repressão pós-eleitoral foi intensa, com mais de 1.700 detidos, incluindo adolescentes e líderes oposicionistas. Segundo organizações de direitos humanos, os detidos fazem parte da "Operação Tun Tun", uma operação do governo para reprimir os protestos após as eleições. O The Guardian também informou que, diante dessa repressão, Edmundo González se refugiou na embaixada da Espanha antes de sua fuga para evitar uma prisão que poderia levá-lo a passar até 30 anos na cadeia.

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A vice-presidente venezuelana Delcy Rodríguez declarou que o salvo-conduto foi emitido para garantir a "paz política". Segundo a Agência Brasil, a saída de González foi voluntária e negociada com a Espanha para evitar mais conflitos. No entanto, sua aliada, María Corina Machado, afirmou que a vida de González estava em perigo devido à "brutal onda de repressão" desencadeada pelo governo de Maduro.

O Departamento de Estado dos EUA condenou as ações do governo venezuelano e apoiou González. Em comunicado, o governo americano criticou o uso de repressão e intimidação por parte de Maduro e afirmou que "a vontade do povo venezuelano não pode ser ignorada". O Departamento de Estado garantiu que os EUA continuarão a trabalhar com a comunidade internacional para garantir a responsabilização do regime de Maduro e a restauração da democracia no país.

Com a fuga de González, a oposição venezuelana enfrenta um futuro incerto. María Corina Machado prometeu continuar a luta dentro da Venezuela, enquanto González conduzirá a resistência do exílio, conforme afirmou a Reuters. No entanto, o cenário político permanece instável, com a oposição enfraquecida e as ações de repressão do governo de Maduro, ainda fortemente apoiado pelas forças armadas.

Documento à Procuradoria

Em 4 de setembro de 2024, González encaminhou um documento à Procuradoria Geral da Venezuela em resposta à intimação para comparecer a uma "entrevista" sobre uma investigação que o acusa de envolvimento na publicação de uma página web com resultados eleitorais. González, que não compareceu às três convocações, justificou sua ausência afirmando que as acusações são infundadas e que a publicação dos registros eleitorais foi realizada por testemunhas credenciadas, não por ele. "Em qualquer caso, considero que as funções do Conselho Nacional Eleitoral não foram usurpadas", declarou, ressaltando que sua presença poderia "intensificar ainda mais a tensão social" em um contexto de perseguição política.

González também mencionou as declarações de altos funcionários do governo que o "condenam antecipadamente", o que, segundo ele, não colabora para a paz social e a justiça. Ele reafirmou seu compromisso com a legalidade e com os "quarenta dos meus setenta e cinco anos de vida dedicados ao serviço público", destacando que sua conduta sempre foi pautada pela busca da verdade. No final, fez um apelo ao Procurador-Geral para que o campo da política democrática seja ampliado, evitando a "judicialização penal" de questões que pertencem ao povo venezuelano.

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