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Fuga de Assad e novo governo: entenda as últimas 24 horas na Síria

População posa com pé em cima da estátua de Hafez al-Assad, pai de Bashar al-Assad Imagem: Getty Images/Getty Images

Do UOL, em São Paulo

08/12/2024 20h16Atualizada em 08/12/2024 20h16

Nas últimas 24 horas, a Síria viu o avanço de rebeldes sobre a capital Damasco — que tomaram o poder e lançaram um novo governo — e a fuga do ditador Bashar al-Assad para Moscou. Veja a cronologia:

Rebeldes tomaram a 3ª maior cidade da Síria e foram para Damasco

A ofensiva na Síria foi lançada pelos insurgentes em 27 de novembro. Eles assumiram rapidamente o controle de Aleppo, a segunda maior cidade do país, localizada no noroeste, e de Hama, no centro. Os radicais tomaram do governo o controle da província de Daraa, no sul.

Rebeldes sírios anunciaram na manhã de domingo (8; noite de sábado no Brasil) que obtiveram o controle total sobre Homs, a terceira maior cidade do país e localizada ao norte de Damasco. Ao mesmo tempo, eles avançaram pelo território.

A ação teria ocorrido depois que as forças de segurança deixaram Homs às pressas após queimar documentos, informou a Reuters. Prisioneiros foram soltos da penitenciária central de Homs. Na ocasião, o governo negou a tomada da cidade.

Um porta-voz de operações militares dos rebeldes sírios disse que, após Homs, eles seguiriam para Damasco. "Haverá uma nova Síria baseada na justiça. Não estamos enfrentando um exército de verdade, mas sim uma milícia", disse à Al Jazeera.

Tomada de Damasco e deposição de Assad

Por volta das 23h (de sábado, horário de Brasília; já domingo na Síria), as forças insurgentes anunciaram que entraram na capital. A ação teria ocorrido sem nenhum sinal de mobilização do exército. Ainda no sábado, eles disseram estar a 20 km de Damasco, mas o governo sírio havia dito que as suas forças de segurança estabeleceram um cordão "muito forte" ao redor da capital, chamando os relatos de campanha de desinformação.

Horas após a invasão, os rebeldes anunciaram a deposição do governo de Assad na Síria após 24 anos. Eles e apoiadores comemoraram e destruíram imagens e estátuas do presidente.

Soldado antigoverno segura arma enquanto mantém posição perto de um retrato desfigurado do presidente sírio deposto, Bashar al-Assad Imagem: Omar Haj Kadour/AFP

Mais um pôster de Bashar al-Assad danificado. Dessa vez, na cidade de Aleppo, no norte da Síria Imagem: Mahmoud Hassano/Reuters

Assad some e tem paradeiro descoberto horas após fuga

Rebeldes tomaram Damasco, capital da Síria Imagem: OMAR HAJ KADOUR/AFP

Bashar al-Assad fugiu do país de avião cargueiro na madrugada de domingo antes da chegada das forças opositoras. Aliada de Assad, a Rússia confirmou a renúncia e fuga do país, disse que o ditador sírio deu instruções para uma transferência pacífica de poder, mas negou participação nas negociações para a fuga e omitiu informações sobre o paradeiro de Assad.

Mais tarde, agências de notícias russas informaram que a Rússia concedeu asilo humanitário ao ditador e à família dele, e que eles estão na capital Moscou. Dados do Flightradar24 indicam que um voo da Syrian Air decolou do aeroporto de Damasco por volta das 2h, quando rebeldes tomavam a capital. A suspeita é de que Assad estaria a bordo do avião, que se dirigiu à região costeira da Síria, fez uma curva brusca no sentido oposto e desapareceu do mapa.

Residência do ditador é saqueada

A residência presidencial de Assad foi invadida e saqueada neste domingo após sua fuga, em um cenário de caos e euforia em Damasco. Segundo a BBC Internacional, o palácio onde residia o ditador teve objetos furtados e destruídos.

Centenas de pessoas foram vistas no local, muitas delas entrando para conhecer um espaço que antes tinha o acesso proibido. A repórter Lina Sinjab relatou que "muitas pessoas, vindas de áreas rurais, invadiram o palácio e quase o esvaziaram, destruindo tudo".

Sala revirada no palácio residencial Tishrin, do presidente deposto da Síria Imagem: Omar Haj Kadour/AFP

Tentativa de controle pelos rebeldes. O grupo rebelde HTS (Hayat Tahrir al-Sham (Organização para a Libertação do Levante, em tradução livre), que liderou a ofensiva contra o regime, enviou combatentes ao local para tentar conter os saques e disse que a ação era inaceitável.

Jovem passa por um incêndio em uma sala do palácio residencial Tishrin Imagem: Omar Haj Kadour/AFP

Líder rebelde fala em 'vitória para a nação islâmica'

Horas após conquistar Damasco, o líder rebelde Abu Mohammed al-Jolani, 42, fez sua primeira aparição pública na Mesquita Omíada, um marco da cidade. Ao chegar à capital, ele se prostrou e beijou o chão, segundo anunciou a coligação rebelde em sua conta no Telegram.

Abu Mohammed al-Jolani em primeiro discurso após queda de Assad Imagem: Mahmoud Hassano/Reuters

Ao se dirigir aos aliados, usou seu nome verdadeiro, não o de guerra. O líder falou como Ahmed Hussein al-Shara e disse às centenas de pessoas que Assad havia feito da Síria "uma fazenda para a ganância do Irã".

"Uma nova história, meus irmãos, está sendo escrita em toda a região após esta grande vitória", disse. Jolani acrescentou que será preciso muito trabalho para construir uma nova Síria, que ele declarou que será "um farol para a nação islâmica".

Novo governo faz promessas

O novo governo da Síria prometeu construir um "estado livre, justo e democrático" e não perseguir cidadãos, independentemente da filiação que tenham. Como informou o colunista do UOL Jamil Chade, a transição indica que levará os autores de anos de repressão à Justiça.

A mensagem foi repassada em primeiro comunicado emitido pelo novo Conselho Nacional de Transição da Síria, composto depois da queda de Assad. Eles informaram aos "filhos livres da Síria" que, "após longos anos de injustiça, tirania e opressão, e após grandes sacrifícios feitos pelos filhos e filhas desta querida pátria, anunciamos hoje ao grande povo sírio e ao mundo inteiro que o regime de Bashar al-Assad caiu e que ele fugiu do país, deixando para trás um legado de destruição e sofrimento".

Rebeldes chamaram este domingo de "dia histórico" e pediram que o povo sírio siga unido, já que o país "não será monopólio de ninguém, mas uma pátria para todos". "Anunciamos que as forças da revolução e da oposição assumiram o controle dos assuntos na amada Síria e afirmamos nosso compromisso de construir um estado livre, justo e democrático no qual todos os cidadãos sejam iguais, sem discriminação."

O grupo apresentou as seguintes promessas:

  1. Preservar a unidade e a soberania do território sírio;
  2. Proteger todos os cidadãos e suas propriedades, independentemente de suas afiliações;
  3. Trabalhar para reconstruir o Estado e suas instituições com base na liberdade e na justiça;
  4. Esforçar-se para alcançar uma reconciliação nacional abrangente e retornar os refugiados e pessoas deslocadas para suas casas com segurança e dignidade;
  5. Responsabilizar todos aqueles que cometeram crimes contra o povo sírio, de acordo com a lei e a justiça.

(Com AFP, Reuters, e informações de Associated Press)

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