Enterro de 123 pessoas em catedral intriga cientistas: o que causou mortes?
Pesquisadores ficaram surpresos com a descoberta de um enterro coletivo de 123 pessoas, entre homens, mulheres e crianças. A descoberta foi feita durante escavações realizadas perto da Catedral de Leicester, na Inglaterra.
O que aconteceu
A descoberta faz parte do projeto Leicester Cathedral Revealed, iniciado há 12 anos, quando foram encontrados os restos mortais do rei Ricardo 3º nas proximidades da catedral. Desde então, novas escavações foram realizadas, levando à criação de um centro de patrimônio e aprendizagem nos jardins da catedral.
As escavações revelaram não apenas vestígios de práticas funerárias diversas, mas também sinais de ocupações anglo-saxônicas, romanas e até pré-históricas, com registros que remontam a mais de 15 mil anos. A catedral, construída há cerca de 900 anos sobre antigos assentamentos romanos, é um local de grande importância histórica.
O sepultamento em questão é datado do século 12: os corpos foram dispostos em três camadas, de maneira apressada e desordenada. A organização dos corpos, segundo o The Guardian, sugere que várias carroças transportaram os cadáveres e os depositaram no poço de forma sucessiva, uns sobre os outros.
O número de corpos encontrados também foi surpreendente. "Em termos de quantidade, essas pessoas podem ter representado cerca de 5% da população da cidade", explicou Mathew Morris, oficial de projeto nos serviços arqueológicos da Universidade de Leicester, ao The Guardian. "Embora outros enterros semelhantes tenham sido encontrados na região, este é o maior. Na verdade, é difícil encontrar comparações desse tipo em todo o país", completou.
Quais as hipóteses?
O sepultamento levanta questões sobre possíveis doenças que teriam afetado a população da época. "Seus ossos não apresentam sinais de violência, o que nos deixa com duas possíveis explicações para essas mortes: fome ou epidemia", disse Morris, em entrevista ao The Guardian.
No momento, nossa principal hipótese é a de que a causa tenha sido alguma doença contagiosa grave.
Mathew Morris
Os corpos podem ser de vítimas da peste bubônica, que devastou a Europa entre 1347 e 1351, matando entre 75 e 200 milhões de pessoas. "Inicialmente pensamos que esta seria a primeira evidência da peste negra chegando a Leicester", comentou o pesquisador.
A datação por radiocarbono dos ossos revelou, porém, que o enterro é mais antigo, datando do início do século 12, ou seja, mais de 150 anos antes da pandemia. "Não sabemos, neste momento, o que pode ter causado uma mortandade tão massiva. Até onde temos conhecimento, a peste bubônica não chegou às nossas costas até 1348. Então, qual teria sido a causa das mortes em massa que ocorreram naquela época?", questionou Morris.
Episódios de fome e inanição eram frequentes na Inglaterra entre os séculos 10 e 12, o que contribuía para altas taxas de mortalidade. "Este enterro em massa reflete o que acontecia em todo o país durante esse período e serve como uma evidência física de tais eventos", comentou Morris.
Atrás de mais pistas, os estudiosos consultaram registros históricos da época, que mencionam surtos de doenças que afetaram a população. Eles também enviaram amostras dos corpos encontrados nas covas para geneticistas do Instituto Francis Crick, em Londres. "Foi claramente um surto devastador, que remete a eventos recentes, especialmente à pandemia de covid", afirmou Morris.
Pesquisador diz haver indício de certo controle. "Mas também é importante destacar que ainda havia algum tipo de controle cívico em andamento. Havia alguém, por exemplo, andando em uma carroça para coletar os corpos. O que observamos ao estudar os corpos na cova não sugere que ela tenha sido criada em um momento de pânico."
Na verdade, há sinais de que os membros ainda estavam juntos, o que sugere que os corpos foram envoltos em mortalhas. Isso indica que suas famílias conseguiram preparar os corpos para o enterro antes que alguém de uma autoridade central os recolhessem e os levassem à cova.
Mathew Morris
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