Como mensagem gravada resolveu mistério da morte de soldado 100 anos depois
Em 1918, dois fuzileiros navais americanos, Jim Scarbrough e Foster Stevens, lutaram lado a lado na batalha de Belleau Wood e em outras ofensivas decisivas da guerra. Um dos amigos não resistiu, mas as circunstâncias de sua morte permaneceram misteriosas —até que uma mensagem gravada ajudou a solucionar o caso.
Morte nas trincheiras
Foster Stevens morreu nas trincheiras. Em 2 de novembro de 1918, no último grande combate da guerra, as tropas americanas se preparavam para atacar, e Scarbrough e Stevens tomaram posições em trincheiras próximas. Durante um bombardeio intenso, um projétil caiu próximo ao local onde os dois amigos estavam e atingiu Stevens.
Para a família de Foster Stevens, as circunstâncias de sua morte permaneceram desconhecidas. A informação oficial era vaga, limitando-se a uma inscrição lacônica em uma placa abaixo de seu retrato: "Morto em ação, 1918".
A perda foi devastadora para sua irmã, Ina Stevens Warrick, que guardou o retrato de seu irmão como único vestígio de sua memória. Durante décadas, as respostas não chegaram.
Um século depois, uma série de descobertas inesperadas começaria a preencher essas lacunas. O jornalista Joby Warrick, do jornal americano The Washington Post, decidiu investigar o que aconteceu com Stevens. O soldado da Marinha americana era seu tio-avô, irmão mais velho de sua avó paterna. Uma reportagem escrita por ele ajudou a esclarecer o caso.
Em 2018, o jornalista começou uma busca pela França para entender melhor o que havia acontecido naquele fatídico dia. Consultou livros, historiadores e arquivos militares, e até visitou os campos de batalha onde o tio-avô lutou. Ele publicou um artigo no Washington Post sobre sua pesquisa, que chamou a atenção de um descendente do companheiro de batalha, Jim Scarbrough.
O neto de Jim Scarbrough, Byron, leu o artigo publicado no jornal e o conectou a uma história que tinha ouvido do avô. Durante boa parte de sua vida, Byron ouviu histórias de seu avô sobre a amizade com Foster Stevens, mas até então não sabia dos detalhes da morte de Stevens. Jim Scarbrough evitava falar sobre a guerra.
Na década de 1980, porém, o avô de Byron compartilhou memórias guardadas por muito tempo. Em uma das conversas gravadas, Scarbrough descreveu o último dia de Stevens, contando como havia tentado salvar o amigo e enterrado seu corpo naquela noite fria. Essa memória foi preservada e registrada em papel e fitas de áudio que ainda existiam décadas após a morte de Jim Scarbrough, em 1989.
Amizade e pacto
Jim Scarbrough, um trabalhador de fábrica de Ohio, e Foster Stevens, um jovem da Carolina do Norte, se tornaram amigos na guerra. Eles faziam parte da 83ª Companhia dos fuzileiros navais dos Estados Unidos, que esteve no epicentro da ofensiva contra as forças alemãs, em uma das batalhas mais sangrentas da Primeira Guerra Mundial, a Belleau Wood.
Jim Scarbrough lembrou um diálogo que teve com Stevens. "Nós vamos apenas passar por isso, eu e você", disse Stevens a Scarbrough em um momento de calmaria após uma investida militar.
No dia do ataque fatal, Scarbrough, ao se levantar, viu seu amigo jogado para fora da trincheira. Ele estava com os braços e as pernas em posições contorcidas.
Scarbrough contou que testemunhar a morte de Stevens foi devastador e o marcou para sempre. Ele tentou correr até Stevens, mas já era tarde. O projétil atingiu o amigo que morreu ali, nos últimos dias da guerra. Scarbrough, profundamente abalado, ainda passou a noite com o corpo de seu amigo, enterrando-o ao amanhecer.
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Quero receber"Eu o peguei. Fiquei sentado lá com ele a noite toda, tentando encontrar as palavras, sem saber o que dizer, como se ele pudesse me ouvir", disse Scarbrough. Na manhã seguinte, quando o sol nasceu, ele pegou uma pá.
Eu cavei uma cova para ele, desci e coloquei meu amigo. Jogar aquela primeira pá de terra nele me machucou mais do que jogar terra no rosto do meu próprio pai.
Jim Scarbrough
O relato de Scarbrough foi finalmente revelado para a família de Stevens. Byron Scarbrough, ao compartilhar essas memórias com a família Stevens, proporcionou a resolução de um mistério oculto por cem anos. "Ele sentiu que era muito importante me contar isso", disse Byron. "Foster era o melhor amigo do meu avô. Meu avô era meu melhor amigo", completou.
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