Francês que dopava própria esposa para estupros ensinou amigo a fazer igual
Do UOL, em São Paulo
18/09/2024 11h22
O francês Dominique Pélicot, 71, que dopava a esposa Gisèle Pélicot e convidava estranhos para estuprá-la, tinha um "discípulo": Jean-Pierre Maréchal. O amigo não é acusado de participar dos abusos contra Gisèle, mas sim de usar o mesmo método contra a própria mulher, cuja identidade não foi divulgada.
O que aconteceu
Jean-Pierre, 63, conheceu Dominique em um bate-papo online. Os investigadores acreditam que o ex-motorista de caminhão usou a mesma técnica do amigo e drogou sua própria esposa para estuprá-la. Os crimes tiveram o envolvimento de Dominique, que forneceu sedativos e ainda viajou para também abusar da mulher de Jean-Pierre, de acordo com o jornal britânico The Guardian.
Relacionadas
Esposa de Jean-Pierre foi estuprada e fotografada 12 vezes. Os crimes aconteceram entre 2015 e 2020, e Jean-Pierre confessou. "O que fiz é espantoso, quero um castigo severo", disse o "discípulo" de Dominique nesta quarta-feira (18). Sua esposa não participa do julgamento porque "tem cinco filhos e queria protegê-los", segundo o investigador-chefe Stéphan Gal.
Filho diz acreditar que pai foi manipulado por Dominique. O homem de 32 anos, fruto do primeiro casamento de Jean-Pierre, defendeu que o pai fale ao tribunal. "As acusações são muito sérias, e acho que ele tem consciência disso", afirmou. "Tenho a convicção de que, se ele não tivesse conhecido essa pessoa [Dominique], nunca teria acontecido nada disso".
Na terça (17), Dominique Pélicot admitiu: 'Sou um estuprador'. Ele também afirmou que todos os outros 50 réus sabiam da situação de Gisèle e "não podem dizer o contrário''. ''Sou culpado pelo que fiz. Peço a minha esposa, aos meus filhos, ao meus netos, que aceitem as minhas desculpas. Peço perdão, mesmo que não seja aceitável'', completou.
Caso Pélicot
Crimes aconteceram ao longo de dez anos, entre 2011 e 2020. Dominique entrava em contato com homens pelo site coco.fr — já desativado — e marcava os encontros. No dia combinado, dava um ansiolítico forte à esposa e pedia que os estupradores não a acordassem. Segundo o marido, todos tinham ciência de que Gisèle havia sido drogada sem o seu consentimento.
Suspeitos não usavam preservativo na maioria das vezes. "Por um extraordinário golpe de sorte (...), [Gisèle] se livrou do HIV, da sífilis e da hepatite", declarou a especialista médica Anne Martinat Sainte-Beuve durante o julgamento, acrescentando que a vítima contraiu quatro infecções sexualmente transmissíveis. Nenhum dos acusados sofre de doenças psicológicas significativas.
Investigação identificou ao menos 92 estupros no período. Os crimes se intensificaram a partir de 2013, quando Dominique e Gisèle se mudaram de Paris para Mazan. Alguns dos acusados alegam que pensavam se tratar de um casal "libertino", o que foi negado pela vítima logo no início de seu depoimento. "Nunca fui cúmplice, nem fingi que estava dormindo", reforçou Gisèle.
Gisèle só soube dos crimes em 2020, após seu marido ser preso. Dominique havia sido flagrado em um shopping center filmando clientes por baixo de suas saias. Na ocasião, os investigadores encontraram em seus computadores, HDs e pen drives quase 4.000 fotos e vídeos da vítima, visivelmente inconsciente, enquanto dezenas de estranhos a estupravam.
Julgamento deve continuar até dezembro em Avignon. Os réus têm entre 26 e 74 anos, e 18 estão presos preventivamente.
Eu estava sendo estuprada, era uma selvageria. O trauma é imenso. (...) Tivemos três filhos lindos, sete netos, pensei que éramos um casal muito unido. Até nossos amigos diziam: 'Vocês são o casal ideal'. (...) Falo por todas estas mulheres que estão sendo drogadas e não sabem disso, em nome de todas estas mulheres que talvez nunca saibam (...), para que mais mulheres não tenham que sofrer.
Gisèle Pélicot, 72, vítima de uma série de estupros na França
Em caso de violência, denuncie
Ao presenciar um episódio de agressão contra mulheres no Brasil, ligue para 190 e denuncie.
Casos de violência doméstica são, na maior parte das vezes, cometidos por parceiros ou ex-companheiros das mulheres, mas a Lei Maria da Penha também pode ser aplicada em agressões cometidas por familiares.
Também é possível fazer denúncias pelo número 180 — Central de Atendimento à Mulher — e no Disque 100, que apura violações aos direitos humanos.
(Com AFP)