Torre de tortura e crematório: a prisão síria chamada de 'matadouro humano'
Após a queda do governo de Bashar al-Assad, centenas de pessoas se dirigiram a Sednaya, a prisão secreta a cerca de 30 km de Damasco, na Síria, conhecida como um símbolo de opressão e tortura durante o regime.
A esperança dessas pessoas é encontrar familiares desaparecidos no local. Por anos, o interior da prisão foi um mistério, conhecido apenas por relatos de sobreviventes e guardas.
Agora, pela primeira vez imagens do local foram divulgadas, revelando detalhes das celas e da estrutura antes inacessível. Um grupo de investigadores procura compartimentos secretos na prisão, segundo a BBC.
Como era a prisão considerada 'matadouro humano'
Prisão foi considerada 'matadouro humano'. A prisão de Sednaya foi apelidada de "matadouro humano" pela Anistia Internacional, devido à brutalidade de suas práticas, o termo foi publicado pela primeira vez pela entidade em 2017.
Milhares de pessoas morreram no local. Durante a guerra civil síria (2011-2020), estima-se que 30.000 pessoas tenham sido mortas no local, mais do que em qualquer outra instalação prisional, segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos.
Enforcamentos semanais. Relatórios da Anistia Internacional apontam que grupos de até 50 prisioneiros eram enforcados semanalmente, sempre durante a madrugada, em um processo sistemático e sigiloso.
Condenados à morte tinham julgamento em poucos minutos. De acordo com reportagem do The Guardian, as vítimas eram condenadas em julgamentos sumários e, posteriormente, registradas como mortas por causas naturais, como insuficiência cardíaca ou respiratória. Seus corpos eram armazenados em "salas de sal" antes de serem enterrados em valas comuns.
Fortemente protegida com minas contra tanques de guerra. A instalação era rodeada por minas antitanque e contra pessoas, além de contar com um contingente de 450 soldados, segundo um relatório de 2022 da Associação de Detentos e Desaparecidos da Prisão de Sednaya (ADMSP).
Local tinha 'torre de tortura'. Torres de guarda e arame farpado completavam o cenário de segurança extrema, enquanto o interior abrigava alas como o "Edifício Vermelho", conhecido por sua forma em Y e pelas práticas de tortura aplicadas ali.
Técnicas de tortura projetadas na arquitetura
Relatos de sobreviventes e guardas descrevem o uso de métodos brutais para infligir sofrimento físico e psicológico. Prisioneiros eram submetidos a espancamentos severos, privação de alimentos e medicamentos, e condições de isolamento extremo.
Segundo um relatório da Anistia Internacional, os sons da tortura reverberavam por toda a estrutura da prisão, criando uma atmosfera de desespero compartilhado.
"A tortura era constante, e o silêncio imposto tornava o sofrimento coletivo. Quando uma pessoa era torturada, todos sentiam como se estivessem sendo torturados também, pois o som atravessava as saídas de ar e os canos de água", explicou Lawrence Abu Hamdan, investigador de áudio do projeto da Forensic Architecture em entrevista ao The Guardian.
O projeto do grupo que Abu Hamdan faz parte tentou recriar o interior da prisão em 2016 com a ajuda do relato de sobreviventes.
Imagens de satélite revelaram crematório
A prisão de Sednaya permaneceu um mistério até que, em 2017, imagens de satélite começaram a revelar detalhes de sua estrutura.
Segundo a BBC, as imagens mostraram um prédio suspeito de abrigar um crematório, onde restos mortais de prisioneiros eram descartados. Investigadores americanos sugeriram que neve derretida no telhado do edifício corroborava as alegações de altas temperaturas, compatíveis com um crematório.
De acordo com a BBC, novas filmagens feitas após a queda do regime e que circulam na mídia, revelaram salas de vigilância e equipamentos de monitoramento, indicando o controle rigoroso exercido sobre os prisioneiros. As imagens foram verificadas pelo sistema de autenticidade da emissora
Estima-se que, entre 2018 e 2021, pelo menos 500 pessoas tenham sido executadas, mesmo após o declínio da guerra civil.
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